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60 anos do Sputnik, a certidão de nascimento da modernidade

O céu deixou de ser o limite há 60 anos quando – em 4 de outubro de 1957 – a União Soviética colocou em órbita o primeiro satélite artificial, o Sputnik (que, em russo, pode significar “satélite”).

Por José Carlos Ruy

Sputnik - Divulgação

O Sputnik foi primeiro objeto produzido pelo homem que transpôs as fronteiras de nosso planeta e viajou ao espaço. Permitiu conhecimentos importantes e inéditos sobre a superfície da Terra, as camadas superiores da atmosfera e a propagação de sinais de rádio. Serviu também para preparar os primeiros vôos tripulados (primeiro pela cachorrinha Laika, levada ao espaço no Sputnik 2, lançado em 3 de novembro de 1957) e, mais tarde, por um ser humano, o astronauta Iuri Gagarin, em 12 de abril de 1961.

O Sputnik foi lançado no campo de de Baikonur, localizado no atual Cazaquistão. Era uma esfera com pouco mais de meio metro de diâmetro (58,5 cm), pesando 83,6 kg. O lançamento foi controlado pelo então maior computador em função na URSS; transmitia um sinal de rádio, “bip”, que qualquer radioamador pôde acessar durante os 22 dias em que esteve ativo.

O Sputnik ficou na órbita da Terra durante seis meses e depois caiu, desintegrando-se na atmosfera, em 4 de janeiro de 1958.

O impacto na opinião pública mundial foi enorme. É um ícone pacífico, científico e cultural. Nos EUA foi encarado como uma dianteira de um forte adversário, a URSS. Aquela era a época do auge da “guerra fria” e da disputa imperialista contra o socialismo no mundo, e os EUA se viram ultrapassados pela tecnologia soviética. Simbolismo acentuado pelo fato do Sputnik ter sido lançado às vésperas da comemoração dos 40 anos da Revolução Russa, sendo uma demonstração inegável do enorme progresso alcançado no socialismo: a velha Rússia era, em 1917, no ano da revolução, um país miserável e atrasado. Que enfrentou, depois da revolução, uma dura guerra civil (1918 e 1921) e a arrasadora invasão e ocupação nazista (1941 a 1944). O socialismo permitiu aos soviéticos derrotar as adversidades e avançar tecnologicamente, dando ao mundo o espetáculo do começo da conquista do espaço. Passo consolidado em 1961, com o voo do Vostok 1, que levou Gagarin ao espaço; o astronauta soviético manifestou seu encanto com uma frase que ficou famosa e é um dos signos da década de 1960: “a Terra é azul”, disse, maravilhado.

Os soviéticos mostraram, com o Sputnik, ser possível colocar em órbita artefatos humanos. E, mais ainda, que se podia levar seres humanos ao espaço.

Além da disputa pelo prestígio político despertado pelo feito soviético, o início da conquista do espaço despertou nos EUA o temor pela possibilidade de uso militar de satélites lançados ao espaço, acirrando a disputa imperialista conta a URSS.

De toda forma, os soviéticos deram em 1957 um passo essencial para a modernidade. Sem o Sputnik seriam impossíveis as comunicações em tempo real, que dependem fundamentalmente da existência de satélites artificiais que repetem os sinais e permitem desde o funcionamento da internet até os celulares, etc., etc. Dessa maneira pode-se comemorar o lançamento do Sputnik como a certidão de nascimento da modernidade.