PCdoB quer formar rede de apoio para as candidaturas do Rio Grande do Sul
Neste final de semana, acontecem as primeiras convenções estaduais do PCdoB, no Espírito Santo, Bahia e Rio Grande do Sul, onde PT e PCdoB fecharam a chapa Olívio Dutra e Jussara Cony para o governo. Apesar do cenário relativamente equ
Publicado 09/06/2006 16:48
Em entrevista ao Partido Vivo, o presidente estadual do PCdoB/RS, Adalberto Frasson, traçou um panorama do cenário eleitoral no estado e falou sobre as candidaturas prioritárias, como a de Manuela D’Ávila para a Câmara. Para ele, o momento é propício para se “trabalhar a constituição de uma rede de apoios em torno das candidaturas”.
Partido Vivo: Como está o cenário eleitoral no Rio Grande do Sul?
Adalberto Frasson: O cenário se apresenta com novidades em relação às últimas eleições. O estado não se apresenta mais polarizado como ocorreu antes entre esquerda e conservadores. Há um maior equilíbrio entre as forças em disputa. Essas forças estão situadas em quatro pontos: a esquerda, com Olívio Dutra, é bem competitiva; o centro, com Germano Rigotto (PMDB) e Alceu Colares (PDT); a direita, com PSDB à frente, apresenta a deputada federal Ieda Crusius. Estas são as forças que vão disputar as eleições. Consideramos que a candidatura de Olívio Dutra será um dos pólos do segundo turno, pelo respeito que o petista tem como liderança, pelo governo que fez – que, comparado com o de Rigotto teve mais realizações – e pela característica do estado, que tem um eleitorado mais progressista, afinado com a esquerda.
As pesquisas indicam que Olívio teria cerca de 1/3 dos votos. A dificuldade será depois, no segundo turno. Esta candidatura precisará fechar um leque maior de apoio contra os conservadores. A elite pretende construir unidade para impedir a retomada do governo pela esquerda. A candidatura de Ieda pretende se focar na questão da mulher como diferencial na política. O contra-ponto pelo lado progressista é Jussara Cony, como vice na chapa de Olívio. O ex-ministro é competitivo e, chegando ao segundo turno, terá a tarefa de se apresentar como candidato capaz de atrair o centro, buscando retomar alianças com PDT, PSB, PPS etc. Em pesquisa recente de um instituto ligado ao campo conservador, Olívio aparece na liderança com cerca de 31% e Rigotto com 25%. Colares tem 14% e Ieda 10%. É possível que Olívio Dutra vença no primeiro turno.
Partido Vivo: Como a campanha presidencial deverá influenciar a disputa no Rio Grande do Sul?
Adalberto Frasson: A campanha nacional vai influenciar muito aqui. Uma questão, por exemplo, é como o PMDB vai se colocar. Se decidir compor com Lula, isso se refletirá diretamente no Rio Grande do Sul, ainda que o PMDB aqui seja mais pró-Alckmin. De qualquer forma, uma decisão como essas poderia neutralizar essa tendência local polarizando a disputa entre Olívio – com Lula – e Ieda – com Alckmin.
Partido Vivo: Qual a sua avaliação com relação ao governo de Germano Rigotto?
Adalberto Frasson: O governo Rigotto é blindado pela mídia. No entanto, é notório que foi um governo fraco e imobilizado diante da grave crise financeira do estado. Enquanto o Brasil cresceu, o Rio Grande do Sul decresceu. Em 2005, o PIB do estado recuou cerca de 4%. Em políticas públicas também houve retrocesso. Com Olívio havia atendimento às demandas populares. O Rio Grande do Sul vive uma crise longa e séria. O que o estado arrecada não dá conta de seu gasto, já que arca com encargos pesados relativos às dívidas públicas, fruto do governo Antônio Britto em aliança com FHC.
Partido Vivo: No RS, destacam-se duas mulheres comunistas muito bem cotadas no estado. Jussara Cony será vice na chapa de Olívio Dutra e a Manuela será candidata deputada federal…
Adalberto Frasson: É, de fato, são duas comunistas destacadas. A candidatura de Jussara como vice-governadora de Olívio é um fato novo porque é a primeira vez que o PT abre uma chapa majoritária para outro partido. A Jussara acrescenta muito porque agrega a representatividade da luta da mulher à credibilidade de Olívio. Ele soma muito a essa frente. Além disso, há a posição do PCdoB com relação à busca de uma unidade maior que vá além da união da esquerda, o que tem se mostrado uma visão acertada.
Já Manuela é a nossa prioridade nas proporcionais. Sua candidatura a deputada federal tem demonstrado grande potencial. Ela circula muito bem entre setores diversos e coloca-se como uma candidata ligada à juventude, que traz em si o apelo à renovação com consistência política. O perfil de Manuela permite ainda uma boa inserção no âmbito sindical e popular. Sua base principal está na Grande Porto Alegre, em especial entre o eleitorado juvenil. Outras candidaturas buscam Manuela para fazer dobradinha. Ela pode ainda aglutinar votos dos setores da esquerda que entendem que o Brasil precisa avançar. O PCdoB aparece como uma legenda importante para se seguir esse caminho.
Partido Vivo: A Manuela chegou a sofrer ameaças que podem ter relação com as eleições. O que foi feito a respeito?
As ameaças de morte foram feitas por telefone para a secretária da mãe de Manuela, que é juíza. Entendemos que esta foi uma tentativa de se tentar criar um ambiente de insegurança e intimidação. Adotamos medidas junto aos órgãos públicos e com segurança particular para assegurar sua vida porque não sabemos que proporções isso pode tomar. Foi aberta investigação para apurar o caso. Mas Manuela não se abalou com isso e não vai abrir mão de suas convicções e luta.
Partido Vivo: Que outros candidatos o PCdoB lançará no estado?
Adalberto Frasson: Também vamos lançar Caio Ferreira para federal. Ele é atualmente vereador em Bagé e é ligado ao setor eletricitário. Para estadual, serão lançados seis nomes: Raul Carrion, atualmente vereador por Porto Alegre; Déo Gomes, vereador em Caxias do Sul, uma candidatura de base forte junto aos trabalhadores e dentro do maior sindicato dos metalúrgicos do estado; Juliano Roso, vereador jovem em Passo Fundo que está em seu segundo mandato; Júnior Piaia, que foi candidato à prefeitura de Ijuí e que tem boa inserção na região das Missões; Dina Marilú, vereadora em Cachoeira do Sul e Júlio Martins, vereador em Rio Grande, na zona sul do estado. Todos estes nomes têm boas perspectivas. Devemos eleger no mínimo dois. O objetivo é manter a bancada atual e ampliá-la o máximo possível.
Partido Vivo: Como o PT e o PCdoB se colocam no estado?
Adalberto Frasson: O PT é ainda é uma força importante no estado, apesar de ter perdido prefeituras. Um ponto positivo é que as lideranças petistas do Rio Grande do Sul não se envolveram em desvios e sempre tiveram uma atitude de cobrança com relação ao aspecto do respeito ao que é público. Por isso, essa “crise” política não afetou diretamente o PT do Rio Grande do Sul.
O PCdoB dobrou a sua votação no que diz respeito aos vereadores e também participou de disputas importantes. Em termos de militância, teve crescimento expressivo. Em Porto Alegre, tínhamos um vereador e agora temos dois, Manuela e Raul. O PCdoB cresceu e trabalhamos para que cresça ainda mais, consolidando organicamente o partido, sua participação no Parlamento e nas lutas populares, sindical e estudantil.
Partido Vivo: Quais são os próximos passos para a implementação das candidaturas?
Adalberto Frasson: As campanhas já estão montadas e estamos no momento de trabalhar a constituição de uma rede de apoios em torno das candidaturas. Temos trabalhado a Manuela com a campanha do “Se liga 16”, incentivando a juventude a tirar seu título. Esta é uma das grandes ações da Manuela, que já promoveu uma centena de debates em escolas, estimulando a juventude a participar do processo eleitoral.
Em termos de campanha, vamos preparar a mobilização do PCdoB para as convenções. A estadual acontece neste sábado. As convenções municipais, cerca de 80 ao todo, começaram dia 19 de abril e se estenderam até o começo de junho. Trabalhamos no sentido de levar a carteira para os militantes, que hoje somam cerca de três mil no estado e de regularizar a situação da contribuição financeira. Neste sábado, estima-se que participarão da convenção estadual cerca de 700 delegados. Na ocasião, vamos aprovar a coligação, os candidatos e estabelecer as principais linhas da campanha, que terá início dia 6 de julho. Na convenção se dará também o lançamento da chapa majoritária, com Olívio e Jussara para o governo e Miguel Rosseto (PT), ex-ministro do Desenvolvimento Agrário, para o Senado.
Há um sentimento de muito otimismo no estado e nos setores ligados ao partido, tanto por nossa contribuição para a retomada de um projeto de esquerda, quanto pelo fato de o PCdoB ter crescido nesta batalha. Portanto, estamos imbuídos na necessidade de traçar uma campanha que permita que a potencialidade do partido se concretize numa grande votação. Hoje, temos um ótimo time. Mas isso não basta; é preciso ter a melhor tática para fazermos dela uma equipe campeã. Eleição também é isso e depende do jogo e da mobilização de nosso plantel.
De São Paulo,
Priscila Lobregatte