O futuro governo Prodi segundo o senador Del Roio, da Refundação Comunista

A Itália tem um senador brasileiro e, de quebra, marxista. É o historiador José Luís Del Roio, que se naturalizou italiano, mora em Milão e foi eleito no começo de abril, pelo Partido da Refundação Comunista (PRC). Membr

É num cenário promissor que o senador vai assumir o cargo. O PCR integrou a La Unione — coalização de forças pela qual Romano Prodi se elegeu primeiro-ministro. Na mais acirrada disputa eleitoral na história da Itália, Prodi superou, por menos de 1% dos votos, o conservador Silvio Berlusconi, da Força Itália, que estava no poder desde 2001. A expectativa é de que o país europeu tenha um governo de feição popular e antiimperialista. O novo primeiro-ministro já garantiu que, uma vez empossado, vai retirar as tropas italianas no Iraque, à semelhança do que fez José Luis Rodríguez Zapatero com os soldados espanhóis, em 2003, ao chegar à chefia do Estado ibérico.

Em entrevista ao Vermelho Online, Del Roio opinou sobre as relações do futuro governo italiano com os movimentos sociais, a Refundação Comunista e o Brasil. Para o senador, o programa político de Prodi é avançado em vários sentidos, o que sinaliza o estreitamento das relações do governo com representantes de causas progressistas. Confira.

O governo Prodi e os movimento sociais
“Os movimentos sociais lutaram muito para mudar a situação política, mas precisam manter sua autonomia, e eu creio que a manterão. Eles já têm uma experiência bastante dolorosa, quando houve um governo de centro-esquerda que apoiou, em 1999, o ataque à Iugoslávia. Isso custou muito caro, mas a experiência servirá agora de exemplo. Mesmo que um governo possa ter representantes, pessoas e amigos que vêm do próprio movimento, é preciso ter autonomia. Até porque a plataforma dos movimentos sociais é sempre mais avançada do que pode ser um governo de coalizão.”

O governo Prodi e a Refundação Comunista
“Tudo indica que as relações com o novo primeiro-ministro serão excelentes. Pode parecer algo estranho pela História da Itália, mas Prodi realmente tem se pautado por um programa avançado, tanto na questão social e do trabalho quanto nas relações internacionais, na questão da paz. Ele próprio já exprimiu, por diversas vezes, seu interesse político em estreitar essas relações conosco. Tanto é que tem pedido sistematicamente a Fausto Bertinotti, secretário da Refundação Comunista, a ser ministro dele. Não creio que será, mas este é um problema do partido. Eu acredito que as relações serão boas, sim.”

O governo Prodi e o Brasil
“As relações entre Brasil e Itália estão muito ruins, no sentido de que o governo de extrema-direita de Berlusconi se chocava com a política exterior do governo Lula. Era um choque constante, em quase todos os aspectos. Acho que, agora, existirão alguns pontos de acordo. Isso vai ter uma recaída concreta no relacionamento cultural, econômico e — espero também — tecnológico entre os países. Existem coisas complementares que podem ser trabalhadas. Veja que as colônias italianas na América do Sul demonstraram seu repúdio ao governo Berlusconi, votando na união de centro-esquerda. Sem dúvida nenhuma, é necessário que Lula visite a Itália, ou que Prodi nos dê a felicidade de vir ao Brasil. É uma idéia minha — uma proposta que acho muito importante para esses dois países.”

Por André Cintra,
enviado especial a Recife (PE)