Pochmann e a atuação nociva do Banco Central

A recente entrevista do economista Marcio Pochmann, que hoje ocupa a presidência do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), confirma os boatos de que aumentou em intensidade a luta de idéias no interior do atual governo sobre os rumos da economia. As mudanças efetuadas nesta área no segundo mandato do presidente Lula, com a indicação de renomados economistas com visões desenvolvimentistas – como o próprio Pochmann, João Sicsú, Paulo Nogueira Batista Jr. e outros –, abalou o “pensamento único” ortodoxo que deu as cartas na primeira gestão. Para ele, o modelo neoliberal, que ainda tem adoradores no Planalto, está em crise no mundo inteiro.


 


 


“A visão associada ao Consenso de Washington, com ênfase na revisão do papel do Estado, no corte dos gastos e no ajuste fiscal, entrou num ciclo de exaustão, de esgotamento, por causa da diferença entre a retórica e o resultado colhido. No âmbito da América Latina, isso ficou muito evidente. Há países que estão atrás de outro receituário”. Esta fadiga do dogma neoliberal seria agravada agora com a recessão nos EUA. “Isso coloca em xeque até mesmo o discurso que tinha antes, de que seria possível aos mercados encontrarem a auto-regulação. Frente ao tamanho da crise, recoloca-se o repensar o Estado”. O recado de Pochmann tem endereço certo!


 


 


Em sua opinião, o Brasil está diante de um dilema estratégico devido aos problemas da economia mundial. “Pisa no freio, eleva a taxa de juros e corta gastos? Ou pisa no acelerador?”. Ele avalia que hoje há maior consenso sobre a urgência de se apostar no crescimento. Para isto, é necessário “recompor a capacidade de regulação do Estado”, ter “um projeto de desenvolvimento nacional”, cortar as taxas de juros e garantir investimentos na infra-estrutura. “O desafio para sustentar o crescimento é fazer o deslocamento, com cuidado, do que está hoje na ciranda financeira para o investimento produtivo”. Mas, mesmo animado, ele não subestima as resistências, inclusive as internas. E dá nome aos bois: “Queremos pisar no acelerador, o problema é o Banco Central”.


 


 


Mais cedo do que tarde, o presidente Lula terá que tomar um lado nesta briga de titãs entre os “desenvolvimentistas” e os neoliberais. Até porque, o BC, encabeçado pelo banqueiro Henrique Meirelles, insiste em desafiar os planos de desenvolvimento do governo, inclusive o PAC. A ata da última reunião do seu Comitê de Política Monetária (Copom), do início de fevereiro, já “sinalizou” que pretende elevar a taxa básica de juros, a Selic, em decorrência da crise nos EUA e da trajetória da inflação. O BC também adotou medidas para conter o crescimento do crédito, como a da retenção nos bancos de 25% dos depósitos das empresas de leasing. Ou seja: o BC, que representa os interesses dos rentistas, pretende manter a velha ortodoxia e “pisar no freio”.