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Renildo Calheiros: “Saímos ilesos da crise. Isso nos fortalece”

Em entrevista publicada no último domingo no Jornal do Commercio (PE), o deputado federal Renildo Calheiros (PCdoB-PE) falou sobre o crescimento do PCdoB e a crise política que se abateu especialmente sobre o PT a partir de 2005. Veja abaixo

Vice-presidente nacional do PCdoB, o deputado federal por Pernambuco Renildo Calheiros, 47 anos, tem se mostrado um líder político pragmático no Congresso. Com bom trânsito mesmo entre os adversários, é fundamental para o governo Lula nos momentos mais difíceis. Irmão do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e de outros dois deputados alagoanos, construiu a carreira no minúsculo PCdoB e na militância estudantil. O ex-presidente da UNE fala nesta entrevista ao JC sobre a aliança histórica que os comunistas mantêm com o PT e diz que a relação entre eles nem sempre foi fácil.

JORNAL DO COMMERCIO – O PCdoB cresceu bastante nesses últimos anos. O governo Lula ajudou de alguma forma nesse processo?

RENILDO CALHEIROS – Não o governo Lula em si. Mas esse período em que o Brasil vive, que colocou as forças de esquerda no centro do tabuleiro, no centro do jogo político. O PCdoB chegou a ter dois ministros de Estado. Hoje continua com um (Esporte). Isso não é uma coisa qualquer. É um espaço político importante que foi conquistado. O PCdoB tem hoje o presidente da Câmara dos Deputados. Ou seja, criou-se um ambiente político onde diminui o preconceito, onde você pode articular mais amplamente, onde você se insere mais no grande jogo da política brasileira. Então, sem dúvida nenhuma, esse ambiente nos favoreceu.


JC
– Vocês não temem que a crise ética que atinge hoje diretamente o PT e o governo Lula prejudique também o PCdoB nessas eleições?


RENILDO
– Nós temos a felicidade de o partido ter saído disso ileso, sem problema, o que nos dá uma condição política muito boa. Mas faz parte da nossa cultura política não fazermos da ética o centro da nossa ação.


JC
– Foi um erro do PT…


RENILDO
– Acho que esse é um dos erros primários que o PT cometeu. Até porque o que diferencia uma força de esquerda, com compromissos populares e com a transformação, não é o discurso da ética. Ele pode ser feito por qualquer um. Ele é apenas um discurso. E no Brasil a história mostra isso. Quem mais fez o discurso da ética no Brasil foi o Jânio Quadros. Criou inclusive a célebre campanha do "Varre, varre, vassourinha", que era um discurso contra o Juscelino Kubitschek. Ser ético e honesto não é uma plataforma, não pode ser um programa, isso é uma exigência, é uma condição para você integrar a vida pública. O PT fez da ética um discurso fácil, primário, e hoje paga um preço muito grande por isso. Onde existir o ser humano o erro sempre vai estar junto. Isso é assim até em instituições menores, como a família. Imagine num negócio que envolve milhares e milhares de pessoas. E sobre as quais você muitas vezes não tem o menor controle.


JC
– Vocês têm cobrado reciprocidade do PT no apoio a alguns de seus candidatos majoritários. Isso está sendo atendido?


RENILDO
– As construções com o PT são sempre muito difíceis e muito trabalhosas. O PT tem muitas correntes. Para você fazer uma negociação com o PT não é suficiente com algumas lideranças só. Você tem que conversar praticamente com todo mundo para não ser surpreendido com o resultado de uma plenária, de uma convenção. Tem alguns Estados em que o PT é um partido muito maduro. Pernambuco é um desses. Temos um bom entrosamento. Há outros Estados que são assim. Sergipe, Acre. Mas há Estados em que esse relacionamento é complicado.


JC
– Como em Brasília?


RENILDO
– Brasília não é dos mais complicados, mas já dá muito trabalho. Nós fazemos nacionalmente um esforço no sentido de diminuir esses problemas.