Funcionários da Caixa denunciam tucanos e lançam campanha

Partidários da atuação “social” da Caixa Econômica Federal (CEF), trabalhadores do banco deflagraram a campanha “O Brasil precisa da Caixa”, que se espalhará pelo Brasil em atos nas associaçõ

A hipótese de forças políticas liberais voltarem ao Planalto com suas idéias privatistas assusta movimentos sociais, parlamentares e trabalhadores da Caixa Econômica Federal (CEF), que estão se mobilizando para defender a vocação pública do banco. Os partidários da atuação “social” da instituição deflagraram, na quarta-feira (03/05), em Brasília, a campanha “O Brasil precisa da Caixa”, durante ato em que se divulgou manifesto homônimo. O próximo passo será realizar, no dia 22 de maio, atos por todas as associações estaduais de funcionários da Caixa.

“Esta é uma iniciativa a partir de matérias publicadas na imprensa e de manifestações no Congresso que mostram que o processo eleitoral já iniciou e tem dois projetos antagônicos para o País”, disse José Carlos Alonso, presidente da Federação Nacional das Associações do Pessoal da Caixa (Fenae). Segundo Alonso, o projeto “antagônico” ao do atual governo prejudica o Brasil e o banco. “Nos anos do neoliberalismo, quando a Caixa estava sendo preparada para privatização, a empresa não conseguiu investir em habitação e saneamento. E foi um período que o país teve um dos menores crescimentos da história”.

Os representantes de movimentos sociais presentes à manifestação concordaram com o diagnóstico e pregaram a continuidade da Caixa sob controle estatal. “Todas as privatizações do governo Fernando Henrique fracassaram. A gente acredita que o Brasil precisa da Caixa”, disse Sidnei Antonio Pita, da União Nacional por Moradia Popular (UNMP). “O papel do governo é manter o que é público, para atender setores excluídos da sociedade”, declarou Maria das Graças Xavier, da União dos Movimentos de Moradia de São Paulo (UMM-SP), que faz parte da Central dos Movimentos Populares (CMP).

Deputada pelo PT no Distrito Federal, a bancária Érica Kokay, funcionária afastada da Caixa, disse que há um debate “ideológico” opondo “projetos conflitantes”. De um lado, a proposta de privatização, que levaria o banco a atuar conforme as regras do dito mercado, em que a busca do lucro atropela o interesse da sociedade em geral. Do outro, a convicção de que o Estado pode e deve usar a instituição em favor da maioria da população.

“Com recursos do FGTS [Fundo de Garantia por Tempo de Serviço], a Caixa está desenvolvendo uma das maiores políticas públicas para acabar com o déficit habitacional. Um banco público pode fazer política e apresentar resultados”, afirmou Carlos Augusto Borges, vice-presidente de Transferência de Benefícios da Caixa.

No ano passado, a Caixa teve lucro recorde de R$ 2 bilhões, 46% maior que em 2004. É verdade, também, que quase todas as instituições financeiras alcançaram ganhos históricos, empurrados, sobretudo, pelas operações ancoradas nos juros altos do Banco Central.

Crise ‘incentiva’ privatização –
Para o movimento em defesa da Caixa, dois fatos ligados à crise política machucaram o banco nos últimos tempos e serviram para alimentar discursos privatistas. Primeiro: a investigação, pela CPI dos Bingos, do contrato da Caixa com a multinacional GTech. Segundo: a apuração, pelo Tribunal de Contas da União (TCU), da compra, pela Caixa, da carteira de crédito consignado – empréstimo com desconto no contracheque – do BMG.

O movimento encara as duas suspeitas como tentativas de “orquestrar” uma campanha em desfavor da Caixa. “Os ataques contra a empresa foram feitos de forma irresponsável”, disse Geraldo Magela, ex-presidente do Banco Popular.

A Caixa, por meio de sua assessoria de imprensa, rebate as duas desconfianças (da CPI e do TCU). No caso do contrato com a GTech, alegou que o procurador do Ministério Público junto ao TCU, Lucas Furtado, informou à CPI não ter achado irregularidades nos contratos assinados no atual governo – foram dois: um em 2003, outro em 2005 (leia: TCU não vê problemas em contrato da Caixa com Gtech).

Já em relação à operação com o BMG, a Caixa argumentou que teve lucro e que bancos privados, como o Itaú, participaram do mesmo negócio. Disse ainda que, segundo a Federação Brasileira dos Bancos (Febraban), esse tipo de operação é comum no sistema financeiro. A Procuradoria-Geral da República investiga se a compra teria sido determinada pelo presidente Lula para beneficiar o BMG, banco envolvido no valerioduto.

Um terceiro episódio não citado pelo movimento também maculou a imagem da Caixa recentemente e esse nada teve a ver com adversários do governo ou defensores da privatização. Foi a quebra do sigilo bancário do caseiro Francenildo Costa, que acusou Antonio Palocci de freqüentar uma mansão supostamente dedicada a negociatas de ex-assessores do ex-ministro da Fazenda. Segundo a Polícia Federal, a quebra foi ordenada por Palocci – a Caixa está subordinada à Fazenda – e teve envolvimento do ex-presidente do banco Jorge Mattoso.

Projetos no congresso inviabilizam a caixa –
O movimento “O Brasil precisa da Caixa” vai aproveitar a campanha para pregar a rejeição de projetos apresentados na Câmara dos Deputados que enfraquecem a instituição mesmo que ela siga estatal. O deputado Celso Russomano (PP-SP) propõe autorizar bancos privados a receber depósitos judiciais, o que só a Caixa faz hoje. E o deputado Coriolano Sales (PFL-BA) extingue o monopólio da Caixa na área de casa de penhores.

A proposta de Russomano recebeu parecer contrário na Comissão de Finanças e Tributação, mas parlamentares tentam impedir que vá ao arquivo. Já a sugestão de Sales passou na mesma comissão e espera julgamento na de Constituição e Justiça. “São medidas que podem inviabilizar a Caixa”, disse o presidente da Fenae, José Carlos Alonso.