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Manuel Bandeira:Meninos Carvoeiros

*

Os meninos carvoeiros
Passam a caminho da cidade.
– Eh, carvoero!
E vão tocando os animais com um relho enorme.


Os burros são magrinhos e velhos.
Cada um leva seis sacos de carvão de lenha.
A aniagem é toda remendada.
Os carvões caem.


(Pela boca da noite vem uma velhinha que os recolhe, do-
                                                [brando-se comum gemido.)
– Eh, carvoero!


Só mesmo estas crianças raquíticas
Vão bem com estes burrinhos descadeirados.
A madrugada ingênua parece feita para eles…
Pequenina, ingênua miséria!
Adoráveis carvoeirinhos que trabalhais como se brincásseis!


– Eh, carvoero!


Quando voltam, vêm mordendo num pão encarvoado,
Encarapitados nas alimárias,
Apostando corrida,
Dançando, bamboleando nas cangalhas como espantalhos
                                                                     [desamparados!


Estrela da Vida – Manuel Bandeira.
Livraria José Olympio Editora
Petrópolis, 1921