Movimento negro defende com manifestação política de cotas

O movimento negro marcou presença na audiência pública sobre o projeto de lei que cria cotas para ingresso de estudantes das escolas públicas, inclusive índios e negros, nas universidades e escolas de ensino técnico, nesta ter&cce

A audiência, que reuniu diversas autoridades na área da educação, incluindo o ministro da Educação, Fernando Haddad, cumpriu o acordo feito entre a Presidência da Casa e o PSDB para levar o projeto para votação no plenário da Câmara.

O presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), Gustavo Petta, que participou de uma das quatro mesas de debate, avalia que "essa audiência supera o último obstáculo que impedia a votação em plenário", acrescentando que "o argumento apresentado pelo PSDB era infundado, só servia para adiar o processo. A expectativa agora é que o projeto possa ir imediatamente para plenário para ser votado pela Câmara e seguir para o Senado".

Os argumentos apresentados foram os mesmos que vinham sendo expostos no debate "que já está acontecendo a muito tempo na sociedade brasileira e que mais uma vez foi expresso pelas personalidades e autoridades no assunto que participaram do debate", explica Petta.

Ele comunga com a opinião da maioria, de que o projeto deve ser aprovado "não com a idéia de que vai solucionar o problema, mas que vai complementar uma política transitória, necessária para a democratização do acesso à universidade brasileira. "O debate foi rico, com argumentos favoráveis e contrários, e participação dos deputados e autoridades, e tende para a idéia de que o projeto deve ser aprovado", afirmou.

Ânimos acirrados

Manifestantes do grupo Educafro entraram em confronto com os seguranças da Câmara, que tentaram impedi-los de entrar no plenário para se manifestarem favor da aprovação do projeto. Vestidos com camisetas pretas, os manifestantes formaram círculos em torno da entrada do plenário, gritando palavras de ordem. Cinco deles chegaram a se deitar no chão, para formar, com o corpo, a palavra "cotas".

Gustavo Petta analisou a situação como "legítima e correta". Para ele, "a utilização de recursos para impedir a votação do projeto provoca a intensificação da mobilização dos movimentos sociais pela aprovação do projeto. O fato do PSDB ter insistido para impedir votação em plenário vai acirrando os ânimos e o movimento social, negro, de estudantes secundaristas tendem a colocar com mais força suas reivindicações".

Ação afirmativa

O projeto destina 50% das vagas nas universidades, por curso e turno, para quem cursou o ensino médio em escolas públicas. Dentro desse percentual, haverá também reserva de vagas para alunos que se declararem negros ou índios em uma proporção igual à população de negros e indígenas em cada estado brasileiro.

O projeto já foi aprovado pelas comissões de Educação e Cultura; de Direitos Humanos e de Constituição e Justiça da Câmara e poderia ter seguido para o Senado por ter sido aprovado em caráter conclusivo pelas comissões. Mas um requerimento do deputado Alberto Goldman (PSDB-SP), aprovado pelo Plenário, solicitou que o projeto fosse discutido e votado por todos os deputados.

Críticas a partidarização

O ministro da Educação, Fernando Haddad, queixou-se de que a opinião pública não está corretamente informada sobre a criação de cotas universitárias. E criticou a "partidarizaçao" do tema. "Não se trata de um debate entre progressistas e conservadores ou entre racistas e não-racistas", disse o ministro. Ele lembrou que o debate, que já vinha sendo feito com todos os partidos na Câmara, surge da constatação de que existem camadas da população historicamente prejudicadas no acesso à universidade e que necessitam de políticas de afirmação.

O ministro ressaltou que o Projeto de Lei da deputada Nice Lobão (PFL-MA), de 1999, foi o primeiro sobre o assunto e que, depois, mais de 20 propostas que tratam do tema passaram a tramitar na Câmara. Mas que somente em 2004 é que o Poder Executivo enviou um projeto de lei que determina a criação de cotas. Haddad afirmou esse projeto só foi encaminhado porque o governo estava convencido do mérito da proposta e porque era uma promessa de campanha do presidente Lula.

Casos exemplares

Haddad refutou as análises de "especialistas", lembrando que o sistema de cotas já existe em 14 universidades federais e não houve prejuízo acadêmico, perturbação da harmonia ou falta de diálogo pela introdução das medidas afirmativas. O ministro também ressaltou que as ações não prevêem o fim do vestibular e de outros processos seletivos, mas pretendem acabar com as desigualdades nas seleções feitas atualmente.

A ministra da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, Matilde Ribeiro, também defendeu o projeto, destacando as experiências de reserva de vagas nas universidades públicas, "que levaram a sociedade a mudar o seu olhar sobre o tema". Ela citou o exemplo das três iniciativas pioneiras – universidades estaduais da Bahia e do Rio de Janeiro e da Universidade de Brasília (UnB).

A ministra destacou que não houve rebaixamento do nível acadêmico nem reforço à discriminação. Ela disse que a experiência serviu, nesses casos, para o reconhecimento de todos como cidadãos. "A lei poderá fortalecer o que já é prática. E essa prática não é nociva à democracia no País, pois garante o acesso mais rápido e eficaz dos que nunca tiveram oportunidade", declarou.

O ministro da Educação, Fernando Haddad, queixou-se de que a opinião pública não está corretamente informada sobre a criação de cotas universitárias. E criticou a "partidarizaçao" do tema. "Não se trata de um debate entre progressistas e conservadores ou entre racistas e não-racistas", disse o ministro. Ele lembrou que o debate, que já vinha sendo feito com todos os partidos na Câmara, surge da constatação de que existem camadas da população historicamente prejudicadas no acesso à universidade e que necessitam de políticas de afirmação.O ministro ressaltou que o Projeto de Lei da deputada Nice Lobão (PFL-MA), de 1999, foi o primeiro sobre o assunto e que, depois, mais de 20 propostas que tratam do tema passaram a tramitar na Câmara. Mas que somente em 2004 é que o Poder Executivo enviou um projeto de lei que determina a criação de cotas. Haddad afirmou esse projeto só foi encaminhado porque o governo estava convencido do mérito da proposta e porque era uma promessa de campanha do presidente Lula.Haddad refutou as análises de "especialistas", lembrando que o sistema de cotas já existe em 14 universidades federais e não houve prejuízo acadêmico, perturbação da harmonia ou falta de diálogo pela introdução das medidas afirmativas. O ministro também ressaltou que as ações não prevêem o fim do vestibular e de outros processos seletivos, mas pretendem acabar com as desigualdades nas seleções feitas atualmente.A ministra da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, Matilde Ribeiro, também defendeu o projeto, destacando as experiências de reserva de vagas nas universidades públicas, "que levaram a sociedade a mudar o seu olhar sobre o tema". Ela citou o exemplo das três iniciativas pioneiras – universidades estaduais da Bahia e do Rio de Janeiro e da Universidade de Brasília (UnB).A ministra destacou que não houve rebaixamento do nível acadêmico nem reforço à discriminação. Ela disse que a experiência serviu, nesses casos, para o reconhecimento de todos como cidadãos. "A lei poderá fortalecer o que já é prática. E essa prática não é nociva à democracia no País, pois garante o acesso mais rápido e eficaz dos que nunca tiveram oportunidade", declarou.

Argumentos desmontados

Outra voz que defendeu o sistema de cotas foi do professor Valdélio Santos Silva, da Universidade Estadual da Bahia (Uneb). Ele disse que a reserva de vagas em universidades é o reconhecimento de que existe uma população discriminada socialmente por sua cor. Segundo ele, os três principais argumentos contrários à política de cotas já foram desmontados pelas experiências realizadas.

O primeiro deles é de que não existe racismo institucionalizado no Brasil, como houve nos Estados Unidos ou na África do Sul. O professor lembrou que, nesse caso, não é necessária a formalização ou legalização do racismo para comprovar a sua existência. O segundo argumento, de que o sistema de cotas rebaixaria o nível das universidades, também não se comprovou. Segundo ele, em muitos cursos a média das notas dos alunos que ingressaram por meio de cotas é superior à dos demais.

Ele também rejeitou o argumento de que o vestibular é uma boa medida para avaliar os estudantes. Na opinião de Silva, o vestibular beneficia os alunos de escolas particulares e de cursos pré-vestibulares, que oferecem um "adestramento específico" para aprová-los nos concursos.
 

Outra voz que defendeu o sistema de cotas foi do professor Valdélio Santos Silva, da Universidade Estadual da Bahia (Uneb). Ele disse que a reserva de vagas em universidades é o reconhecimento de que existe uma população discriminada socialmente por sua cor. Segundo ele, os três principais argumentos contrários à política de cotas já foram desmontados pelas experiências realizadas. O primeiro deles é de que não existe racismo institucionalizado no Brasil, como houve nos Estados Unidos ou na África do Sul. O professor lembrou que, nesse caso, não é necessária a formalização ou legalização do racismo para comprovar a sua existência. O segundo argumento, de que o sistema de cotas rebaixaria o nível das universidades, também não se comprovou. Segundo ele, em muitos cursos a média das notas dos alunos que ingressaram por meio de cotas é superior à dos demais. Ele também rejeitou o argumento de que o vestibular é uma boa medida para avaliar os estudantes. Na opinião de Silva, o vestibular beneficia os alunos de escolas particulares e de cursos pré-vestibulares, que oferecem um "adestramento específico" para aprová-los nos concursos. 

"Equilibrado e prudente"

Também o jurista Fábio Konder Comparato, professor da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP), defendeu a existência de políticas afirmativas baseadas no princípio da igualdade proporcional. "Não dá para tratar igualmente os desiguais", disse. Ele considerou "equilibrado e prudente" o projeto de lei em análise na Câmara.

O deputado Severiano Alves (PDT-BA) disse ser favorável ao Projeto de Lei, mas ressaltou que a criação das cotas é uma medida paliativa, reparadora e que não pode ser eternizada. Já o líder do Psol, deputado Ivan Valente (SP), afirmou que o projeto tem uma imensa simbologia, porque trabalha contra valores que perpetuam a desigualdade social e contra a "superioridade de uma elite que não tem projeto de Nação".

Voz destoante

A professora de Antropologia da Universidade de São Paulo (USP), Eunice Durham, manifestou posição contrária à reserva de vagas nas universidades. Na avaliação dele, a iniciativa representa a inversão do problema.

Ela defende a implantação das políticas afirmativas em conjunto com um processo de melhoria do ensino em todos os níveis, já que mais de 57% dos jovens brancos e de 75% dos jovens negros não conseguiram chegar ao ensino superior porque não completaram os ensinos fundamental e médio.

Eunice propõe que as universidades públicas organizem cursos pré-universitários para os estudantes das escolas públicas e de menor renda, de modo que eles superem as dificuldades de aprendizagem antes de ingressarem no ensino superior. "Não é possível pensar que vamos resolver o problema só no final do processo", disse.

A professora ressaltou que os negros, em sua maioria, não ingressam no ensino superior porque são discriminados nos demais níveis de ensino e não receberam as competências suficientes para passar no vestibular. A professora lembrou que a proporção de analfabetos na população brasileira era de 20% entre os negros e 8% entre os brancos em 1999.

De Brasília

Márcia Xavier