As eleições que serão realizadas domingo (29) em Honduras nada têm de democráticas. Foram convocadas por um governo ilegítimo com o único propósito de institucionalizar o golpe militar que depôs o presidente Manuel Zelaya em 28 de junho deste ano. Não se trata de um pleito legítimo, mas de uma fraude rechaçada pela Frente Nacional de Resistência ao Golpe e por parcelas ponderáveis da população.
Por João Batista Lemos*
A Frente da Resistência contra o Golpe de Estado convocou nesta sexta-feira (27) um "toque de recolher popular" no domingo para que os hondurenhos não votem nas eleições e evitem sofrer a repressão por parte das forças sob comando do governo golpista, anunciou um dos dirigentes do grupo.
Às vésperas da eleição deste domingo (29), o presidente deposto de Honduras, Manuel Zelaya, pediu nesta sexta-feira (27) à ONU e à OEA a formação de um Tribunal Internacional para que trate de casos de perseguição política contra ele e contra membros de seu Governo.
O governo brasileiro reforçou sua postura de não reconhecer as eleições de 29 de novembro em Honduras e fez duras críticas à política externa dos Estados Unidos. O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim e o assessor da Presidência para Assuntos Internacionais, Marco Aurélio Garcia, verbalizaram a desaprovação à postura dos EUA com relação a Honduras. Garcia disse temer que a posição norte-americana introduza na América Latina a tese do "golpe preventivo".
O Ministério Público de Honduras se posicionou contra a restituição de Manuel Zelaya, até que ele responda aos 18 processos contra ele na Justiça. A posição foi apresentada na quarta (25) ao Congresso Nacional, que decidirá sobre o tema a partir do dia 2. Ainda ontem à noite vazou que a Suprema Corte de Justiça também defenderia que o presidente deposto não poderá voltar ao poder. Apesar de os deputados não precisarem seguir o posicionamento destes órgãos, é uma má notícia.
"Desculpe-me, o senhor está armado?". A pergunta é lançada com uma assustadora tranquilidade por um guarda de segurança privada na entrada de um shopping de Tegucigalpa. A cena se repete na porta da maioria das lojas do centro comercial – onde revisam bolsos e bolsas – e no hall de um dos hotéis mais exclusivos da capital. Claro que, nesse caso, o guarda não espera a resposta de um distinta dama que lhe diz: "Por que não pergunta aos delinquentes, antes de incomodar pessoas honradas como eu?".
A cinco dias das eleições, o presidente arrancado de seu cargo em Honduras, Manuel Zelaya, culpou, na última terça-feira (24), os Estados Unidos por sua mudança de posição com a ditadura. "Obama não só não priorizou a democracia em Honduras, mas também não priorizou a democracia na América Latina", disse ele nesta entrevista publicada no Página 12.
O embaixador brasileiro na Organização dos Estados Americanos (OEA), Ruy Casaes, nega que exista uma queda de braço entre os Estados Unidos e o Brasil sobre Honduras. Mas admite que "os EUA se isolaram na OEA e que buscam soluções para tentar abrandar isto". Por isso, se aproximaram e pediram ideias ao Brasil, explica. Pessimista, Casaes joga a toalha: "não dá pra fazer nada".
Diante da ilegitimidade das eleições previstas para este domingo (29) em Honduras, mais de uma centena de candidatos a diversos cargos já apresentaram sua renúncia da disputa. Eles duvidam da legalidade de um processo eleitoral convocado a partir de um golpe de Estado. E é justamente para mascarar este cenário, que o ditador Roberto Micheletti afasta-se, nesta quarta-feira (25), temporariamente da chefia do país.
Os Estados Unidos esperam que as eleições de domingo (29) em Honduras virem a página do golpe militar de junho no país, mas a recusa de muitos países em reconhecer o novo presidente pode arruinar a lua de mel da América Latina com Barack Obama.
Dia 29 deverão se realizar as eleições gerais em Honduras. Quase toda a América Latina, do México à Argentina e ao Chile, está comprometida com o não reconhecimento dessas eleições promovidas sob a égide do golpe. O presidente deposto Manuel Zelaya chamou o boicote às urnas.
Por Flávio Aguiar*, em Carta Maior
Dividida, a Organização dos Estados Americanos, reunida nesta segunda-feira (23), não conseguiu chegar a uma postrura comum frente às eleições presidenciais de Honduras, que foram convocadas para o próximo domingo. O pleito, que acontecerá sob o comando de um regime golpista, foi rechaçado pela grande maioria dos países latino-americanos. Apenas Estados Unidos e Panamá já anunciaram que reconhecerão o resultado das urnas oficialmente.