Messias Pontes: Um ano sem Enéas Arruda

Há exatamente um ano, o bairro Dias Macedo ficou mais pobre com a prematura partida do seu mais autêntico líder comunitário. Enéas Arruda nos deixou, mas a sua presença ainda é muito marcante.

Há exatamente um ano, o bairro Dias Macedo ficou mais pobre com a prematura partida do seu mais autêntico líder comunitário. Enéas Arruda nos deixou, mas a sua presença ainda é muito marcante, como bem enfatizou a grande amiga Rita Lisboa, a Rita da Farmácia, como é mais conhecida, na noite de anteontem, durante a celebração da missa de um ano. “Não quero falar do Enéas ausente, mas sim do Enéas presente nesse coral que tão bem se apresentou, nos grupos folclóricos que ele também criou e continua atuando com a mesma empolgação…”, disse ela.

É comum, muito comum, a família que perde um ente querido se confortar com muita gente na missa de sétimo dia, número esse que diminui substancialmente na missa de um mês, e praticamente somente os familiares na missa de um ano de partida. Mas para contrariar a regra, com Enéas é diferente. Na sua missa de um ano de partida mais de duzentas pessoas foram lhe prestar mais uma homenagem, a dizer que ele continua vivo na memória dos familiares e amigos e que hão de lhe reverenciar sempre para não deixar morrer a semente fecunda que ele plantou e que já está dando bons frutos.

Para mim, que o conheci ainda menino e sempre tive por ele muita admiração e carinho, carinho que ele tinha pelas pessoas mais humildes, foi muito reconfortante ver tantos amigos reunidos na igreja de São Francisco, no Dias Macedo, a lhe prestar mais uma homenagem. Ouvir as pessoas falarem do que ele representou para o bairro e para Fortaleza, relembrando sua luta por melhores condições de vida para os mais humildes, sua luta em defesa da democracia, na defesa do meio ambiente, enfim de uma sociedade mais justa e igualitária, deixou-me muito feliz. Partir deixando um purrilhão de amigos é partir com tranqüilidade.

Mas como todo ser humano, Enéas partiu deixando também um punhado de inimigos, pessoas que continuam trafegando na contramão da estrada da liberdade, da igualdade e da fraternidade; pessoas que não respeitam o meio ambiente que ele tão bem soube defender; pessoas egoístas, racistas e preconceituosas que ele tanto combateu;  pessoas que mentem para continuar tirar proveito pessoal em detrimento das demais. Essas pessoas vibraram com a partida do Enéas, mas continuam incomodadas com as sementes que ele plantou e que já frutificam.

Se não tivesse partido, com certeza Enéas estaria conosco denunciando e procurando desmascarar as forças conservadoras e reacionárias que dominaram este País durante 502 anos, e que a todo custo tentam retornar ao governo central para dar continuidade às mazelas que tanto infelicitaram nosso povo e deixaram o Brasil mais pobre e dependente. Com certeza Enéas estaria condenando a grande imprensa pelo antijornalismo que pratica. A volta do escândalo de Furnas – lista de 156 nomes principalmente de tucanos e pefelistas que se locupletaram de mais de R$ 40 milhões para o caixa dois da campanha eleitoral de 2002 – que a revista CartaCapital trouxe esta semana dedicando a capa e quatro páginas mostrando a sua autenticidade, e que as demais simplesmente omitiram ou deram uma notinha num canto de página par, certamente estaria sendo debatida no Dias Macedo para que todos tomassem conhecimento.

Enéas Arruda está fazendo muita falta, mas é muito bom saber que as sementes por ele plantadas estão dando bons frutos. Valeu, Enéas!