Lula diz à CNBB que lutará para cumprir todas suas promessas

A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) recebeu nesta terça-feira, dia da abertura da 44ª Assembléia Geral, uma carta do presidente Lula. A CNBB está reunida em Itaci, Indaiatuba, no Interior de São Paulo. O tema

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva garantiu à cúpula da Igreja, em carta enviada ao presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), cardeal Geraldo Majella Agnelo, que está fazendo tudo para cumprir os compromissos que assumiu com o povo brasileiro. "Nada nenhum interesse particular, nenhuma crise política, neste tempo, tirou-nos o ânimo, o entusiasmo e a decisão de trabalhar por esses ideais", afirmou Lula. "Se muitas foram as angústias e dores, quero lhes assegurar que têm sido muitas as alegrias e satisfações", acrescentou. Segundo o presidente, sua principal satisfação é "a certeza de que nosso povo mais pobre começa a experimentar os resultados de uma política que faz uma opção definida por essa maioria de brasileiros".

A carta do presidente tem duas páginas e chegou via fax na manhã de hoje durante a cerimônia de abertura da 44ª Assembléia Geral da CNBB, no bairro de Itaici, em Indaiatuba (SP). A assembléia termina no próximo dia 17. O tema central deste ano é "evangelização da juventude".

A mensagem termina com uma promessa: "O senhor pode ter a certeza, d. Geraldo, que estes princípios e este ânimo estarão presentes, com a graça de Deus, até o último dia deste mandato." Lula agradeceu "o diálogo, o apoio, e as críticas fraternas" que marcaram sua convivência com a CNBB em quase três anos e meio de governo.

Na assembléia do ano passado, Lula também enviou uma carta na qual admitia ter "plena noção da gravidade" da crise política.

Os bispos gostaram da carta de Lula, mas não deixaram de alertar o governo para a gravidade da crise política provocada por denúncias de escândalos.

O arcebispo de São Paulo, dom Cláudio Hummes, 71, classificou a carta como "gentil e positiva", "que reconhece o direito da Igreja de falar com liberdade", elogiou Hummes, mas disse que o partido do presidente [PT], se envolveu em uma "série de desvios". "A igreja se preocupou muito com as denúncias de corrupção que atingiram o governo e também com o povo, que foi atingido nas suas esperanças. O povo tinha muita esperança e muita confiança e acreditava que isso não pudesse ocorrer. Foi a última coisa que o povo esperava que pudesse ocorrer", disse. Ainda segundo Hummes, "Isso não significa que a corrupção tenha ocorrido só neste governo". 

"Não podemos desistir e dizer que não vale a pena porque tudo isso é podridão. Não é por aí", conclui Hummes.

Já o arcebispo de Porto Velho (RO), dom Moacyr Grechi, disse suspeitar que as CPIs estejam se "tornando uma farsa". "Para mim, essas CPIs estão se tornando uma farsa porque parece que só querem aparecer e se repetir."

Para ele, "muita gente não aceita que um homem do povo tenha se tornado um presidente e tenha índices de aprovação maior do que os anteriores".

O arcebispo de Blumenau (SC), dom Angélico Bernardino, disse que há no país "muito mais corrupção do que se imagina". "Existem muitos interesses econômicos e políticos por trás das denúncias."

Eis a íntegra da carta de Lula:


A Sua Eminência Cardeal Geraldo Majella Agnelo DD. Presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil Prezado Dom Geraldo,

Neste momento em que a CNBB se reúne para a abertura de mais uma Assembléia, tomo a liberdade de dirigir-me a V. Emcia e a todos os Senhores Arcebispos, Bispos e Cardeais que compõem o colégio da CNBB, além dos Assessores e Assessoras, para desejar-lhes uma Assembléia muito fecunda e com pleno êxito.

Nestes dias, parte importante da opinião pública brasileira, e não apenas o mundo católico, estará com a atenção voltada para Itaici, onde, historicamente, importantes decisões foram tomadas, decisões que tiveram, muitas vezes, impacto muito positivo para a vida do povo brasileiro.

No momento em que se avizinha o final do nosso mandato, quero agradecer o diálogo, o apoio, as críticas fraternas que fizeram parte de nossa convivência nestes quase três anos e meio. Tenho plena consciência do papel que a Igreja desempenha no Brasil como formadora de cidadania, como animadora da esperança de nosso Povo e como estimuladora da justiça e da paz. Sei que nosso Governo tem sido beneficiário desta convivência e que, tanto as cobranças, como as críticas, assim como os gestos de apoio muito contribuíram para que pudéssemos realizar, de maneira mais adequada, nossas ações de Governo.

Não quero aqui fazer nenhum balanço desta nossa gestão, ainda inconclusa, nem me estender sobre a obra de nosso Governo. Quero apenas reafirmar aos Senhores que tudo o que estamos realizando, no plano nacional e no plano internacional, nas mais diversas áreas e iniciativas, tem como norte e objetivo o cumprimento dos compromissos que historicamente orientaram minha vida e que assumimos com o Povo Brasileiro. Nada, nenhum interesse particular, nenhuma crise política, neste tempo, tirou-nos o ânimo, o entusiasmo e a decisão de trabalhar por esses ideais. Se muitas foram as angústias e dores, quero lhes assegurar que tem sido muitas as alegrias e satisfações. Devo lhe confessar que a principal satisfação é justamente a certeza de que nosso Povo mais pobre começa a experimentar os resultados de uma política que faz uma opção definida por essa maioria de brasileiros. O Senhor pode ter a certeza, dom Geraldo, que estes princípios e este ânimo estarão presentes, com a graça de Deus, até o último dia deste mandato.

Receba, Dom Geraldo, minha carinhosa manifestação de carinho, respeito e amizade, extensiva a todos os Senhores Arcebispos, Bispo e Cardeais que participam desta Assembléia.