Cultura popular se destaca em Belém

Grupo de dança de rua de Belém destaca-se em campeonato e divulga o nome do Pará no exterior. Adeptos do hip hop, os rapazes lutam contra o preconceito para concretizar sua arte

Nos últimos anos, a cultura hip hop tem adquirido vários adeptos em todo o mundo. Desde o seu nascimento nas ruas do bairro do Bronx em 1974, ela está entre nós, com seu misto de ideologia político-social e mistura rítmica, a qual empresta do funk, do jazz e do blues. Da música à dança, do vestuário ao modo de vida, o hip hop forma hoje artistas, adeptos e empresários. Em Belém, por exemplo, existem mais de vinte grupos de rap, que estão saindo das periferias e ocupando diversos espaços da cidade.
Os rapazes do grupo de dança Style Amazon B Boys tentam mover barreiras para imprimir o estilo de vida num lugar pouco propício para isso. Formado por Paulo “Fera”, Lucas “Maluquinho”, Marcos “Ninja”, Ney “Sawary”, Alípio “B Boy”, Catrina “B Girl”, Evaldo “Passa Dias” e Alberto “Hulkinho”, eles conseguiram o terceiro lugar no 3º. Campeonato Internacional de Dança de Rua, depois de vencer o grupo francês Djambel Free Touch. O concurso reuniu 15 grupos e foi realizado entre 7 e 9 de abril no Teatro das Bacadeiras, em Macapá.
Além do 3º lugar, os rapazes trouxeram para Belém o troféu de Melhor Dançarino do Brasil, concedido a Lucas Gadelha, o “Maluquinho”, que agora terá a oportunidade de divulgar o trabalho do grupo paraense na Europa, através da companhia de dança carioca Springdance, financiadora da viagem. “O que mais nos orgulha é o trabalho de um grupo paraense sendo divulgado no exterior”, comenta Marcos “Ninja”, um dos integrantes. “Não é qualquer um que chega num concurso e vence grupos internacionais de grande prestígio”.
Inspirados pelos filmes Beat Street e Breakdance, desde meados dos anos 80, o grupo se apresenta nas ruas de Belém, mostrando a riqueza dos movimentos da dança chamada break, uma das expressões da cultura hip hop. “A maioria dos integrantes do grupo era de ginastas olímpicos mas, na época, não havia um mínimo incentivo para isso”, relembra Marcos. “Quando representávamos o Pará em campeonatos nacionais, ficávamos em alojamentos precários e o equipamento para treino era ultrapassado. Através dessas viagens, tomamos contato com a cultura hip hop em São Paulo e Rio de Janeiro e acabamos nos identificando com isso.”
O bronze no Campeonato Internacional deu aos Style Amazon B Boys a oportunidade de se apresentar na “Batalha do Ano”, um dos mais importantes eventos de dança de rua no Brasil. A competição costuma reunir cerca de cinco mil pessoas no Ginásio do Ibirapuera, em São Paulo e, nos últimos anos, impulsionou a divulgação da cultura hip hop no país. Em agosto, eles estão no “Summer Dance”, evento de verão que reúne vários grupos de dança em Caiena, na Guiana Francesa.
Segundo Marcos, mais do que divulgar a cultura do próprio grupo, o melhor é afastar a impressão negativa dos grupos de streetdance. “Queremos mostrar que as pessoas que estão nesse ramo não podem ser marginalizadas”, comenta o dançarino. “O fato de seguirmos a cultura hip hop não significa que sejamos marginais. É o velho preconceito com a periferia. Sobretudo, somos profissionais em busca do aperfeiçoamento”.
HIP HOP – O movimento hip hop se expressa através de seis vertentes: O R.A.P, que é a sigla de rhythm and poetry (ritmo e poesia), ou seja, a música do hip-hop; o break (expressão corporal, dança); O MC, Mestre de Cerimônia, vocalista e orador da mensagem do rap; O DJ, que faz a mixagem; o grafite (pintura em muros); e o conhecimento, necessário em todas as vertentes para repassar a mensagem.
O rap é composto de letras que expressam o dia a dia da periferia, abordando temas como raça, gênero, violência policial, condição social, política, entre outros. “Para nós, o rap é a melhor arma para combater o racismo. A letra é para dar voz a quem não tem. Ele expressa o que poucos têm coragem de dizer no dia a dia. O hip hop vem na contramão da escravidão e da abolição, pois resgata a auto-estima e aponta para os jovens um novo horizonte, com dignidade. Ele vem para mostrar que a miséria não é algo natural”, comenta Marcos “Black Z” Souza, do grupo Opção Verídica.
Nilza Souza, conhecida como Mina (Mulher Inteligente Nascida com Atitude), é a única representante feminina negra no grafite de Belém. Ela nunca fez nenhum curso de desenho ou pintura, mas hoje já dá oficinas de grafite. Ela procura expressar nos muros da cidade, principalmente os do bairro do Benguí, questões raciais, da Amazônia, política e expressões de protesto. “Tinha raiva de rap, pois meu irmão ouvia muito e era envolvido com garotos do movimento, inclusive do grafite. Tinha raiva das músicas. Depois comecei a entender e procurei me encaixar nos grupos que iam até minha casa. Eles estavam procurando meninas para o movimento e perceberam que eu sabia desenhar”, conta.
Fonte: Jornal Diário do Pará