Alckmin e os movimentos sociais

Os governos tucanos sempre tiveram pouco apreço na sua relação com os movimentos sociais. Geraldo Alckmin, que governou São Paulo por vários mandatos, não fugiu a esse comportamento.

Por Julia Roland*

Movimentos Sociais

Independentemente da natureza do movimento, seja de trabalhadores das estatais, como Metrô e a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) e do funcionalismo; seja dos movimentos de mulheres, dos negros, da população de rua, da população LGBT, da juventude e tantos outros – sempre foram vistos com muita indiferença.

O governo nunca estabeleceu diálogo com as lideranças desses movimentos para discutir suas demandas, muitas vezes imprimiu forte repressão às variadas mobilizações e apenas pontualmente atendeu a algumas reivindicações, para evitar desgaste maior em função de suas pretensões eleitorais.

Para relembrar alguns momentos:

Em 2013 quando das manifestações contra o aumento dos transportes, ocasião em que o palácio dos Bandeirantes ficou literalmente sitiado pelos manifestantes, o braço forte da repressão caiu sobre estes e Alckmin aceitou prontamente a proposta do então prefeito Fernando Haddad e anunciaram, em conjunto, a diminuição do preço das passagens de ônibus e metrô.

Em 2015 aconteceu um forte questionamento ao plano do governo Alckmin de fechar mais de 90 escolas, a pretexto de adequar ou reestruturar a rede estadual de ensino. Os jovens secundaristas ocuparam mais de 225 escolas no estado, com grande apoio dos professores, pais e mães. O governo atuou como gosta e sabe fazer bem, intimidando o movimento com a polícia militar. Isso provocou mais adesão e simpatia da sociedade à bandeira de defesa da educação, obrigando o governo a recuar, pelo menos naquele momento de sua absurda proposta de fechar salas de aula.

Outro momento pontual que ilustra recuo do governo, foi o acordo feito com o Movimento do Trabalhadores Sem Teto (MTST), que ocuparam por 6 meses um terreno em São Bernardo do Campo. Após muitas ameaças, idas e vindas em disputas judiciais a ocupação foi encerrada com o acordo de 2.400 moradias, atendendo parte daqueles que lutaram e resistiram.

No entanto, o comportamento mais característico e permanente do governo Alckmin foi de completa indiferença e frieza diante das recorrentes reivindicações dos trabalhadores, em especial das áreas de educação e saúde, que mais frequentemente se mobilizaram em função das precárias condições de trabalho e das insuficiências dos serviços prestado à população. Foram inúmeras e prolongadas greves que anualmente aconteceram e o governo nunca apresentou nenhuma perspectiva de solução para os graves problemas dessas áreas, que se aprofundam a cada dia em função da grave crise econômica, que aumenta a demanda por serviços públicos de saúde e educação. A tática do governo sempre foi de não reconhecer a insatisfação e a mobilização dos trabalhadores, apostando sempre no esvaziamento dos movimentos sem nenhuma preocupação com as necessidades da maioria da população usuária dos serviços públicos.

Alckmin aprovou no apagar das luzes do ano legislativo de 2017, o PL 920/2017, que congela os investimentos públicos a exemplo do “teto de gastos sociais” do governo federal. Cabe ressaltar que o funcionalismo realizou grandes mobilizações que retardaram, mas foram insuficientes para barrar o projeto na Assembleia Legislativa.

Outra questão a ser analisada é o papel dos Conselhos de participação social nos governos tucanos. Aqueles que existem, tem funcionamento frequentemente ignorado ou mesmo desrespeitado pelo secretário da área. Operam formalmente, muito distante de representarem espaços reais de democracia participativa, impossibilitando de cumprir seu papel em aprovar diretrizes e acompanhar a aplicação dos planos específicos de cada área social.

Apesar de muita luta das entidades representativas dos trabalhadores das estatais e do funcionalismo, outra marca significativa dos governos tucanos é a continuidade no processo de privatização e terceirização das estatais e dos serviços públicos, em especial, de saúde. Nos serviços de saúde, inicialmente, a terceirização era dada apenas nas áreas de apoio, hoje a totalidade dos serviços estão sendo entregues para o setor privado administrar, muitas vezes com prejuízo na qualidade do ofício prestado. Em relação à malha metroviária, as novas linhas estão destinadas à privatização e em meio a tudo isso todos os presidentes do metrô foram indiciados com fortes sinais de corrupção.

Após 23 anos de supremacia tucana no estado de São Paulo, nesse ano, abre-se a possibilidade de interrupção dessa situação. Nessas eleições os tucanos disputam o governo fora da máquina estadual, abrindo- se oportunidade de renovação das forças políticas que irão governar o estado a partir de 2019.