Alckmin e PFL continuam apostando na baixaria para atingir Lula

Atualizada às 11h20

Em aparente desespero com a ampla vantagem de Lula nas pesquisas, tucanos e pefelistas insistem na baixaria como estratégia de campanha. Durante convenção regional do PFL em Brasília realizada nes

Tucanos de alta plumagem e a maioria dos especialistas em marketing político têm alertado sobre o risco de atacar com muita virulência os adversários políticos sob o risco de, ao transformá-los em vítima, perder o apoio do eleitorado.

Foi seguindo conselho deste tipo que o então candidato Luiz Inácio Lula da Silva optou, na vitoriosa campanha eleitoral de 2002, pela linha "paz e amor", apresentando uma campanha propositiva sem ataques aos adversários.

Mas parece que os conselhos não são bem-vindos no comando da campanha presidencial dos tucanos. Em aparente desespero com a ampla vantagem de Lula nas pesquisas, tucanos e pefelistas insistem na baixaria como estratégia de campanha.

Durante convenção regional do PFL em Brasília realizada nesta quinta-feira, o candidato tucano à Presidência da República, Geraldo Alckmin, e seu companheiro de chapa, o senador José Jorge (PFL-PE), voltaram a disparar críticas contundentes contra o presidente da República.

Discursando para um público de cerca de 30 mil pessoas, arregimentadas com promessas de lanche grátis e outros benefícios, os candidatos voltaram a usar o tom grosseiro para tentar minar a credibilidade do presidente. "“O governo Lula se caracteriza pela mentira, pela corrupção, pelo roubo, pelo mensalão, por todas essas coisas que a gente vê na televisão, a cada dia, a cada momento. É um governo que se caracteriza pela incompetência, pela falta de trabalho. Por um presidente que não trabalha, que viaja e bebe, como dizem por aí.”", disparou o senador pefelista José Jorge. Alckmin aproveitou para seguir com discurso na mesma linha: "Vamos tratar de trabalhar e acabar com a roubalheira", disse o tucano.

No evento foi lançada uma chapa puro-sangue do PFL para a disputa ao governo do Distrito Federal formada pelo deputado federal José Roberto Arruda e pelo senador Paulo Octávio. Ambos já estiveram envolvidos em escândalos no passado, tendo Arruda, inclusive, sido obrigado a renunciar ao mandato de Senador por seu envolvimento no escândalo da violação do painel eletrônico do Senado.

Em abril de 2005, Arruda deu uma entrevista na qual acusava Paulo Octávio —um dos empresários mais ricos de Brasília— de abusar de seu poder econômico para se promover politicamente. Na época, arruda ainda disputava com o empresário o direito de encabeçar a chapa do PFL à sucessão de Joaquim Roriz (PMDB).  "Temos um grande número de bons empresários brasileiros que fazem vida pública com êxito, sem nenhum problema. A dificuldade que vejo é quando esse grupo empresarial tem interesses específicos com o Governo local. Como ficar dos dois lados do balcão ao mesmo tempo? Você quer um licença para construir um prédio e ao mesmo tempo é você que dá a licença? E se essa licença for errada? Você vai atender o interesse público ou seu interesse empresarial? Vai ser mau empresário ou mau Governo? Outra dificuldade é que a eleição deve ser decidida pela riqueza das idéias não pela riqueza do bolso. O que mais me assusta é que hoje em Brasília tem mais out-door do Paulo Octávio do que da McDonald's e da Coca-Cola. As regras da política permitem isso? Se for para escolher o mais rico, nem disputo a eleição, porque já perdi. Se for para escolher o que tiver as melhores idéias, aí quero disputar. Se o processo político só eleger quem tiver dinheiro no bolso para ser dono de emissora de televisão e de rádio e colocar um out-door em cada esquina, aí dancei.", disse Arruda na ocasião.

Baixaria anônima na TV

Também ontem, o PFL usou todos os 11 minutos de seu programa partidário em rede nacional de televisão, ontem, para atacar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Envergonhados com o próprio baixo-nível, nenhum político pefelista apareceu no programa, e o nome do partido não foi mencionado em momento algum. Ao final do programa, um selo que identifica a sigla foi exibido por apenas seis segundos.

Com estrutura de "documentário", a peça publicitária levada ao ar pelo PFL procurou destacar as relações de Lula com denúncias que atingiram sua gestão. Uma maquete digital do interior do Planalto, por exemplo, ilustrou a proximidade física entre o gabinete da Presidência, a Casa Civil, que José Dirceu ocupou, e uma sala usada pelo ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares.

Um apresentador abriu o programa com o anúncio: "Você vai saber quem comandava o maior esquema de corrupção já desmascarado". Em outro momento, uma atriz disse, em tom de lamento: "Tudo o que o PT e Lula prometeram era só conversa fiada. (…) É duro aceitar tanta decepção".

Ao final, bonecos com rostos de personagens do escândalo do mensalão foram usados para mostrar ligações de Lula com Dirceu, Marcos Valério e "até com Bruno Maranhão", líder do MLST (Movimento de Libertação dos Sem-Terra).

O programa foi encerrado com o slogan: "Brasil, um país decente. Não merece essa gente". Na internet, o site do PFL passou a exibir uma foto de Lula com os dizeres: "Não falta mais nada… impeachment já".

Crucificação

O jornalista Fernando Rodrigues registra em seu blog o equívoco da direita com os recentes ataques à Lula. Segundo ele, Alckmin e José Jorge "pregaram na candidatura do adversário adjetivos pouco condizentes com o dia santo" de Corpus Christi.

"No último domingo, em Belo Horizonte, ao discursar na convenção nacional do PSDB, Alckmin insinuou que Lula é ladrão. Agora diz que vai acabar com a "roubalheira". Seu vice afirma que Lula "bebe muito". Haja proposta!", ironiza Rodrigues.

Ele conclui o comentário dizendo que "A despeito dos ataques, a maioria do eleitorado vê Lula como um Cristo, não como um Lázaro. Tudo indica que a reiteração dos ataques não é a melhor tática para evitar o fenômeno da ressurreição do mandato".

Outro jornalista renomado, Elio Gaspari, publicou na semana passada artigo muito difundido no qual afirmava que "O desastre individual de Alckmin ocorre quando se percebe que o doutor já vestiu gibão de couro, comeu churrasco de bode, foi barrado em cercadinho VIP de forró, mas ainda não conseguiu enunciar uma só idéia que fosse boa e nova. Pior: nem ruim e velha. Nada. Repete platitudes até quando insulta seu adversário. Isso num cenário em que o PSDB assiste à erosão de redutos eleitorais significativos. Cada pesquisa indica novos e dolorosos rombos na rede eleitoral tucana."

Tarso Genro: oposição baixou o nível

O ministro das Relações Institucionais, Tarso Genro, disse ontem que os ataques feitos pelo senador José Jorge na convenção do PFL “são uma tentativa de radicalização artificial e ofensiva do processo político que não serão respondidas pelo governo no mesmo nível”. O ministro afirma que “esse tipo de declaração desmerece quem as fez e não quem é vítima desse tipo de acusação”. Domingo, Tarso atribuiu ao desespero eleitoral as declarações de Alckmin, que descreveu o presidente Lula como “o chefe dos 40 ladrões”, em uma referência aos políticos denunciados pelo Ministério Público por envolvimento no escândalo do chamado "mensalão". Ainda ontem, o ministro disse que “as afirmações de José Jorge mostram em que pé se encontra a campanha da oposição”. Segundo ele, “é uma tentativa de desqualificar o caráter do presidente, mas não vai prosperar”.

 

O presidente do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP), também reagiu aos ataques: " Eles não têm o que dizer, não têm nível para debater programas e partem para o desespero. O vice de Alckmin foi o ministro do apagão e o próprio candidato do PSDB não tem moral para criticar ninguém depois do apagão na segurança de São Paulo. Essa falta de controle do Alckmin só mostra que ele não tem proposta, só sabe atacar", disse Berzoini.

Da redação,
Cláudio Gonzalez, com informações da Folha Online