Violência cresce no Timor Leste; casa de brasileiro é atacada

O pequeno Timor Leste vive dias de guerra civil. Dili, a capital do país, prossegue em clima de forte tensão neste sábado, por causa da explosão de violência entre grupos militares rivais do Timor Leste. Pouco ajudou a chegada de

Ao longo da semana, os confrontos entre policiais e soldados militares resultaram em pelo menos 20 mortos. Na sexta-feira, após um período de calma com a chegada de tropas estrangeiras, milícias civis armadas ocuparam as ruas ao sul da capital Díli, ateando fogo em casas.

Um dos cerca de 180 brasileiros residentes no Timor Leste teve a sua residência atacada, em Díli, por grupo armado com facas e pedaços de pau. "Acordei com o barulho de sinos e das facas na grade do portão", conta Aurélio Edgard Gonçalves de Brito, de 26 anos, que precisou fugir pelos fundos da residência.

O ataque ocorreu nesta sexta-feira, por volta das 23 horas (7 horas em Brasília). "Minha moto foi roubada, e acabei deixando todas minhas coisas em casa", disse Brito, que agora está na residência do embaixador do Brasil, Antônio Souza e Silva.

Cerca de 20 brasileiros já buscaram abrigo na Embaixada do Brasil, e mais dez foram hospedados em um hotel. A expectativa da população era de que este sábado fosse um dia mais tranqüilo, em Díli, com a chegada das tropas estrangeiras — o que não se concretizou.

Guerra civil –
A violência, que começou no dia 28 de abril e deixou 25 mortos, foi desencadeada pelas rivalidades entre centenas de soldados que receberam baixa do Exército e as forças de segurança fiéis ao governo. Grupos de jovens armados se enfrentaram neste sábado nas ruas da capital, onde várias casas e automóveis foram incendiados. "É o leste [da ilha] contra o oeste, soldados contra soldados. É uma loucura", afirmou o padre identificado como Lalo.

Muitos habitantes do Timor Leste acreditam na existência de uma divisão entre habitantes do oeste e do leste, considerados mais patriotas. As regiões falam dialetos diferentes. "Se trata de uma disputa comunitária que se agravou devido ao contexto geral", disse um funcionário das Nações Unidas, que anunciou neste sábado a retirada dos funcionários não essenciais do Timor.

No total, 390 pessoas deixarão o país e seguirão para a Autrália. Apenas 50 permanecerão em Dili, informou a porta-voz da ONU, Donna Cusumano. "Os incidentes de hoje são lamentáveis, já que estes jovens arruinaram nossa imagem de tolerância e paz", declarou o ministro das Relações Exteriores, José Ramos Horta.

O primeiro-ministro de Timor Leste, Mari Alkatiri, acusou neste sábado o presidente, Xanana Gusmão, de planejar um golpe de Estado no país. "O que se trama é uma tentativa de golpe de Estado. Porém, estou convencido de que o presidente da República, com o qual tenho contatos permanentes, continuará respeitando a Constituição da República Democrática do Timor Leste", declarou Alkatiri aos jornalistas.

Emigração –
Milhares de habitantes colocaram bens pessoais em automóveis ou carretas e seguiram para o aeroporto, protegido por militares estrangeiros. A Austrália prometeu enviar 1.300 soldados, 450 dos quais já estão no pequeno país asiático, assim como quatro helicópteros 'Blackhawk' e um navio de cruzeiro lança-míiseis. Mais três navios de guerra devem chegar em breve.

As tropas australianas também receberão o respaldo de 120 militares da Nova Zelândia, 500 militares e policiais da Malásia e 120 guardas republicanos de Portugal, a antiga potência colonial. A Força de Defesa Australiana (ADF) anunciou neste sábado que um de seus comandantes em Timor Leste pretende se reunir com o líder dos soldados rebeldes, general Alfredo Reinado, depois de ter recebido garantias de cooperação nos esforços de paz de outros grupos.