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Joan Edessom: Canção para mar e terra

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 Minhas mãos sempre foram afeitas
 à terra
 a esse singular ofício
 dos que fecundam e acompanham
 a gravidez das covas rasas
 para delas tirar seu sustento
 parco e miserável



  
 Os oceanos e os grandes rios
 criaram-se distantes de mim
 um murmúrio longínquo
 suas vozes apenas adivinhadas
 pelos meus sonhos de menino



  
 Natural que entendesse pouco
 do fazer dos peixes
 e nada conhecesse sobre correntezas
 nem cardumes



  
 Mas quando tu chegaste
 quando me foste a oferta que eu não mais esperava
 quando tu vieste como a concha aflita
 o casulo ansioso por se fazer asa e cor
 eu soube que meu tempo de terra
 havia cessado



  
 Era necessário que agora eu aprendesse
 os deveres da marinhagem
 que minhas mãos rudes de cactos e cascavéis
 soubessem a textura das algas
 e o canto maleável dos homens do mar



  
 Quando tu chegaste
 quando me foste o convite doce e sereno
 quando o teu peito arfante me foi dado
 como uma nova casa
 quando teu ventre morno e branco se fez
 travesseiro do meu cansaço
 eu soube que meu tempo de terra
 havia cessado



  
 As águas dos rios e seu caminho milenar para o mar aberto
 disseram-me chegado
 o tempo da carpintaria e dos novos olfatos
 e pus-me a construir um barco com minhas mãos de terra
 e a aprender contigo a navegação eterna
 longe dos portos e das luzes
 apenas nossa bandeira a tremular
 aprendizes do vento, das águas, e das suas vontades