Imprensa repercute declarações de Rabelo sobre aliança PT-PCdoB

Ganhou repercussão em todos os principais jornais e sites de notícias do país as declarações do presidente nacional do PCdoB, Renato Rabelo, sobre os problemas enfrentados para a formalização da aliança nacional e

 

 

 

As declarações, divulgadas inicialmente no blog do jornalista Josias de Souza, dão conta de que se o PT insitir no "salto alto" e continuar negando-se a abrir mão de certas posições regionais, isso poderá levar o presidente Lula a disputar a reeleição sozinho, numa chapa sem apoio formal de nenhum partido, a não ser o recém-criado PRB, do vice-presidente José Alencar.

 

Na quarta-feira, o presidente do PCdoB informou ao blog que seu partido decidiu rediscutir o “casamento de papel passado” com Lula. Os comunistas alegam ter reivindicado a reciprocidade do “parceiro” em três localidades –Brasília, Tocantins e Ceará. Não foi atendido em nenhuma das três solicitações. Rabelo travou com o blog o seguinte diálogo:

 

Josias de Souza: Essas pendências podem levar o PC do B a não se coligar com Lula?

 

Renato Rabelo: Adiamos a nossa convenção (de 14 para 29 de junho) em parte por isso. O risco existe.

 

A resolução das pendências é pré-condição para o acerto com Lula?

 

RR:  É essa a questão que temos levantado. Em toda aliança tem que haver reciprocidade. Não pode existir só bônus ou ônus para um dos lados. Os ganhos têm que ser recíprocos. Por isso adiamos a convenção, para ver que posição adotar.

 

Lula pode disputar a eleição só com o PT?

 

RR: Esse risco existe.

 

Para o governo de Brasília, o PCdoB pediu o apoio do PT à candidatura do ex-ministro Agnelo Queiroz (Esportes). O “aliado” preferiu lançar o nome da petista Arlete Sampaio, deputada distrital.

 

Para o governo de Tocantins, o PCdoB lançou o senador Leomar Quintanilha. Sem candidato, o PT preferiu associar-se à campanha do governador Marcelo Miranda (PMDB), candidato à reeleição.

 

No Ceará, PT e PCdoB apóiam a candidatura a governador de Cid Gomes (PSB). O PCdoB quer que a vaga de senador seja garantida ao deputado Inácio arruda, dos seus quadros. Mas o PT prefere apoiar para o Senado o nome do ex-ministro Eunício Oliveira Comunicações), do PMDB.

 

O único Estado onde os petistas aceitaram a indicação do PCdoB para a disputa majoritária foi o Rio de Janeiro, onde a deputada federal Jandira Feghlai (PCdoB) recebeu o apoio formal do PT para disputar a vaga de senadora pelo Rio.

 

PSB também está descontente

 

Por razões diversas, também o presidente do PSB, deputado Eduardo Campos (PE), informou a Lula, em reunião realizada na segunda-feira, que seu partido não deve participar da coligação nacional com o PT. “Precisamos ter atenção para a realidade dos Estados e para a necessidade de cumprir a cláusula de barreira”, disse Campos.

 

A exemplo do PCdoB, o PSB reclama da falta de disposição do PT para se compor nos Estados. Entre eles Pernambuco, onde Campos disputa o governo local. A pedido de Lula, o presidente da CNI, Armando Monteiro, que concorria ao governo pernambucano pelo PTB, renunciou em favor do candidato petista Humberto Costa. O gesto envenenou as relações do PSB com o Planalto.

 

A julgar pelas pesquisas de opinião, com ou sem PCdoB e PSB, Lula pode bater o adversário tucano Geraldo Alckmin ainda no primeiro turno. O problema é que, coligado ao PFL, Alckmin dispõe de 9 minutos e 2 segundos para fazer campanha no rádio e na TV a partir de 15 de agosto. Aliando-se aos comunistas e aos socialistas, Lula já teria um tempo menor: 8 minutos e 22 segundos. Concorrendo só com o PT, o tempo de propaganda do presidente cai para 5 minutos e 44 segundos, quase quatro minutos a menos que Alckmin.

 

Lula faz pedido aos partidos

 

No início do ano, Lula planeja disputar a reeleição coligado a seis partidos além do PT: PCdoB, PSB, PTB, PP, PL e PMDB. Em encontro nacional realizado no final de abril, o PT aprovou resolução favorável a uma política ampla de alianças. Porém, a resolução não foi seguida de uma estratégia capaz de casar o interesse nacional com as conveniências regionais. E Lula desdobra-se agora para salvar ao menos o acordo com o PCdoB, uma legenda que o apoiou em todas as suas quatro campanhas presidenciais anteriores.

 

Na terça-feira, contrariado com as infindáveis brigas regionais, o presidente fez um apelo ao PSB e ao PCdoB, na tentativa de garantir a aliança formal com os dois tradicionais parceiros de esquerda. Em reunião em Brasília, ele pediu empenho de socialistas e comunistas para sepultar divergências estaduais em nome de um projeto nacional.

 

"É muito importante manter o núcleo do governo unido na eleição. Conto com o apoio de vocês", afirmou ele a Renato Rabelo e a Eduardo Campos. "Não faço distinção entre o PT e vocês. Eu sei que nem tudo está resolvido nos Estados, mas a vida é assim mesmo."

 

"Estamos literalmente divididos em relação ao apoio formal à candidatura do presidente Lula. Eu não me sinto à vontade em dar apenas o apoio branco, mas também não me sinto à vontade em correr risco por causa da cláusula de barreira", admitiu Eduardo Campos que, após o pedido do presidente Lula, prometeu voltar a conversar com seu partido.

 

O presidente do PCdoB, Renato Rabelo, também não fechou as portas para a aliança nacional, pois entende que "a divisão da esquerda é muito ruim para nós”. Mas o dirigente comunista aguarda um gesto de reciprocidade do PT.

 

Em tom semelhante, o deputado Renildo Calheiros (PC do B-PE) também cobrou reciprocidade. "Nós sempre apoiamos candidatos do PT quando eles são mais competitivos. É muito ruim quando o PT não faz o mesmo. Fica complicado fazer política assim", disse, de acordo com reportagem do jornal Folha de S. Paulo.

 

Os comunistas realizam sua convenção nacional para decidir sobre a aliança no próximo dia 24 de junho, em Brasília.