O avanço dos comunistas na Itália

A vitória da centro-esquerda na Itália confirma a análise de que é ascendente a luta dos povos. Em decorrência desses êxitos as forças políticas avançadas fortalecem-se. Apesar de ainda predominar um cenário de defensiva estratégica, as forças progressistas e populares acumulam vitórias táticas e reforçam a resistência à regressão neoliberal.No Iraque e em outros países dessa conflagrada região, o imperialismo esbarra em heróica reação; na América Latina há um avanço eleitoral das forças antineoliberais; na Europa cresce a onda de rebeldia, atestada na recente mobilização de milhões de franceses contra a precarização do trabalho e, agora, no fracasso dos fascistas na Itália. O mundo respira um novo clima que evidencia que o imperialismo e o neoliberalismo não são invencíveis!

 

O exemplo italiano é emblemático desta complexa correlação de forças. A vitória da centro-esquerda foi apertada, com uma diferença de apenas 25 mil votos entre os 38 milhões de eleitores, o que revela uma sociedade dividida. O novo governo assumirá uma herança maldita, com os piores índices de crescimento da Europa, brutal endividamento público e a degradação do trabalho. A coligação vitoriosa, Unione, é das mais híbridas, unindo católicos progressistas, sociais-democratas e comunistas. O próprio Romano Prodi, encabeçador da aliança, é um reformista moderado. Prega certa autonomia diante dos EUA – o país tem 80 bases militares ianques e sangra no Iraque – e algumas reformas sociais. Mas, como afirma Massimo Modonesi, “em tempos de extremismo neoliberal e conservador, isto já se converte em algo subversivo”.      

 

Neste tenso tabuleiro político, chama a atenção o expressivo avanço dos comunistas italianos. O fascista Silvio Berlusconi, o homem mais rico da Itália, proprietário de quase todas as redes de TV e indiciado em vários processos de corrupção, fez de tudo para aterrorizar as camadas médias da sociedade. Afirmou que Prodi era um “idiota útil” dos comunistas e alardeou que ele confiscaria a poupança, elevaria os impostos e incentivaria o caos social. Mas campanha anticomunista teve efeito contrário. O Partido da Refundação Comunista, que não se acovardou diante deste terrorismo, saltou de 12 para 41 deputados federais e de 4 para 27 senadores. Vale registrar com alegria a eleição para o Senado do brasileiro, radicado na Itália, José Luiz Del Roio – que faz parte do conselho consultivo do Instituto Maurício Grabois. 

O PRC conseguiu combinar amplitude e radicalidade, ação institucional e inserção no movimento social, e obteve uma vitória histórica. Se em 1998 o partido foi responsável pela queda do mesmo Prodi, agora  deu os votos indispensáveis para a vitória da centro-esquerda e forçou a adoção de uma plataforma mais avançada de mudanças, que inclui a revogação dos contratos precários de trabalho, o aumento dos gastos públicos em favor dos desempregados, o imposto sobre grandes fortunas e propriedades, a flexibilização das políticas migratórias e o rechaço à política intervencionista dos Estados Unidos. O PRC sabe que será difícil emplacar este programa, que as pressões do mercado sobre o novo governo serão violentas. Por isso, apressa-se em capitalizar sua vitória institucional para reforçar a organização e a pressão popular.