Golpe na democracia faz aumentar a miséria no Brasil
Não foi sem razão que os pensadores clássicos que estudaram a produção material dos homens chamaram esta ciência de economia […]
Publicado 14/04/2018 16:49
Não foi sem razão que os pensadores clássicos que estudaram a produção material dos homens chamaram esta ciência de economia política. Designação que indica a relação necessária existente entre as condições da produção e a distribuição dos bens produzidos. Que são relações basicamente políticas e decorrem da correlação de força entre os diferentes grupos humanos e seu poder para abocanhar sua parte da produção social.
A ligação íntima entre economia e política observada em toda nação ajuda a entender a tragédia vivida pelos brasileiros desde a emergência do golpe de 2016 e a submissão do poder à hegemonia exclusiva das forças do chamado “mercado”. Isto é, do grande capital especulativo que sobrevive e se reproduz no sistema de dívida que só beneficia a ganância da especulação financeira e lhe permite se apoderar de fatias himalaicas dos recursos públicos.
As estatísticas divulgadas recentemente pelo IBGE mostram que o país empobreceu sob o comando golpista. Elas mostram, por exemplo, que a quantidade de pessoas em situação de extrema pobreza que chegou a 13,34 milhões em 2016, passou para 14,83 milhões em 2017 – isto é, em um ano 1.49 milhão de brasileiros foram postos na situação de miséria.
Este é o reflexo mais perverso da restritiva e recessiva política econômica imposta pelo governo golpista de Michel Temer e seu czar da economia, Henrique Meirelles. Sob cujo comando o governo golpista impôs, desde seus primeiros momentos, em 12 de maio de 2016, um implacável corte dos investimentos públicos na economia e em áreas sociais como a educação, saúde, infraestrutura – cortes impostos pela Emenda Constitucional 95, que limitou o teto dos gastos nos próximos 20 anos.
A recessão que o país vive, acentuada desde o golpe de 2016, é resultado desta rapina dos recursos públicos, e leva à paralisia econômica, ao desemprego e ao arrocho nos salários.
As estatísticas mostram o enorme aumento da desigualdade social. Enquanto cresce a pobreza da maioria do povo, os privilegiados do topo da sociedade – o 1% mais rico – vê a fatia de sua riqueza crescer. Em 2017, estes abastados ganhavam em média 36,1 vezes mais do que os 50% mais pobres.
Em 2017, a renda média dos brasileiros foi de R$ 2.112,00, menor do que a média de R$ 2.124,00 de 2016. A situação dos 4,5 milhões de trabalhadores mais pobres – 5% do total dos trabalhadores – era ainda pior, e sua renda média caiu dos exíguos R$ 76,00 em 2016, para R$ 47,00 no ano passado.
Segundo o diretor do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), Clemente Ganz, os mais ricos se beneficiaram sobretudo dos ganhos obtidos com a “remuneração que recebem pela dívida pública e por tudo que têm de recursos aplicados no sistema financeiro” Isto é, são favorecidos diretamente pela política econômica restritiva que o governo ilegítimo de Michel Temer impôs aos brasileiros.
A ligação íntima entre economia e política é aqui revelada, de forma inequívoca. Num país cuja população empobrece, o mercado interno míngua, a indústria fenece, e não pode haver crescimento econômico. Não há desenvolvimento na pobreza. Por mais que os ventríloquos da ganância especulativa tentem comemorar, na mídia patronal, coisas como a inflação baixa (que, em março, foi a menor desde 1984). É a paz dos cemitérios, o termômetro que indica a paralisia econômica, ao contrário do que dizem os apologistas do golpe e do financismo.
A conjuntura brasileira recente é uma forte demonstração de que a política e a economia andam de mãos dadas. A fúria golpista em desmontar o Estado brasileiro e cortar os gastos do governo para garantir o pagamento de juros à ganância especulativa (apresentada como “economia”) é irmã gêmea do raivoso ímpeto punitivista que, na pessoa do ex-presidente Lula, encarcerou a democracia brasileira.
Política e economia andam ombro a ombro. O objetivo de afastar qualquer chance de controle progressista sobre o governo federal é eliminar qualquer ameaça contra o ultraliberalismo que comanda a política econômica.
Os apologistas do golpe de 2016 tentam a todo custo enfiar goela abaixo do país a ideia de que há uma recuperação econômica em curso. Não há. A retomada da economia depende da derrota dos golpistas e da retomada da legalidade e do Estado Democrático de Direito. Este é o sentido da tarefa colocada para todos os democratas, progressistas e desenvolvimentistas em nosso país.