Na Ucrânia, potências imperialistas recorrem ao fascismo
Nas últimas semanas, a atenção internacional volta-se à Ucrânia, não apenas para a análise de um governo golpista, respaldado pelo […]
Publicado 16/04/2014 16:09
Nas últimas semanas, a atenção internacional volta-se à Ucrânia, não apenas para a análise de um governo golpista, respaldado pelo Ocidente, e de suas consequências na fragmentação do país. O Leste europeu revive situações de confronto, que a grande mídia internacional, pautada pelos discursos oficiais dos Estados Unidos e da União Europeia (UE), chama de nova Guerra Fria, para retratar mais este episódio de ingerência e manipulação ocidental de uma nova crise política.
As potências encontram espaço amplo para justificar a mobilização da sua máquina de guerra, a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), às portas da Rússia. Quem não superou, ideológica e oportunistamente, a lógica da Guerra Fria, foi a aliança imperialista. Afinal, é esta a imagem simbólica e politizada que a mantém viva, em um período em que as justificativas para a sua sobrevivência esgotam-se.
O presidente russo Vladmir Putin e o chanceler Serguei Lavrov não hesitam em desmascarar o discurso retrógrado e anacrônico dos EUA e da UE, evidenciando – para aqueles que se dispõem a ouvi-los fora do quadrado ideológico ocidental – a intenção política e a manipulação da história para justificar, da parte da Otan, o aumento da sua presença militar na vizinhança da Rússia.
Pois apesar das acusações sobre um acúmulo de tropas russas em sua própria fronteira com a Ucrânia, é a Otan que desloca navios de guerra pelo Mar Negro e envia caças de ataque a bases aéreas que mantém em países membros vizinhos da Rússia, o que corresponde aos brados ocidentais sobre, mais uma vez, governos que se veem “obrigados” a agir militarmente. A resposta da Rússia: mais apelos à diplomacia.
O ministro das Relações Exteriores, Lavrov, dedica boa parte das suas declarações à reafirmação da disposição do governo às negociações entre Rússia, UE, EUA e Ucrânia (com todas as suas forças políticas em oposição sentadas à mesa, sublinhe-se). Embora os EUA e a UE tenham logrado definir o rumo das coisas na Ucrânia – com o respaldo às manifestações que tomaram rapidamente contornos fascistas e neonazistas e, subsequentemente, à instalação dessas forças no governo, de forma inconstitucional, após o golpe – é a Rússia a acusada de “ingerência”, quando a província da Crimeia aprovou, através de um referendo popular com participação ampla, a sua reintegração ao território russo.
A retórica agressiva e o jogo de palavras, que é a principal arma política do Ocidente – e dos quais seria vítima fácil, caso a mídia internacional se ativesse aos fatos e ao direito internacional – voltam a dominar os discursos. Uma opção popular referendada democraticamente é usada para alegar que a Rússia “anexou” a Crimeia, um termo carregado de significado jurídico e político. Na mesma valsa, o governo interino ucraniano lançou uma operação militar “antiterrorista” para tentar conter um movimento expansivo de reivindicação, em províncias do leste, pela federalização do país ou até pela independência. Os manifestantes, então, por não reconhecerem a autoridade de um governo dominado por golpistas, após um passo que não consideram legítimo, são classificados de “terroristas” ou “pró-russos”, simplismos reproduzidos pela mídia corporativa internacional.
A legitimidade das expressões populares é definida pelo Ocidente: enquanto eram fascistas nas ruas, mas que exigiam uma adesão irresponsável à UE, eram “ativistas”. Quando são manifestantes excluídos do processo político que concedeu estatuto de “governo interino” a forças golpistas respaldadas pelo império – já que em conformidade com sua estratégia geopolítica –, tratam-se de “terroristas”.
Neste tempo, a Otan encontra terreno fértil para avançar rumo ao Leste, em movimentos claros de provocação agressiva explicados através da manipulação e da desinformação em que se baseiam as acusações contra a Rússia. A iminência de uma guerra civil na Ucrânia e a exposição do mundo à provocação militar não são barreiras para a empreitada imperialista belicosa, que parece referir-se à Guerra Fria em tom de romantismo saudoso, que ignora e rechaça a opção da diplomacia. Os povos pagam a conta, novamente.