O buraco em que a economia brasileira se meteu

Empresários desconfiam de melhorias na economia. Mercado já estima crescimento da economia abaixo de 2% neste ano. Economia definha na desordem política. Eis algumas manchetes do noticiário que indicam o tamanho do buraco no qual o Brasil se meteu, cavado desde que a marcha golpista se pôs em movimento. Não há como negar que a agenda econômica adotada desde que Michel Temer ocupou o Palácio do Planalto, usurpando a cadeira presidencial, é a grande responsável por esse desastre.

Agora, no governo do presidente Jair Bolsonaro, a panaceia da “reforma” da Previdência Social é apresentada como a infalível salvação da lavoura. Na prática, ele não mexe uma palha para elaborar medidas que possam começar a tirar a economia do fundo do poço. Mesmo o pacote com quatro frentes anunciado pelo Ministério da Economia não passa de medidas cosméticas, que não vão à raiz do problema, como desburocratização do setor produtivo; qualificação profissional; fomento ao uso de tecnologia; e desregulamentação de alguns setores produtivos.

Quem paga o maior preço por esse desastre são os trabalhadores. Em vez de procurar meios para aliviar as consequências dessa situação, Bolsonaro se limitou a criticar a metodologia de cálculo do desemprego adotada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O pressuposto para a geração de empregos é o crescimento. Claro, poderiam entrar outras medidas, como a redução da jornada semanal de trabalho, mas o essencial, numa situação de crise aguda como essa, seria a prioridade dos gastos públicos.

Sem adotar incentivos ao setor produtivo para girar a ignição da retomada da dinâmica da economia, não é possível vislumbrar alguma saída. Mas o que se vê são ações em sentido contrário, como os embaraços com tradicionais importadores de produtos brasileiros, em especial a China. Com a panaceia da “reforma” da Previdência Social como pauta única, o governo simplesmente ignora as causas da rápida degringolada da economia, que resulta numa acelerada degradação social.

O Brasil precisa de um projeto de desenvolvimento com o Estado incrementando a atividade econômica, incentivando o trabalho e priorizando o investimento produtivo para gerar riqueza e emprego, valorizando as empresas nacionais e os investimentos no desenvolvimento tecnológico. Essa é uma questão que não dá para ser empurrada com a barriga porque ela é particularmente dolorosa num país como o Brasil. O Estado não pode lavar as mãos quanto à sorte da economia real, com uma administração pública exclusivamente a serviço do parasitismo financeiro.

Sempre que o Estado agiu na economia ele garantiu um bom nível de empregabilidade — empregando diretamente ou incentivando a economia com recursos indiretos, atuando como agente de equilíbrio para absorver os impactos das crises. Agora, com o Estado transformado em mero comitê de administração da ciranda financeira, os efeitos da longa crise que teve seu pico mais elevado em 2007-2008 aparecem por toda parte.

O problema é que, com o golpe e a ascensão da extrema direita, o cassino global, uma máquina predadora da economia real sempre esfomeada, dotou os Estados de uma política que funciona dia e noite a serviço do rentismo. Esse parasitismo, é lógico, tem como alvo principal os trabalhadores. Isso explica os depauperados indicadores da economia, que tendem a se agravar se a “reforma” da Previdência Social se concretizar.