Publicado 13/03/2006 16:30
Uma parceria entre a Fundação Cultural do Exército Brasileiro e o Ministério da Cultura levará ao grande público um dos episódios mais curiosos da História do Brasil. O hino Avante Camaradas, ouvido com freqüência nas cerimônias militares, paradas ou comemorações cívicas, não foi composto para o Exército, mas para a Coluna Prestes, nos anos 20.
Por um desses desencontros que ponteiam a vida das sociedades, o hino revolucionário acabou nas mãos das tropas que tinham sido destacadas para combater a Coluna Prestes, que, entre 1925 e 1927 marchou por boa parte do País, atravessando Minas Gerais, Bahia, Goiás, Paraíba, Pernambuco, até chegar ao Jalapão, hoje no Estado do Tocantins, e internar-se em território boliviano.
No dia 21 a história inteira será mostrada em Brasília, com a exibição do filme Avante Camaradas, da cineasta Micheline Bondi, lançado em 1986. Será feita uma festa. O Exército não só vai hospedar os componentes da banda Filarmônica Lira Angicalense, como vai treiná-los a tocar o antigo hino.
Depois da exibição do filme, no Cine Brasília, a Filarmônica Angicalense executará Avante Camaradas com reforço da banda militar. No dia 8 de abril o filme será exibido em Salvador, na Biblioteca Pública da Bahia.
O hino foi composto pelo maestro Antonino Espírito Santo, que nasceu em Angical, no oeste da Bahia. O filme conta a história do hino – como foi composto para a Coluna Prestes e caiu em mãos dos oficiais do Exército.
De acordo com o curta-metragem, de pouco mais de 14 minutos, realizado em 1986 e que contou com a participação de atores e cidadãos de Angical, nos anos 20 chegou ao município a notícia de que os integrantes da Coluna Prestes aproximavam-se de São Romão, no Rio São Francisco, muito perto dali.
Entusiasmados com as notícias exaltadas que os jornais narravam sobre a insurreição comandada pelo capitão Luiz Carlos Prestes, Angical inteira se preparou para receber os revolucionários com uma festa sem precedentes.
Acontece que a Coluna se desviou, seguiu cinco dias pela Bahia, avançou rumo ao Maranhão e se desviou para Pernambuco. Na ocasião, foi registrada uma grande batalha em Piancó, na Paraíba.
Depois, a Coluna avançou novamente pela Bahia e o povo de Angical se animou. O maestro Antonino Espírito Santo então compôs o dobrado Avante Camaradas. Segundo a fita de Micheline Bondi, Antonino passou a tocar a marcha todos os dias no coreto da praça, com a participação dos cidadãos de Angical. Numa manhã, quando o povo da cidade acordou, percebeu que havia novidades por ali.
Decepção. Quem chegou foi um destacamento do Exército, incumbido justamente de tentar parar a Coluna Prestes. Os militares acamparam em Angical e, durante o tempo em que passaram por lá, ouviam todos os dias os acordes do Avante Camaradas. Decoraram o hino.
Assim que Prestes alcançou a Bolívia, o destacamento foi autorizado a voltar para o Rio de Janeiro. Os soldados foram embora cantando o Avante Camaradas, que logo se propagou por todo o País e acabou adotado pelo Exército.
Confira a letra da música:
Avante, Camaradas!
Letra/Música: Antonio E. Sarno
Avante, camaradas!
Ao tremular do nosso pendão
Vençamos as invernadas
Com fé suprema no coração.
Avante sem receio
Que em todos nós a Pátria confia
Marchamos com alegria, avante!
Marchamos sem receio. (2x)
Aqui não há quem nos detenha
E nem quem turve a nossa galhardia.
Quem nobre missão desempenha
Temer não pode a tirania, a tirania.
E nunca seremos vencidos
Pois marchamos sob a luz da crença.
Marchamos sempre convencidos
Não há denodo que nos vença (2x)
Avante, camaradas!
Ao tremular do nosso pendão
Vençamos as invernadas
Com fé suprema no coração.
Avante sem receio
Que em todos nós a Pátria confia
Marchamos com alegria, avante!
Marchamos sem receio.
Havemos sempre audazes
A afrontar o perigo;
E seremos perspicazes
Ante o mais férreo inimigo.
Por isso, não temamos:
Sempre fortes e sobranceiros,
E com bravura sempre lutaremos;
Brasileiros nós somos,
Nós somos Brasileiros! (2x)