Um retrato da classe operária
A trajetória do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, que ontem (13) completou 50 anos de fundação, é um retrato das […]
Publicado 13/05/2009 14:57
A trajetória do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, que ontem (13) completou 50 anos de fundação, é um retrato das mudanças vividas pela classe operária brasileira no último meio século. Foi lá que o presidente Lula estreou na vida pública (foi seu presidente entre 1975 e 1981) e é, hoje, um dos mais importantes do país. Foi um dos impulsionadores da criação da CUT, em 1983, à qual se mantém filiado.
Quando foi fundado, em 1959 – como Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo e Diadama – ele separou-se de outro, mais antigo, o de Santo André, fundado em 1933. E que foi, assim, a ligação com o movimento operário mais antigo, que esteve sob influência, primeiro, dos anarquistas e, depois, dos comunistas. Ele nasceu, portanto, na linha de continuidade de uma tradição de lutas operárias que vinha desde o começo do século XX.
Seu surgimento, em 1959, refletiu as mudanças na indústria e, em consequência, na classe operária. Na segunda metade da década de 1950 a fabricação de automóveis no Brasil tomou impulso e São Bernardo se consolidou como a ''Detroit brasileira'', com a entrada em operação, no município, das fábricas da Mercedes Benz, Volkswagen e Willys Overland do Brasil (atual Ford). Com elas começava a nascer um proletariado moderno e concentrado em grandes empresas. Cresceu até os anos do chamado ''milagre econômico'', que entrou em crise nas décadas de 1970 e 1980, com reflexo imediato entre os operários do ABC, mudando inclusive as feições daquela região.
Em 1980, a indústria automobilística (montadoras e autopeças) empregavam, no ABC, 183 mil trabalhadores; em 20 anos quase cem mil empregos foram perdidos e, reduzindo aquele número a 88 mil em 2002. O crescimento voltou desde 2003, chegando a 105 mil em setembro do ano passado, quando a atual crise mundial atingiu em cheio aqueles trabalhadores com a demissão de quase oito mil até março de 2009, caindo para 97 mil.
A precarização das relações de trabalho cresceu. O desemprego virou uma praga, o emprego formal (com carteira assinada) diminuiu e as formas de produzir mudaram, intensificando a exploração do trabalho.
Na esteira destas transformações, as próprias cidades da região viveram a mudança no perfil de sua população. O peso da indústria diminuiu na oferta de empregos, crescendo o do comércio e dos serviços, onde as relações de trabalho e o nível de renda são mais precários e menores.
A mudança no proletariado não foi apenas quantitativa, mas sua qualificação e escolaridade cresceram muito. Há trinta anos, em 1976, dois terços dos trabalhadores eram não-qualificados ou semiqualificados. Em 1985, apenas 9,3% dos trabalhadores tinham o segundo grau completo; hoje, são 37% do total. E 26% (um em cada quatro) terminaram a faculdade.
Eles refletem as mudanças ocorridas no proletariado brasileiro e também sua capacidade de luta e resistência. Foi lá, em 1978, que surgiram as grandes greves que ajudaram a colocar um ponto final na ditadura militar e abriram as portas do Brasil moderno e suas imensas contradições cuja solução, como demonstra o passado de lutas do povo brasileiro – de cuja vanguarda os metalúrgicos do ABC fazem parte – só poderá surgir da continuidade e intensificação da mesma resistência operária da qual eles são um exemplo eloquente.