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Celso Marconi: China Not China, a experimentação no cinema 

O site Mubi está exibindo o curta China Not China, de uma dupla que já faz cinema experimental há algum tempo, os australianos Richard Tuohy & Dianna Barrie. China Not China foi considerado um dos melhores curtas no famoso Festival de Oberhausen. Os dois diretores utilizam o recurso da duplicação de imagens, filmando tanto com Super 8 quanto em outras bitolas, incluindo também o processo digital.

Por Celso Marconi*

China Not China

Nesse filme, eles elaboram imagens feitas em Hong Kong e em Taiwan, a segunda pertencente à chamada China Nacionalista. A partir disso, compreendemos que o título é apropriado. E isso porque as imagens poderiam ter sido feitas em quaisquer grandes cidades do mundo. Durante a exibição, só em alguns segundos aparecem imagens que têm a presença de formas e formatos orientais.

Na verdade, um curta com essa estrutura nos serve para a compreensão do que poderá ser tido como cinema. Um filme não é uma obra filmográfica que somente conte uma história ou estória. Pode ser uma obra como essa sobre a qual escrevo, com imagens em movimento e que apenas sugerem fatos ou apenas situações visuais. Os diretores usam uma trilha sonora musical não muito inovadora, mas com toques em ritmos cadenciados naturalmente aceitos.

É claro que um espectador tradicional de cinema poderá pensar que esse filme não é filme. A meu ver, China Not China, em vez de ser um curta de 11 minutos de duração, poderia também se tornar pequenos pedaços de um longa, ou até mesmo um produto comercial e não totalmente artístico.

Eu acho interessante que um site como o Mubi pelo menos valorize essa obra, simplesmente pelo fato político de termos uma China, mas não o país socialista criado por Mao Tsé Tung. Como se o fato de termos duas cidades com uma sociedade onde as leis capitalistas prevalecem não signifique que na estrutura principal eles não tenham relações com o governo e o conjunto do povo chinês.

Cada vez mais a indústria cinematográfica ganha novas formas – e isso tanto nos mercados mundiais como até mesmo na Hollywood que, por enquanto, destaca o filme de expressão violenta. Não quer dizer que, dentro de alguns anos, não tenhamos obras que sigam estruturas individuais, como acontece com o cinema mais artesanal. Ou aquele criado por grandes artistas ou mesmo duplas que suspendem as regras e criam de acordo com seus sentimentos pessoais.

Os governos mais autoritários em geral não aceitam a arte que é criada sem submissão aos padrões, mas certamente o grande artista não constrói suas obras atendendo o já estabelecido. Está sempre inovando.

* Celso Marconi, 89 anos, é crítico de cinema, referência para os estudantes do Recife na ditadura e para o cinema Super-8