Minas lança movimento em favor da anulação da privatização da Vale do Rio Doce

Minas Gerais fortalece o movimento que pede a revisão do processo de privatização da Companhia Vale do Rio Doce (CVRD) a partir de amanhã, com o lançamento do Comitê Mineiro de Reestatização da CVRD.

As principais argumentações de contestação ao processo de privatização da CVRD dizem respeito ao valor pago pela transação de R$ 3,3 bilhões, na época, e considerado irrisório pelo fato de a empresa tratar de um setor estratégico e, por isso, precisar ficar sob o controle do governo brasileiro.
 
Em vários estados do país como São Paulo, Brasília e Paraná, existem movimentos que se articulam em favor da reestatização da empresa. Na Assembléia Legislativa de Minas Gerais, o movimento está sendo organizado pelo deputado estadual Rogério Correia (PT) que já conseguiu a adesão de 22 deputados de vários partidos (PT, PCdoB, PDT, PMDB e PFL) para a formação da Frente Parlamentar Mineira pela Revisão da Privatização da Vale do Rio Doce.
 
Os defensores da reestatização questionam um dos argumentos usados na época em favor da privatização: a redução da dívida pública. Os anos mostraram que a medida não solucionou e, nem mesmo abrandou o problema já que, a dívida cresceu de R$ 64 bilhões para R$ 640 bilhões entre os anos de 1995 e 2002.
 
A Central Única dos Trabalhadores (CUT- MG) é favorável a reavaliação do processo de privatização. "Devemos pressionar a justiça e o governo para a revisão, aliás, é preciso rever não só o caso da Vale do Rio Doce como o de outras empresas que foram privatizadas durante o governo Fernando Henrique", diz Shakespeare Martins, membro da executiva da CUT.
 
Segundo a assessoria do deputado Rogério Corrêa houve um erro no cálculo do valor da empresa feito pela que teria sido subestimado e se restringido às ações da Companhia no mercado. "Há suspeitas de favorecimento, pois, o valor foi muito baixo e não calculou o valor do terreno, do maquinário e de outros valores da empresa", diz Luiz Kabu.
 
O MST defende a reestatização da Vale porque a empresa deixou de ser nacional para ser doada a multinacionais e hoje em vez de servir ao povo brasileiro ela atende aos interesses privados. "É preciso que a privatização seja revista e que a companhia volte ao controle estatal para que a empresa possa investir seus lucros na área social brasileira e não no exterior como tem sido feito. Assim o governo federal terá um maior controle para fiscalizar o meio ambiente", argumenta o diretor do MST em Minas, Vanderlei Martine.

O governo federal terá participação direta e decisiva no processo, pois, para a anulação da privatização o presidente não pode recorrer à decisão da Justiça e se pronunciar favoravelmente à reestatização, que uma vez realizada fará a Vale voltar para seu proprietário original, o Estado brasileiro.

Hoje a Companhia é a empresa que mais contribui para o superávit comercial da balança brasileira. A CVRD é responsável por 16% da movimentação de cargas do Brasil, 65% da movimentação portuária de granéis sólidos e cerca de 39% da movimentação do comércio exterior nacional. Além disso, possui papel fundamental no desenvolvimento regional, totalizando 30% do PIB do estado do Pará. Antes de sua venda, parte de seus rendimentos era destinada a um fundo para fomentar desenvolvimento da região. Atualmente, a única contribuição é o pagamento de royalties para os municípios onde estão localizadas as minas.

Dentre o patrimônio da Companhia estão duas das três ferrovias mais rentáveis do mundo. As contas de 54 empresas onde a Companhia tinha controle de operação ou era coligada. A reserva mineral, os terminais marítimos, além do Complexo de Carajás (PA), foram incluídos no valor de leilão. O Complexo de Carajás, por sinal, tem reserva de urânio e por isso foi alvo de um mandado de segurança, que recebeu parecer favorável do Supremo Tribunal Federal (STF).

O lançamento do Comitê Mineiro de Reestatização da Companhia Vale do Rio Doce será realizado na sexta feira (5) a partir das 19 horas, no auditório do Sindicato dos Trabalhadores do Poder Judiciário Federal de Minas Gerais.
 

Fonte: Minas de Fato