Mídia investe contra os movimentos sociais
Publicado 11/03/2009 12:15
Numa operação que parece orquestrada, a mídia hegemônica deflagrou nos últimos dias violenta ofensiva contra os movimentos sociais. Cada veículo escolheu seu alvo e bateu pesado. A Folha, que trata a ditadura militar de ''branda'', atacou o sindicalismo, concluído que ele está ''atrelado ao governo'' e ''enferrujado''. Correio Braziliense e Estadão destilaram veneno contra a UNE. E todos os meios privados se somaram no ódio aos líderes do Movimento dos Sem-Terra. ''Eles invadem e também matam'', esbravejou a Veja, que rotula o MST de ''bando de delinqüentes''.
Vários fatores explicam a nova ofensiva. Como principal ''partido do capital'', a mídia se mostra atordoada com a popularidade de Lula e teme que ele consiga eleger seu sucessor (ou sucessora) em 2010. A mídia, que foi contra sua eleição, advogou o impeachment do presidente e tentou evitar a sua reeleição, não engole a idéia da continuidade do atual bloco no poder. Ao criminalizar os movimentos sociais, ela visa fragilizar essa ativa base de apoio. A ofensiva também tem caráter preventivo. Ela teme que, com o agravamento da crise mundial, as lutas sociais se intensifiquem.
A ofensiva midiática tem dois objetivos básicos: intimidar os movimentos sociais, colocando-os na defensiva, e cravar uma cunha em sua relação com o governo Lula. Jornalões e emissoras de televisão tentam, de todas as formas, desqualificar as lutas dos trabalhadores contra as demissões e o terror patronal, a ação dos estudantes por mais verbas na educação pública e as ocupações de terras ociosas e griladas. Para a mídia comercial, que expressa os interesses do capital, é preciso criminalizar os movimentos sociais, jogar a polícia contra eles e prender seus líderes. Nada de ''ditabranda'': é urgente ser duro e implacável, como fizeram os tucanos e Fernando Henrique Cardoso no seu longo e calamitoso período de oito anos na presidência da República.
Com esse objetivo espúrio, a direita tenta asfixiar financeiramente as entidades populares para inviabilizar suas ações. Não é para menos que o principal mote dos ataques são os recursos públicos destinados às iniciativas civilizadoras dos movimentos sociais. As declarações despropositadas do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Gilmar Mendes, de que ''o financiamento público de movimentos que cometem ilícitos é ilegal, é ilegítimo'', serviram para atiçar o apetite direitista da mídia hegemônica. Entidades ligadas à luta pela reforma agrária, como a Associação Nacional de Cooperação Agrícola (Anca), já tiveram seus bens bloqueados. A UNE também está no alvo.
A ofensiva midiática, porém, não deve intimidar os movimentos sociais. A presidente da UNE, Lucia Stumpf, reagiu de forma corajosa: ''nossa entidade, assim como qualquer organização civil, tem toda a legitimidade para pleitear verbas públicas e o faz com toda a responsabilidade e dentro dos parâmetros legais''. No mesmo rumo, João Paulo Rodrigues, membro da coordenação nacional do MST, rechaçou os ataques da mídia e do presidente do STF. Evitando o isolamento e as armadilhas da direita, os movimentos sociais têm muito a contribuir no enfrentamento da grave crise econômica e na luta pela definição dos rumos políticos do Brasil.