Lula: crescer, acelerar, incluir

No discurso de posse que pronunciou no Congresso Nacional, em 1o. de janeiro, o presidente Lula delineou o programa para o segundo mandato e fez uma importante – e corajosa – demarcação de campo com o programa da oposição neoliberal, rejeitado nas urnas em outubro, repúdio popular que confirmou a opção feita em 2002. Com mais clareza, pois a polarização do segundo turno da eleição do ano passado foi justamente aquela que rejeitou as privatizações e a “modernização” conservadora dos tucanos e sua opção pelos ricos.



O presidente Lula foi claro: o nome de seu segundo mandato será desenvolvimento, e seu governo jogará toda sua força e influência para alcançar patamares mais altos de crescimento econômico, valorização do trabalho, distribuição de renda e melhoria da educação.



Sem disfarces, Lula reconheceu que “o Brasil ainda é igual, infelizmente, na permanência de injustiças contra as camadas mais pobres”, disse, embora reconhecendo que o país melhorou durante o primeiro mandato, “na erradicação da fome, na diminuição da desigualdade e do desemprego”. A renda ainda é baixa, e o trabalhador “ainda não ganha o que realmente merece”, embora tenhamos alcançado “um dos mais altos salários mínimos das últimas décadas, e os trabalhadores obtiveram ganhos reais em 90% das negociações salariais nestes últimos quatro anos”.



E a conclusão deste raciocínio foi uma tomada de posição clara: “Governar para todos é meu caminho, mas defender os interesses dos mais pobres é o que nos guia nesta caminhada.” Não fui reeleito, disse, “para ouvir a velha e conformista ladainha segundo a qual tudo é muito difícil, quase impossível, que só pode ser conquistado numa lentidão secular. Quatro anos atrás eu disse que o verbo mudar iria reger o nosso governo. E o Brasil mudou.”



Mas precisa mudar mais, reconheceu o presidente. “Hoje, digo que os verbos acelerar, crescer e incluir vão reger o Brasil nestes próximos quatro anos”, sem esquecer as imposições da responsabilidade fiscal que, pensa Lula, precisam ser combinadas com “mudanças de postura e ousadia na criação de novas oportunidades para o país”.



É uma tomada de posição que vai provocar urticárias na elite, na oposição neoliberal e naqueles que vêem apenas a lógica do capital e suas necessidades. Aliás, já está provocando: o editorial de O Estado de S. Paulo de 2 de janeiro apontou no rumo das críticas que certamente virão, animadas pela mesma ladainha antidesenvolvimentista de sempre: o segundo mandato de Lula começa, na opinião do jornalão conservador, “com tudo preparado para uma gastança maior que a dos últimos quatro anos”. É uma opinião conservadora que não disfarça seu alvo principal: “gastança”, para o jornal, é a valorização do salário mínimo (que este ano vai a 380 reais, ou 178 dólares segundo a taxa de hoje, mais do que o dobro do valor em dólar sob Fernando Henrique Cardoso, quando ficou na média de 80  dólares). O outro problema, pensam os escribas da família Mesquita, proprietária de O Estado de S. Paulo, é a reforma da Previdência, este prato de resistência dos conservadores para o controle dos gastos públicos. Sobre a diminuição dos lucros do capital e seus privilégios, nenhuma palavra…
 


O discurso de posse do presidente recoloca a busca do crescimento econômico dentro de uma perspectiva que havia sido abandonada desde o início da década de 1990 e do predomínio neoliberal e de seu receituário de caderneta de dono de botequim, mesquinho e limitado. É necessário, disse Lula, que o “crescimento esteja inserido em uma visão estratégica de desenvolvimento que nosso país havia perdido. Sei que o investimento público não pode, sozinho, garantir o crescimento”.  E, neste ponto, reafirma uma convicção que bate de frente com os dogmas neoliberais: o Estado e o governo terão papel fundamental para fomentar o desenvolvimento. O investimento público, disse, “é decisivo para estimular e mesmo ordenar o investimento privado”. São as duas colunas que, “articuladas, são capazes de dar grande impulso a qualquer projeto de crescimento”.



A conseqüência destes argumentos veio a seguir, com a notícia do lançamento, já em janeiro, de “um conjunto de medidas, englobadas no Programa de Aceleração do Crescimento, o PAC”.



O cenário está delineado. Respondendo de forma direta e clara às críticas costumeiras da oposição neoliberal, e que poderão crescer, Lula acentuou a demarcação de campos: meu governo não é populista, mas popular, garantiu. É uma indicação importante para o país e para os brasileiros. Este governo tem rumo e objetivos – este é o subtexto nítido das palavras do presidente. E, apesar de todo o esperado esperneio da elite e dos conservadores, vai aprofundar e acelerar as mudanças.



O discurso do presidente indica a vontade de levar o Brasil e os brasileiros ao reencontro de sua vocação de crescimento econômico, bem estar social e afirmação da soberania nacional. Vai chocarse com resistências, como toda a história republicana demonstra e o primeiro mandato do presidente Lula deixou claro. As forças conservadoras e neoliberais vão, como sempre fizeram, criar obstáculos para a afirmação nacional e para a busca do bem estar dos brasileiros.



Mas nunca o Brasil reuniu tantas condições sociais, políticas e econômicas para derrotá-las. O desenvolvimento vai se tornando um clamor nacional, e Lula – com seu discurso de posse – apresentou suas credenciais para dirigir essa busca por um país melhor para todos. E tem a seu lado, para isso, a força do povo.