O ladrão que invadiu o velório de Noel Rosa e furtou a viúva

Em 6 de maio de 1937, uma multidão se reuniu em frente à casa de Noel para acompanhar o cortejo. Foi, então, que algo inesperado ocorreu.

O cantor e compositor carioca Noel Rosa, no dia de seu casamento com Lindaura Martins, em 1934

A morte prematura do compositor e sambista Noel Rosa causou comoção no Rio. Homenageado pela página do Google com um doodle na quarta-feira (11) – dia em que faria 109 anos –, o músico sucumbiu à tuberculose quando tinha apenas 26 anos de idade, em 4 de maio de 1937.

Segundo a edição do jornal O Globo de 6 de maio daquele ano, uma multidão com gente de todas as classes se reuniu em frente à casa de Noel, na Rua Theodoro da Silva, em Vila Isabel, na Zona Norte do Rio. Todos queriam acompanhar o cortejo que levaria o corpo do “Poeta da Vila” ao cemitério. Foi, então, que algo inesperado ocorreu.

“Alguém, aproveitando-se da confusão reinante na casa, naquele momento de dor e desespero, introduziu-se no quarto da viúva do musicista e apanhou uma bolsa de senhora que se encontrava, de envolta com diversos documentos, a quantia de 620$000 (620 mil réis). Era essa a importância arrecadada em subscrição feita pelos artistas para auxiliar a família de Noel Rosa”, informava O Globo em uma breve reportagem publicada na primeira página daquela edição, há mais de 80 anos.

Ainda de acordo com o jornal, o furto, registrado no “18º districto”, gerou indignação entre os presentes. Uma comissão de amigos procurou o jornal para relatar o ocorrido e pedir ao larápio a devolução dos documentos de Lindaura Martins. “A viúva de Noel Rosa, embora o dinheiro lhe seja necessário, deseja apenas que sua carteira de identidade, o títutlo de eleitor e uma cautela de um alifenete de gravata, com uma pérola e dois brilhantes, voltem às suas mãos”, dizia a reportagem.

Noel Rosa cresceu em Vila Isabel e se apaixonou pelo samba, despontando como compositor em 1930, quando escreveu o clássico Com que Roupa?. A partir de então, sua contribuição para o gênero musical se tornou imensurável, servindo de inspiração para artistas como Cartola e Nelson Cavaquinho, entre muitos outros. À época de sua morte, colecionava 259 canções, incluindo aí sucessos como Feitiço da Vila e Palpite infeliz, que ele compôs durante sua famosa rixa com o também sambista Wilson Batista.

Nascido em uma família de classe média, ele fez tudo o que os conservadores dos anos 30 condenavam. Subiu a favela para fazer música e se tornou peça fundamental para a popularização do samba e a integração entre morro e asfalto. Em 1931, chegou a entrar para a faculdade de Medicina, mas largou os estudos para se dedicar ao samba. Vivia nos estabelecimentos boêmios da Lapa, bebendo e fumando sem parar. Durante anos, manteve uma relação extraconjugal com uma prostituta de nome Juraci, para quem compôs Dama do Cabaré.

Quando a tuberculose se agravou, foi se tratar em Belo Horizonte e retornou ao Rio se sentindo melhor. Mas, pouco tempo depois, os sintomas voltaram com força, derrubando-o de vez. Seu corpo está sepultado no Cemitério do Caju, na Zona Norte do Rio.

Com informações do Acervo O Globo