Retomar a iniciativa política contra a direita

As forças democráticas e progressistas do país não podem ficar na defensiva diante das armações políticas e midiáticas da direita conservadora. De fato, as forças reacionárias procuraram se aproveitar de problemas concretos para amplificá-los e os transformar em questão nacional com o objetivo de atacar o Governo e liquidar com o segundo mandato de Luiz Inácio Lula da Silva, que goza de grande apoio popular registrado em uma série histórica de pesquisas de opinião pública. Foi desta meneira que a direita e a grande mídia se comportaram quando da crise dos aeroportos, no caso do ex-presidente do Senado Federal, Renan Calheiros, e no debate da CPMF. Agora, o tema é a febre amarela, de origem silvestre, que já matou cinco pessoas no Centro-Oeste. Novamente a direita e a mídia monopolizada tentam desenhar um clima de epidemia nacional sem controle, como se fossem casos de febre amarela urbana.



Como bem colocou o presidente do PCdoB, Renato Rabelo, em artigo publicado ontem no Partido Vivo, o Governo Lula, apesar do hibridismo na orientação da economia no ano de 2007, conseguiu construir uma base política mais estável na Câmara dos Deputados. Mas encontra dificuldades no Senado, como ficou demonstrado no caso da CPMF, onde a base governista perdeu a votação por apenas 4 votos. Este resultado consagrou um trabalho ainda débil das forças governistas contra o radicalismo da direita, que mesmo vitoriosa ficou dividida em algumas áreas importantes como foi o caso da bancada tucana que se contrapôs ao chamamento dos governadores do PSDB que não concordavam com o fim da CPMF. O plano da direita é desgastar o Governo de todas as formas, mesmo que para isso prejudique questões sensíveis para a população como a perda dos recursos para a saúde advindo da extinção dos 40 bilhões de Reais da CPMF.



No plano da luta de idéias é preciso também sair da defensiva. Um estudo do Istituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) — publicado esta semana e assinado pelo sociólogo Ronaldo Coutinho Garcia — demonstra que as despesas correntes do Governo cresceram nos últimos anos devido, principalmente, ao aumento dos juros e dos encargos da dívida pública. Garcia argumenta que os gastos com a dívida subiram muito mais do que as despesas com pessoal, com benefícios previdenciários ou com programas sociais. O estudo revela que ''em 1995, os juros e encargos da dívida pública respondiam por 10,86% das despesas correntes do Governo Federal. Em 2002, essa parcela subiu para 12,58% e, em 2006, alcançou 18,94%. Enquanto isso, os gastos com pessoal e encargos sociais, que eram 24,53% das despesas em 1995, caíram para 17,09% em 2002 e para 13,42% em 2006''. Segundo o mesmo estudo, o governo central do Brasil tem 5,32 servidores para cada mil habitantes (em 2000, eram mais, 5,52). É uma taxa inferior aos 6,10 da Alemanha, aos 9,82 dos Estados Unidos ou aos 8,46 do México. A direita e seus porta-vozes na mídia aproveitam o momento para imporem suas idéias, batendo na tecla da necessidade de uma política fiscal rígida, cortes dos gastos (para controlar a alegada ''gastança'' do governo que o estudo do IPEA contradiz), deter o aumento real do salário mínimo, congelar os salários do funcionalismo público e também as novas contratações. Torna-se urgente a discussão de uma reforma tributária justa e progressiva, que taxe as grandes riquezas e o capital financeiro que acumula lucros fabulosos no Brasil.



Por fim, confirmando a análise das forças mais avançadas da sociedade brasileira, esta semana de crise nas bolsas de valores no mundo inteiro atestam a tendência mundial para a crescente instabilidade, a partir do anúncio da baixa contábil de US$ 18 bilhões do conglomerado financeiro americano Citigroup no quarto semestre, a maior registrada até o momento, que deverá ser seguida de outras divulgações de resultados negativos do Merrill Lynch e do Washington Mutual. O prejuízo do Citibank, um dos maiores bancos do mundo, foi da ordem de US$ 9,8 bilhões no quarto trimestre e a redução do valor dos seus ativos imobiliários foi de US$ 18 bilhões. Diante deste quadro adverso na frente interna, o imperialismo americano liderado por Bush continua sua política de disseminar a guerra no Oriente Médio, procurando armar ainda mais seus aliados árabes argumentando com a ameaça atômica iraniana e tentando conseguir mais petróleo da OPEP. Enquanto isso a secretária de Estado norte-americana Condoleezza Rice vai a Bagdá para diminuir a repercussão da resistência iraquiana que continua ativa e que assim dá respaldo aos que nos EUA lutam para derrotar a política guerreira de Bush e seu Partido Republicano nas eleições primárias com vistas às eleições presidenciais de novembro próximo.