Meirelles deve sair
A crise mundial do capitalismo que eclodiu em Wall Street exige que o governo Lula se depure dos resíduos neoliberais […]
Publicado 11/11/2008 14:32
A crise mundial do capitalismo que eclodiu em Wall Street exige que o governo Lula se depure dos resíduos neoliberais que persistem na política macroeconômica. Esses resíduos se concentram na orientação do Banco Central (BC). O presidente do BC, Henrique Meirelles, com a crise perdeu qualquer condição de permanecer no cargo.
Vem de longe a divergência entre a linha geral da administração democrático progressista de Lula e a linha macroeconômica própria do BC de Meirelles. Ela gerou dentro do governo uma luta incessante, ora enrustida, ora explícita, entre ''desenvolvimentistas'' e ''ortodoxos''.
Desde o início essa incoerência foi nociva; hoje, tornou-se insuportável.
O símbolo maior da orientação meirellista é a política de juros altos do Copom, com sua idéia fixa na meta inflacionária, que supostamente proibiria o Brasil de crescer mais que 3% ao ano. Em nome dessa crença fundamentalista, pisoteia os interesses e reclamos da produção, do emprego, da renda e consumo dos brasileiros.
Em todas as suas 59 reuniões deste Comitê subordinado ao BC e presidido por Meirelles, as decisões desapontaram, quando não indignaram, desde os trabalhadores até os empresários da economia real. Com razão o vice-presidente José Alencar está há seis anos em campanha contra a agiotagem dos juros.
Agora, porém, há agravantes. A conduta do BC chega a escandalizar.
Face à crise que se alastra das finanças e do crédito para a produção, o emprego e a vida das pessoas, os bancos centrais do mundo cortam suas taxas de juros básicos na tentativa de oxigenar a economia. Até o México – vítima como o Brasil do fundamentalismo neoliberal – curva-se a esta imposição da realidade.
Já o BC do Brasil, impávido, no último dia 29 manteve a Selic entre os níveis reais mais altos do planeta. Henrique Meirelles age como se fosse o sacerdote de uma seita em extinção, a recitar sua ladainha sem nexo numa língua que ninguém mais fala.
A grita contra a ortodoxia meirellista é do conhecimento do presidente Lula. Até hoje o presidente preferiu manter Meirelles. E ainda deu ao BC uma autonomia na prática que faz dele uma excrescência no organismo executivo. Às vezes ficou a impressão de que o próprio Lula se chocava com certas decisões do BC. Ainda se a indulgência presidencial pudesse ter lá seus motivos, no passado, estes empalidecem diante do cenário econômico presente.
A crise, diz a sabedoria chinesa, acarreta perigos e oportunidades. Uma grande crise traz grandes perigos mas também grandes oportunidades. O Brasil sabe disso: foi durante a depressão dos anos 30 que fizemos uma revolução, lançamos um projeto nacional-industrialista e trouxemos o país para o século 20.
Mas a condição para fazer da crise atual uma oportunidade é vontade política. No Brasil de 2008 isto implica em ajustar as contas com a incoerência representada pela permanência de um /bunker/ neoliberal no interior do governo. Meirelles, representante impenitente de outra concepção e outra política, precisa sair do BC. Já terá ido tarde.