Derrotar o PSDB em São Paulo e no Brasil

Geraldo Alckmin deixou o governo do estado de São Paulo, encerrando, ao menos temporariamente, o mais longo período de governos de uma sigla em todo o país. Desde 1995, quando chegaram ao poder, os tucanos estão há quase um quarto de século na condução do governo.

Por Orlando Silva*

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Tanto tempo na direção do estado encontra algumas explicações. A enorme força de atração exercida pela gestão, com recursos e programas que são vitais às prefeituras. A verdadeira blindagem política, que tornou a Assembleia Legislativa caixa de ressonância das ordens do executivo e em cemitério de toda e qualquer tentativa de investigação sobre desmandos da administração. O desinteresse da mídia chapa-branca, que jamais se interessou em repercutir de verdade as inúmeras denúncias de malfeitos praticados por tucanos e apaniguados. Além de uma relação quase de compadrio com o poder judiciário estadual.

Infelizmente, o quarto de século de PSDB não deixa grandes feitos para o povo paulista. Afora o controverso Rodoanel, quais as grandes obras estruturais e de grande impacto para a população, realizadas neste tempo?

As grandes estradas que interligam o estado, as três grandes universidades paulistas, os grandes hospitais públicos de referência foram todos anteriores aos governos tucanos. A única coisa que Alckmin e seus antecessores inauguraram com eficiência é praça de pedágio em rodovia privatizada.

Esta incapacidade de planejar e induzir o desenvolvimento e enfrentar os gargalos estruturais do estado fica evidente quando pensamos a malha de trens e Metrô. O Plano Integrado de Transportes Urbanos (PITU) elaborado na gestão Mário Covas, anunciado em 2000, era chegar a 2020 com 284 km de transportes sobre trilhos interligando a região metropolitana. Pois bem, em sua velocidade geológica de expansão, a malha somada de Metrô e CPTM chegará a 100 km, se tudo der certo, agora em 2018.

Vejamos a educação. A situação da rede estadual é de sucateamento quase completo. Os professores do estado mais rico da Federação mal receberão o piso salarial da categoria em 2018 – R$2.459 ganhará o docente paulista da Educação Básica I, 4 reais além dos R$2.455 do piso para este ano. No ensino superior, USP, UNESP e UNICAMP lutam como podem pela sobrevivência e veem o governo reduzir os repasses vinculados ao ICMS, atacando o financiamento e comprometendo a autonomia universitária.

A falta de democracia no tratamento das reivindicações e das entidades de representação do funcionalismo chega ao disparate. Disse-me certa vez a presidenta da Apeoesp, sindicato dos professores da rede estadual, o maior sindicato da América Latina, que nunca foi sequer recebida pelo governador.

Mais grave ainda é a habitual truculência policial no trato das questões sociais. No ano passado, tive que fazer uma representação cobrando explicações do comandante da ROTA que defendeu abordagens distintas pela polícia nas áreas nobres e nas periferias. Num preconceito confesso, defende afagos nos ricos e violência contra os pobres. Só que isso tem um preço impagável em vidas humanas: 266 mortes foram causadas por policiais fora do expediente no ano de 2016. É um escândalo.

Poderia continuar discorrendo longamente sobre os fracassos do PSDB à frente do estado mais rico do Brasil. Mas prefiro falar de uma oportunidade.

Pela primeira vez neste quarto de século, o PSDB não estará na condução da máquina pública estadual na disputa das eleições – em 2006, Cláudio Lembo assumiu, mas não disputou a eleição e apoiou José Serra. Por isso, as forças políticas acompanham com interesse a cisão comandada pelo atual governador, que disputará a eleição contra o tucano João Doria. Derrotar o PSDB em São Paulo, representado em sua face mais neoliberal e truculenta pelo prefeito que abandonou a capital, será um alívio para o povo do estado e um grande serviço para o Brasil.