Fora, Bolsonaro!

A apresentação do chamado superpedido de impeachment contra Jair Bolsonaro na Câmara dos Deputados, nesta quarta-feira (30), pode deflagrar uma fase decisiva da luta para conter a marcha da extrema direita. A ação reúne mais de 100 pedidos de organizações do movimento popular, partidos políticos e personalidades de um amplo espectro político e social.

Há muitas razões para justificar o afastamento de Bolsonaro, a começar pelas que estão mais relacionados à conduta irresponsável do governo quanto à pandemia da Covid-19. Depois de atacar a vacina e menosprezador sua importância, protelou a aquisição do imunizante. Enquanto isso, foi o único governante no mundo a estimular o uso de Cloroquina e a pôr a máquina governamental para produzir e adquirir o medicamento desaconselhado pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Por fim, surgiram as denúncias de corrupção para a aquisição da vacina indiana Covaxin.

O superpedido tem uma extensa lista de crimes atribuídos a Bolsonaro. O rigor na apuração certamente resultará na constatação cabal de que seu governo perdeu a razão de ser, de continuar praticando atos de barbárie contra a nação e o povo. E tende a elevar ainda mais a temperatura política no país, já próxima da ebulição como demonstra o ambiente desfavorável a Bolsonaro, revelado pelas pesquisas. Seu isolamento crescente chega à sua base política e aos seus eleitores, ao passo que ganha cada vez mais força a mobilização social, como demonstra a realização de duas grandes manifestações (M29 e J19) e a convocação de uma terceira para o próximo sábado (J3).

Nesse contexto, é preciso reforçar o pedido de impeachment e a necessidade de uma frente ampla para pôr fim ao governo Bolsonaro. Entre os atos atentatórios de Bolsonaro estão: atacar as instituições e aos demais poderes da República; utilizar órgãos públicos em seus favor, de seus familiares e amigos; estimular e provocar animosidades contra outras nações; desrespeito à liberdade de expressão e agressões à jornalistas e veículos de comunicação; não oferecer apoio suficiente aos trabalhadores, empresas, estados e municípios durante a pandemia de Covid-19, além de confrontar, irresponsavelmente as medidas e recomendações das instituições médicas e científicas ao longo de toda a crise sanitária que já perdura quase um ano e meio. É importante enfatizar que tudo o que ele faz e proclama como intenção se relaciona ao seu projeto de poder. Sua ideologia representa a sobrevivência de um pensamento que não despreza as regras do Estado Democrático de Direito, um comportamento político que tem no autoritarismo a base para governar.

Em um cenário de crise grave do capitalismo, que atinge os países da periferia com mais intensidade, esse pensamento tende a ganhar espaço e, consequentemente, ousa marchar contra as instituições democráticas. Com a falsa promessa de tirar o país da crise sem mexer em seus mecanismos de sustentação, resta o caminho da agressão aos que se opõem a esse projeto autoritário, manual seguido à risca por Bolsonaro. Os resultados são absolutamente previsíveis, como demonstram os ciclos em que o Brasil se viu submetidos a políticas de Estado de exceção, em especial a ditadura militar.

Além do autoritarismo, esse projeto de poder representa a destruição da nação. Na atual conjuntura, ele procura se assentar no leito da crise do projeto neoliberal, impondo verdadeiros atentados à soberania nacional e à regência do Estado pela Constituição. Numa definição: o bolsonarismo representa a destruição do país, com o entreguismo e a corrupção, e, na mesma proporção, uma ameaça à democracia. São constatações que estão na essência do superpedido de impeachment.