Coronel é denunciado por abuso em reintegração de Pinheirinho

O Ministério Público (MP) de São Paulo ofereceu denúncia à Justiça contra um coronel da Polícia Militar de São Paulo por abuso de autoridade durante a reintegração de posse da Comunidade Pinheirinho, em São José dos Campos (SP), em janeiro do ano passado. O nome do coronel, que comandou o efetivo policial durante a reintegração de posse, não foi revelado pelo MP. A denúncia, oferecida pelo promotor de Justiça Laerte Fernando Levai, foi encaminhada nesta quinta (31) à Justiça.

De acordo com o promotor, houve “violência generalizada” praticada por policiais militares contra os moradores do local. “A reintegração da área foi feita com lançamento de bombas de gás e tiros de [balas de] borracha nos moradores e nem mesmo as crianças foram resguardadas dos atos violentos, presenciando elas, muitas vezes, seus próprios pais apanhando da polícia”, disse o promotor, em sua denúncia.

O promotor destacou que a violência policial pôs em risco a vida e a saúde das pessoas. “Os relatos constantes dos presentes autos indicam que os moradores, muitos deles surpreendidos enquanto dormiam, foram postos para fora das casas sem tempo sequer de retirar seus pertences, sob o efeito de bombas de gás, tiros de balas de borracha, golpes de cassetete e spray de pimenta nos olhos, quando as entradas do Pinheirinho estavam todas elas cercadas pelas tropas militares, sendo ali impedido o acesso dos advogados, dos representantes dos moradores e da imprensa”, diz a denúncia feita pelo promotor.

A denúncia será analisada por um juiz da 5ª Vara Criminal de São José dos Campos.

Pinheirinho

No dia 22 de janeiro de 2012, a Polícia Militar de São Paulo entrou no terreno conhecido como Pinheirinho, em São José dos Campos, interior de São Paulo, para cumprir o mandado de reintegração de posse da área, que pertence à massa falida da empresa Selecta, do empresário Naji Nahas. O terreno de 1,3 milhão de metros quadrados, ocupado desde 2004, abrigava cerca de 9 mil pessoas.

A ordem de desocupação foi expedida pela juíza estadual Márcia Loureiro, mesmo após o TRF (Tribunal Regional Federal) ter suspendido a ação. Apenas na noite do fatídico dia 22 que o Superior Tribunal de Justiça emitiu uma decisão liminar que dava a competência sobre a permissão de reintegração de posse para a Justiça Estadual.

A ação, que durou três dias, foi marcada por violência. Ao menos uma pessoa ficou ferida com gravidade e pelo menos 22 foram detidas. O aposentado Ivo Teles dos Santos, que teria sido espancado por três policiais durante a ação, morreu em abril do mesmo ano de traumatismo craniano.

No dia 31 de janeiro, organizações não governamentais encaminharam à ONU (Organização das Nações Unidas) e à OEA (Organização dos Estados Americanos) um relatório denunciando violações de direitos humanos que teriam ocorrido durante a desocupação da área.

Até julho do mesmo ano, a Defensoria Pública de São Paulo já havia ingressado com cerca de 600 ações judiciais de indenização em favor dos ex-moradores do Pinheirinho.

Informações da Agência Brasil