Desatar os nós deixados por Álvaro Uribe
O ex-presidente da Colômbia, Álvaro Uribe, volta a frequentar a mesma planície habitada pelos cidadãos comuns de seu país e […]
Publicado 10/08/2010 17:17
O ex-presidente da Colômbia, Álvaro Uribe, volta a frequentar a mesma planície habitada pelos cidadãos comuns de seu país e nela enfrenta problemas semelhantes àqueles dos chefões do narcotráfico: escondendo-se em fortalezas e procurando blindar-se contra processos judiciais.
Na véspera da passagem da direção do país ao novo presidente, Juan Manuel Santos, Uribe trocou a Casa de Nariño, sede do governo colombiano, pela sede da Direção Nacional de Inteligência (a CIA colombiana, que é um quartel fortemente protegido). Uribe alega temer por sua segurança e a de seus familiares, que poderiam ser alvos de ataques de adversários à direita e à esquerda. Mas há outra razão, talvez mais forte: ele quer fugir da ameaça de processos por crimes cometidos na repressão ao povo quando esteve na presidência do país. No final do governo, Uribe tentou ampliar a imunidade judicial de ex-presidentes mas a Comissão de Acusações, uma instância judicial colombiana, não acatou suas pretensões.
Ele tem o que temer: o ex-presidente, e fiel cão de guarda do imperialismo norte-americano na América do Sul, acumulou acusações que vão desde o incentivo e tolerância a assassinatos de guerrilheiros e camponeses até envolvimento de familiares seus com os chefões dos cartéis da cocaína na Colômbia.
Com a posse do novo presidente, o mundo de Uribe parece ruir, aumentando a esperança de paz e de cooperação entre os países da América do Sul. Embora conservador e eleito como seguidor de Uribe (de quem foi ministro da Defesa, entre 2006 a 2009) Santos da sinais de seguir outra cartilha e já em seu primeiro pronunciamento como presidente da República declarou preferir ser antes diplomata do que soldado. Suas primeiras iniciativas apontam nesse sentido. Em primeiro lugar, e na direção oposta da política de Uribe no apagar das luzes de seu governo, Santos convidou pessoalmente o presidente da Venezuela, Hugo Chavez, para estar presente em sua posse. Chavez não compareceu mas delegou a representação a seu ministro de Relações Exteriores, Nicolás Maduro – que acertou o encontro entre os presidentes Santos e Chavez, que ocorre nesta terça-feira (10) na cidade colombiana de Santa Marta. Outra iniciativa que merece registro foi a entrega ao governo do Equador, logo depois da posse, do computador pessoal do dirigente da Farc Raul Reyes, morto no ataque do exército colombiano contra o território equatoriano em 2008.
São eventos carregados de simbolismo. Eles podem criar uma situação propícia a desatar o nó que Uribe queria apertar contra a Venezuela quando, nas últimas semanas de seu mandato, denunciou à OEA que o governo de Hugo Chavez protegia guerrilheiros da Farc em seu território. A reação venezuelana foi romper relações diplomáticas com o governo de Bogotá, denunciar a agressividade belicista de Uribe a serviço dos EUA, e resistir a ela. A intenção do ex-presidente era clara: forçar seu sucessor a manter contra a Venezuela a mesma tensão que marcou todo o seu governo, com a ameaça de apuração internacional daquela acusação na OEA ou no Tribunal Penal Internacional.
O aceno de reaproximação com o governo de Caracas, abre a possibilidade de diminuir a tensão e desmanchar as pretensões de Uribe.
O fim do governo de Uribe pode significar a eliminação de um fator de instabilidade e de insegurança na América do Sul. A pauta da reunião de hoje em Santa Marta alimenta esperanças nesse sentido. Santos leva para a mesa de negociações as acusações feitas por Uribe de proteção aos guerrilheiros pelo governo de Caracas; vai se contrapor à oposição sul americana, representada naquela reunião por Chavez, à instalação de bases militares dos EUA na Colômbia. E há, correndo em paralelo, a proposta da Farc de encontrar uma saída política para o conflito e a disposição de negociar com o novo governo.
Com a saída de Uribe um novo jogo se arma na América do Sul, favorecendo o entendimento e a negociação. O continente tem a expectativa de que o novo governo colombiano cumpra a promessa de "diálogo franco e direto com a Venezuela”.