Marcola confirma à CPI que fez acordo com governo paulista

O líder do Primeiro Comando da Capital, Marcos Camacho, o Marcola, de 36 anos, confirmou ontem a deputados da CPI das Armas que fez um acordo com o governo do Estado para encerrar a onda de atentados e rebeliões de maio. Segundo Raul Jungmann

O líder do Primeiro Comando da Capital, Marcos Camacho, o Marcola, de 36 anos, confirmou ontem a deputados da CPI das Armas que fez um acordo com o governo do Estado para encerrar a onda de atentados e rebeliões de maio. Segundo Raul Jungmann (PPS-PE), Marcola disse ter recebido no dia 14, um domingo, a visita do coronel da Polícia Militar Ailton Brandão e outros emissários do governo. Marcola contou à CPI que o coronel sugeriu uma trégua, alegando que já havia morrido muita gente dos dois lados. Disse ter incumbido outro preso, Luiz Henrique Fernandes, o LH, de dar o telefonema que faria cessar a onda de ataques – informação revelada com exclusividade pelo Estado, no dia 25. O governo nunca admitiu ter feito acordo com Marcola.

Segundo o deputado, Marcola disse que o encontro com representantes do governo foi intermediado pela advogada Iracema Vasciaveo. Contou também à CPI que, quando o coronel pediu para que os ataques cessassem, ela ofereceu ao preso o celular que levava na bolsa. Marcola disse ter respondido: "A senhora não me conhece mesmo, senão saberia que eu não falo em celular."
"Em seguida, chamou o preso LH para dar o telefonema, que parou as rebeliões", afirmou Jungmann. Outro detalhe que o deputado revelou é que Marcola sabia que o grupo de negociação usou um jatinho do governo para ir até o presídio. "Ele é um preso muito bem informado e sabe de tudo o que está ocorrendo, fazendo inclusive menção ao mensalão." A assessoria de imprensa da Secretaria da Segurança não localizou ontem à noite o coronel para comentar as declarações.
Oito deputados se reuniram com o detento por cinco horas no Centro de Readaptação Penitenciária de Presidente Bernardes, a 570 quilômetros da capital. Para garantir a segurança dos parlamentares, o Estado mobilizou 110 agentes e policiais e 23 veículos. O aparato foi justificado com a alegação de que a facção ameaçou de morte dois membros da CPI.
No depoimento, Marcola admitiu pela primeira vez ser o líder do PCC, mas negou ter ordenado a onda de ataques. O relator da CPI, Paulo Pimenta (PT-RS), disse que Marcola forneceu informações "interessantes" sobre o tráfico internacional de armas. O presidente da CPI, Moroni Torgan (PFL-CE), disse que o detento respondeu a todas as perguntas "do jeito dele", mas suas afirmações corroboraram as suspeitas da CPI.
Marcola chegou à sala de videoconferência do presídio às 13h47. Ficou sentado à frente dos deputados, algemado e escoltado por dois agentes penitenciários. Quando notou a presença de fotógrafos, baixou a cabeça e, em determinado momento, escondeu o rosto. Ontem foi a primeira vez que ele deixou a ala de isolamento, onde está desde o dia 13. Tinha a barba feita e aparentava tranqüilidade. Usava calças cáqui, camiseta branca e tênis prateado importado. Marcola pôde se apresentar sem o tradicional uniforme amarelo dos presídios graças a uma concessão feita pelo ex-secretário de Administração Penitenciária, Nagashi Furukawa. No início de maio, ele atendeu a uma reivindicação dos presos e aboliu a obrigatoriedade do uniforme, permitindo o uso de calça cáqui e camiseta branca. A única condição imposta é de que a roupa seja fornecida pela família do preso, o que ocorreu com Marcola. Também foi permitido que detentos recebam até dois pares de tênis por visita – segundo funcionários, Marcola tem dez pares.

Fonte: Agência Estado