Meninos condenados à morte

A veiculação do documentário “Falcão—meninos do tráfico”, no último domingo, no decorrer do programa Fantástico da rede Globo, trouxe ao colo de milhões de famílias a tragédia de nossos meninos e meninas condenadas ao crime e à morte. A tragédia é por demais conhecida, mas contada pelos próprios “condenados” demonstra a quem duvidava que “os monstros” demonizados pela crônica policial são crianças e adolescentes triturados pela miséria e transformados por ela em peças frágeis e descartáveis do crime.

O documentário deve ter provocado, sobretudo aos milhões que não têm contato, com a periferia e os morros das cidades, um mal-estar, um incômodo. Muitos devem ter criticado a emissora, por terem lhes “estragado a noite de domingo”.

“Falcão”, foi produzido pelo núcleo de audiovisual da Central Única das Favelas e realizado pelo rapper MV Bill e pelo produtor cultural de Hip hop Celso Atayde, ambos com vivência nas favelas. Atayde deu entrevista afirmando que documentário alerta para o fato de que “caos já chegou” e MV Bill, por sua vez, diz que a tragédia ter quer ser enfrentada com educação, cultura, oportunidade e igualdade.

De fato, o capitalismo contemporâneo ameaça o Planeta com “o caos”— ou barbárie na conceituação da ciência política— e não é exagero afirmar de que ele já chegou para parcelas da humanidade. O capitalismo, com seus paradoxos, tanto constrói riqueza quanto a concentra, esbanja avanços técnico-científicos ao mesmo tempo em que exclui os trabalhadores do processo produtivo. Espalha a miséria, pisoteia a soberania dos povos, fere a paz mundial, invade países com suas velhas guerras de ocupação e pilhagem. Destrói de modo cruel milhões seres humanos, sobretudo os filhos do povo, e fere, irracionalmente, a natureza.

Os falcões de que fala o documentário são as sentinelas do tráfico. Em pontos estratégicos dos morros são os olhos e os ouvidos dos criminosos. Uns têm 12 outros têm 15 anos, mas o certo é que estarão todos mortos antes do 20. Esse caos, ou essa barbárie, como se queira, se espalha pelos continentes, inclusive no dito “Primeiro Mundo” onde, também, são cada vez maiores os bolsões urbanos de miséria e violência.

Tais iniqüidades fazem crescer em muitos países a consciência de que outro mundo é necessário “e possível”. Dessa maneira, no curso desse início do Século XXI vai se insurgindo uma nova luta pelo socialismo, um socialismo rejuvenescido e renovado, como alternativa a um sistema no qual suas próprias estatísticas proclamam que o crime é o quarto negócio mais volumoso e rentável.

Que para além da indignação, a tragédia de nossos meninos e meninas alcunhadas de “falcões”  (na verdade passarinhos abatidos no primeiro vôo) alargue o contingente daqueles que, agora e já, se engajam na luta social e política para construir e conquistar um Brasil socialista onde nosso povo tenha a vida digna que tanto merece.