Reino Unido: um sistema eleitoral desajustado
Há lições a tirar da eleição realizada na Grã Bretanha no dia 6. Uma delas é a indicação da tendência […]
Publicado 10/05/2010 11:53
Há lições a tirar da eleição realizada na Grã Bretanha no dia 6. Uma delas é a indicação da tendência conservadora do eleitorado, reação à política do Partido Trabalhista e ao receituário ortodoxo com que o primeiro ministro Gordon Brown enfrentou a crise, penalizando os trabalhadores e o povo para salvar os banqueiros. Os eleitores ingleses levaram o país a um impasse não visto desde 1974, última vez em que nenhum partido obteve maioria absoluta na eleição parlamentar e, em consequência, foi preciso formar um governo de coalizão.
É uma situação ameaçadora para o Reino Unido, sob a iminência de ter um governo fraco justamente no momento em que a crise econômica explode na Europa e coloca Londres na berlinda.
O sistema eleitoral britânico exige que, para formar um governo, o partido – ou a coalizão – tenham pelo menos 326 (a maioria absoluta) entre os 650 deputados. E nenhum dos três grandes partidos conseguiu esta façanha.
Esta é a outra lição que esta eleição deixa para o Brasil, onde a discussão sobre a reforma eleitoral, entra ano sai ano, está em pauta. Os conservadores brasileiros, particularmente o PSDB, são grandes defensores da cópia, por aqui, do sistema eleitoral britânico baseado no voto distrital.
No Reino Unido existem 650 distritos, com 70.000 eleitores cada. Como a eleição é fechada no distrito, quem ganha e elege o deputado é o partido que conseguir a maioria dos votos. A parcela do eleitorado que votou nos candidatos que não se elegeram fica sem representação pois seus votos não podem ser somados com os votos da mesma corrente de opinião em outro distrito, sendo assim esterilizados.
O resultado é a deturpação da representação do eleitorado , como se pode ver no resultado da eleição que gerou o atual impasse. Os grandes beneficiados foram os partidos mais tradicionais. Os Conservadores tiveram 36% dos votos mas elegeram 47% dos deputados; os Trabalhistas ficaram com 29% dos votos e 40% dos deputados. Os outros foram prejudicados. Os Liberais Democratas tiveram 23% do eleitorado, mas apenas 9% dos deputados, e os pequenos partidos, que tiveram 12%¨, ficaram com menos ainda: 4% dos parlamentares.
Nesta eleição, a contestação contra esse sistema ganhou força e passou a ocupar o centro das discussões. E mesmo um partido que nunca foi progressista, como o Liberal Democrata, faz da oposição a esse sistema um dos pilares de seu programa político. É a moeda de troca dos liberais nas negociações para a formação de um novo governo, exigindo que o partido que encabeçar o governo promova a mudança.
A mudança é exigida principalmente pelo eleitorado. Na própria quinta feira, dia da eleição, uma manifestação ocorrida em Londres reclamava a reforma, e um de seus líderes dizia ser “muito importante que se aproveite esta oportunidade, para assegurar uma representação proporcional nas próximas eleições”. E, ante o impasse gerado na formação do novo governo, garantia: “Não são os britânicos que estão desajustados, é o nosso sistema eleitoral. Foi isso que vimos nas últimas 48 horas”.