Professora Maria Lúcia: novos desafios?

Ter a opção de um nome da estatura da Professora Maria Lúcia, seja para a disputa ao Senado, seja para outro projeto político, será oportunidade impar para o eleitorado mato-grossense deixar de escolher o “menos pior” para escolher “a melhor”.

Professora Maria Lúcia - Miranda Muniz
 • Miranda Muniz
 

Nascida na pequena Nova América, interior de São Paulo, filha de pai técnico em farmácia, e mãe “do lar”, a professora/doutora Maria Lúcia Cavalli Neder, ex-reitora da UFMT desembarcou nas “Terras de Rondon” em 1973, com 21 anos, pouco após sua formatura no curso de Letras na cidade de Tupã-SP.

Sua vinda para Cuiabá foi casual, acompanhando amigos que vieram tratar de negócios e a duração da viagem era para ser de poucos dias.

Entretanto, houve mudança radical nos seus planos.

Hospedada num pequeno Hotel, foi aconselhada pela proprietária, Dona Teresa a visitar a UFMT, que havia sido fundada três anos antes (1970), e ainda em processo de instalação e expansão de novos cursos. Ao visitar o Centro de Humanidades, foi surpreendida com o convite do Professor Dr. Gervásio Leite, então Diretor, para ministrar aulas de Língua Portuguesa para no chamado Ciclo Básico. Um detalhe: faltavam apenas 15 dias para o ínicio do ano letivo. Mesmo assim não titubeou em aceitar o desafio e, imediatamente, ligou para os pais comunicando a decisão e solicitando que lhe enviassem a mala com suas roupas. A família não se opôs à "radical" decisão que ela havia tomado.

Como demorou para receber o primeiro salário, morou e comeu fiado na pensão por três meses, graças a generosidade da Dona Teresa que, muitas vezes, lhe emprestava dinheiro para a passagem de ônibus.

Os primeiros contatos na UFMT, lembra ela, foram com os professores Emília Miraglia, Marilu Canavarros, D. Antônia, Albacete, Cleusa e Cleide Borges, Terezinha Albuquerque, Antonina e Elza. O reitor dessa época era Dr Gabriel Novis Neves, tendo como seu vice o prof. Benedito Pedro Dorileo.

Como as aulas eram no período vespertino, “sobrava” os períodos matutino e noturno, os quais foram logo ocupados com aulas no Colégio Coração de Jesus e no Barnabé de Mesquita.

Três anos depois, em 1976, participava do primeiro curso de graduação no interior, na cidade de Cáceres. Depois, continuou trabalhando pela interiorização da UFMT, seja no oferecimento de disciplinas, seja escrevendo projetos para a criação do campus de Rondonópolis, Médio Araguaia, Sinop e, mais recentemente Várzea Grande.

Na UFMT ocupou os mais diversos cargos de direção: Coordenação de Assistência Técnico Pedagógica ao professor, Serviço de Assistência à Produtividade do Ensino da Coordenação de Assistência Técnica; Gerente de Orientação Pedagógica, Serviço de Avaliação e Assistência à Produtividade do Ensino; Chefe do Departamento de Letras, Vice-coordenadora do Centro de Letras e Ciências Humanas, Coordenadora de Extensão, Pró-reitora de Graduação, Reitora (eleita e reeleita), presidenta do Grupo Coimbra de Universidades Brasileiras, presidenta da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior no Brasil (ANDIFES).

Em 8 anos à frente da Reitoria, guiada pelos princípios da DEMOCRATIZAÇÃO DO ACESSO, INCLUSÃO, AUTONOMIA, RESPEITO ÀS DIFERENÇAS, DIÁLOGO E INTERAÇÃO, liderou uma verdadeira revolução na UFMT. A Professora Maria Lúcia soube aproveitar, como ninguém, a política de expansão e fortalecimento do ensino superior promovida pelos governos Lula e Dilma.

Os números comprovam essa assertiva: implantou o Núcleo de Educação a Distância (NEAD), o pioneiro, entre as universidades federais nesta modalidade de ensino, contando hoje com 17 polos no interior da Universidade Aberta do Brasil (UAB); os cursos oferecidos tiveram um aumento significativo (graduação passou de 71 para 106; mestrado de 21 para 44 e doutorado de 3 para 16), inclusive implantando os primeiros cursos de mestrado e doutorado nos câmpus do interior; o total de estudantes praticamente dobrou (na graduação passou de 17.124 para 32.444; mestrado de 787 para 1647 e doutorado de 32 para 563); as bolsas de Iniciação Científica passaram de 66 para 191 e o número de estudantes de Iniciação Científica por voluntariado, de 183 para 404; criação e ampliação dos auxílios moradia, alimentação, vivência e permanência; foram contratados 1351 novos professores e 701 técnicos administrativos, com significativo investimento na qualificação e capacitação dos servidores; do total de professores, 62,8% possui doutorado e 28,4% mestrado; foram realizadas 96 obras novas, com um acréscimo de 75.430,74 m² em área construída, além de 32 obras em andamento, totalizando, assim, 128 novos espaços em todos os câmpus da UFMT; foram criadas 3 novas faculdades (Comunicação, História/Geografia e Geologia); foram criados 4 novos restaurantes universitários, passando de 1 para 5; entre outros.

Legado de destaque de suas duas gestões foi a implementação das chamadas “políticas afirmativas”, sendo pioneira na implantação das cotas (negros, índios, egressos de escolas públicas), destinando 50% das vagas, antes mesmo da aprovação da lei federal neste sentido. Já o Programa Estudantes-Convênio de Graduação (PEC-G), deu oportunidade de estudo e intercâmbio para 81 estudantes de Guiné-Bissau, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe.

Importante ressaltar que todas essas conquistas vieram acompanhadas de qualidade na graduação e na pós-graduação, com o Índice Geral de Cursos da UFMT-IGC- passando da nota 3 para 4, em uma escala de 0 a 5 e com as notas de mais da metade dos cursos de mestrado e doutorado alcançando as notas 4 e 5, numa escala de 0 a 7. Fruto de todo esse trabalho a UFMT saltou, no período de 2012 a 2015, de 77º  para o 33º lugar, entre 192 instituições públicas e privadas de ensino superior, segundo o Ranking Universitário da Folha.

Hoje, 44 anos depois de seu desembarque em Mato Grosso, Maria Lúcia Cavalli Neder, deixou de ser a moça apenas sonhadora, virou doutora, mãe, avó… De “pau rodado” se transformou em “pau fincado”. Enfrentou e venceu grandes desafios. Transformou-se numa referência nacional da Educação. Certamente continua sonhando: por um Mato Grosso, um Brasil e um Mundo melhor, mais humano e solidário.

Li recentemente uma entrevista em que aventou a possibilidade de vir a ser candidata ao Senado da República. Confesso que me empolguei. Torço e trabalho para que esse grande projeto possa se concretizar, afinal, nestes tempos bicudos onde predominam a descrença e a desesperança com os “mesmos dos mesmos”; onde os trabalhadores e trabalhadoras e o povo em geral são golpeados em seus direitos e conquistas, ter a opção de um nome da estatura da Professora Maria Lúcia, seja para a disputa ao Senado, seja para outro projeto político, será oportunidade impar para o eleitorado mato-grossense deixar de escolher o “menos pior” para escolher “a melhor”.

Pode contar comigo, Professora Maria Lúcia!

• Miranda Muniz – agrônomo, bacharel em direito, oficial de justiça-avaliador federal, dirigente da CTB/MT e presidente PCdoB-Cuiabá.