Pesquisadora afirma: problema do asfalto em Manaus está na base

Durante audiência realizada na Câmara Municipal de Manaus (CMM), nesta segunda-feira (15), por iniciativa da vereadora Lúcia Antony (PCdoB), a pesquisadora da Faculdade de Tecnologia da Universidade Federal do Amazonas (FT-Ufam), Consuelo

Ela explicou que, de acordo com pesquisas realizadas pelo laboratório de solos da FT, o conjunto estrutural das vias deveria ser formado por quatro camadas. "A construção desse conjunto estrutural não vem sendo realizado de forma adequada pelas empresas contratadas para o serviço", afirmou Consuelo Frota.

A pesquisadora também afirmou que existem soluções de baixo custo para a aquisição do agregado graúdo, um dos componentes importantes para a compactação do solo. Segundo ela, a utilização de materiais alternativos reduziriam os custo da prefeitura, que hoje ainda utiliza a brita como agregado graúdo.

"Podem utilizar o melhor CAP (cimento asfáltico de petróleo) que continuarão tendo problemas. Soluções de baixo custo existem, como a utilização de um tipo de resíduos do Distrito Industrial, sobras da construção civil e o asfalto ecológico, feito da reutilização de pneus", informou.

Segundo Consuelo Frota, o material alternativo talvez não fosse suficiente para a solução do problema, mas seria um avanço nesse sentido. "A prefeitura poderia iniciar o uso desse material em pequenos trechos, principalmente nas áreas periféricas e onde o tráfego de veículos é menor". Para a pesquisadora, o poder público deveria ousar, realizando projetos ‘bem direcionados’, onde fossem utilizadas técnicas modernas voltadas para a realidade do solo argiloso existente em 80 % da cidade.

O pesquisador Nilton de Souza, também da FT-Ufam, apresentou um outro tipo de agregado sintético, formado a partir da argila de várzea, que segundo ele, também poderia substituir a brita na estrutura de pavimentação das ruas da cidade. "A matéria-prima é encontrada com abundância no Estado. Ele afirmou que para fabricar o produto seria necessário que a prefeitura investisse R$ 4 milhões, custo considerado pequeno, segundo ele, frente ao R$ 1 bilhão gasto com o recapeamento das ruas da cidade. "Solução há e para todos os preços", afirmou.

O evento, solicitado pela vereadora Lúcia Antony, foi promovido pela Comissão de Transporte, Viação e Obras Públicas da CMM e contou com a participação do subsecretário de Serviços Básicos da prefeitura, Irapuan Sounier; do gerente-geral da Refinaria de Manaus (Reman), Augusto César Carvalho; do professor da FT-Ufam, Nilton de Souza; e da representante da Agência Nacional de Petróleo (ANP), Conceição Lucena.

Parceria com a Ufam

Para a vereadora Lúcia Antony ficou claro que o Poder Público precisa interagir com a Universidade, e destaca que o investimento em tecnologia e em novos materiais reflete-se em economia aos cofres públicos em médio e longo prazo. "Muitas vezes o barato acaba saindo caro. Com as técnicas e matéria-prima adequada podemos ter um asfalto de qualidade, sem necessidade de constantes reparos, como vem ocorrendo hoje", afirma, destacando que, após assistir a audiência pública chegou à conclusão de que o trabalho de recapeamento e de asfaltamento em Manaus tem sido feito de forma equivocada há muitos anos e que isso precisa ser corrigido.

O subsecretário de Serviços Básicos da prefeitura, Irapuan Sounier, disse que não descarta a possibilidade de parceria entre a prefeitura e a Universidade Federal do Amazonas (Ufam) para utilizar as soluções apresentadas pelos pesquisadores. Ele afirmou que a qualidade da pavimentação das ruas da cidade é uma questão complexa e que a prefeitura tem interesse "em tudo que venha melhorar a qualidade de vida da população".

Ele lembrou os custos para a aquisição da brita para a compactação do solo e citou a necessidade da troca do cimento asfáltico de petróleo 20 (CAP 20 – atualmente utilizado em Manaus), pelo CAP 40, que, segundo ele, é mais resistente ao clima da cidade. Também afirmou que precisa haver uma parceria ‘mais íntima’ com a Petrobrás para estudar a mudança do produto fornecido às distribuidoras que hoje vendem a massa asfáltica à prefeitura.

Sounier explicou ainda que a compra do CAP não pode ser feito diretamente com a Refinaria de Manaus (Reman) porque a Secretaria Municipal de Obras, Saneamento Básico e Habitação (Semosbh) não possui uma usina asfáltica para beneficiar o produto. Segundo ele, duas empresas fornecem massa asfáltica para a prefeitura. Ele informou que, no próximo dia 18, serão realizados dois pregões onde serão adquiridos 80 mil toneladas do produto.

O gerente-geral da Reman, Augusto César Carvalho, afirmou que caso a prefeitura, que ele classificou como sua principal cliente, insista na necessidade de passar a utilizar o CAP 40, a empresa estudará uma solução técnica para atender a essa nova demanda. "Atualmente, não temos condições de fornecer outro tipo de CAP, mas iremos estudar uma solução técnica, o que pode levar uns três meses", declarou.

De Manaus

Rosângela Alanis