O cerne da crise do governo
Não se pode dizer que em algum momento houve uma acomodação geológica no subsolo do governo Bolsonaro. As ações intempestivas […]
Publicado 21/06/2019 22:42
Não se pode dizer que em algum momento houve uma acomodação geológica no subsolo do governo Bolsonaro. As ações intempestivas do presidente da República se somam aos comportamentos impulsivos de muitos dos seus auxiliares, entre eles o poderoso ministro da Economia, Paulo Guedes.
Com ele, na mesma linha dos considerados plenipotenciários, ou condestáveis, para usar uma linguagem militar tão ao gosto de Bolsonaro, está o ex-juiz da Operação Lava Jato e ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro. Os dois são as vigas-mestras do governo, os intocáveis, logo abaixo do presidente. Os demais ministros e auxiliares diretos de Bolsonaro fazem o chamado trivial.
Essa configuração já resultou em rapapés do presidente para os dois ministros prioritários e em verdadeiros escrachos para alguns dos que foram demitidos. É uma forma de governar que explica muito sobre o que representa ideologicamente o governo Bolsonaro — a ideologia da extrema direita e o projeto de moldar a economia brasileira ao projeto neoliberal e neocolonial.
Em ambos os casos, o governo diz que age para o bem dos direitos dos brasileiros. A questão é que quando eles falam em direitos estão dizendo que querem mexer neles. E, neste caso, o objetivo é fazer esses direitos ficarem menores para alguns e maiores para outros.
É o caso da “reforma” da Previdência Social. Com o integral apoio dos grandes meios de comunicação da mídia, eles batem na mesma tecla, uma operação que nasceu no golpe do impeachment da presidenta Dilma Rousseff em 2016 de resgate da pauta das “reformas” previdenciária, sindical e trabalhista.
A tática foi montada com as farsas do “mensalão” e da Operação Lava Jato, com uma enxurrada de denúncias para forjar um governo que assumisse a agenda econômica dos golpistas. E assim surgiu esse mantra de Paulo Guedes de que sem a “reforma” da Previdência Social as profecias de Nostradamus irão se materializar no Brasil.
Surgiu, também, o mantra de que sem o combate sistemático à “corrupção” o país não entraria nos trilhos — uma missão a cargo de Sérgio Moro, que formou uma concepção política baseada em superstição, ignorância, subjetivismo, pragmatismo cínico e outras aberrações do gênero.
Esse é o cerne do governo Bolsonaro. Derrotá-lo exige engenho e arte, sagacidade e flexibilidade política. Nele há a questão econômica, que se mistura ao primitivismo político que entrou de cabeça na denunciamania lavajatista — e que agora se vê diante de flagrantes de mentiras revelados pelo site The Intercept Brasil e outros veículos de comunicação.
A ventania da crise política vem desmontando o mito de que os "políticos" não prestam, que todos os partidos brasileiros são sacos de gato nas mãos de negociadores profissionais, que o presidente só consegue governar impondo sua autoridade.
Na vida real, o que aparece é a falácia do milagre de um Estado ausente da economia que realmente atende às necessidades do povo e do pais, que planeje a economia e conduza a nação rumo à sua independência. A chave da crise política está aí. Desde o golpe, o governo se embrenhou em um mato do qual é difícil sair.
O crescimento econômico tem sido pífio, a concentração da riqueza voltou a ser intocada, a renda média mensal do trabalhador voltou a cair, o desemprego voltou a subir. Ou seja: a crise política e econômica são as faces da mesma moeda, um projeto de poder que só pode ser derrotado com uma ampla ação política unitária de todos os setores que expressam o patriotismo e o sentimento democrático de inclusão social de todo o povo brasileiro.