Em artigo, Selma Balbino, da CUT, pede assistência à Varig

A defesa da Varig e, conseqüentemente, do Brasil foi proposta, em artigo, por Selma Balbino, presidente do Sindicato Nacional dos Aeroviários e secretária-geral da Federação Nacional dos Trabalhadores em Aviação Civi


Pela Varig, pelo Brasil

Defender a Varig não é corporativismo; é patriotismo. Lutamos por nossos empregos, mas acima de tudo pelo que a Varig representa para o Brasil. Na sua história pioneira, interligou o país de norte a sul, voou para todos os continentes, sempre levando nossa bandeira em suas aeronaves. Com uma marca forte e tamanho de uma empresa internacional, tem condições de competir páreo a páreo com as maiores empresas do setor no mundo, podendo ampliar os atuais US$ 1,5 bilhão que gera em divisas para o país.

O setor aéreo é estratégico. Ter empresas nacionais fortes, capazes de acompanhar o desenvolvimento econômico de uma nação é considerado de grande importância para os governos dos países do mundo afora.

Se por um lado, a demanda de passageiros poderia ser suprida pelas outras companhias, por outro, a companhia que já representou sozinha mais de 50% dos vôos internacionais no Brasil não poderia transferir tudo que constituiu em sua relação com os demais países, nestes quase oitenta anos, para as demais empresas brasileiras. Ou seja, as viagens internacionais e todas as divisas que gera, os slots (espaços de tempo) nos aeroportos internacionais, os horários etc. seriam perdidos pelo Brasil, e não só pela Varig, seriam assimilados pelas empresas estrangeiras. E lá se vai nossa soberania como nação.

Infelizmente, o setor aéreo não foi pensado com seriedade pelos governos federais. Apesar da criação da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil), uma luta de mais de 20 anos do movimento sindical, os governos não formularam políticas à altura do que necessita o setor, seus trabalhadores e o povo brasileiro. O resultado é o que estamos vendo hoje. A derrocada da Transbrasil, a intervenção em uma Vasp falida, a liquidação do Aerus, o não pagamento dos aposentados e pensionistas do Aeros, a gravíssima crise da Varig, sem contar a série de outras pequenas e médias empresas nacionais do setor que fecharam suas portas. Além disso, sofremos paulatinamente com a precarização do trabalho, as terceirizações desenfreadas, o não cumprimento dos direitos trabalhistas.

A ação do governo, entretanto, é fundamental para qualquer hipótese de salvação da Varig, através do BNDES, da renegociação com os fornecedores estatais, da credibilidade que empresta neste momento para que a empresa possa ser recuperada. Mas esperávamos mais dos governos, através de políticas de verdade, que reorganizassem a fundo todo o setor, tornando-o mais estável e sadio, através da construção de um marco regulatório, da redução dos impostos e taxas, aproximando-os dos cobrados por outros países, e da redução do valor do combustível de aviação, que representa um percentual altíssimo nos custos das companhias aéreas. Assim como a efetivação das medidas do Conac (Conselho Nacional de Aviação Civil), que em sua maioria não saíram do papel.

Se a Varig fechar, boa parte da conta do passivo da empresa acabará sendo paga pelo contribuinte. Na medida em que mais da metade de sua dívida é com o governo federal e estatais, isto denota a importância do Executivo ajudar a companhia a se recuperar para rever seus créditos. E, acima de tudo, a população apóia a Varig, os formadores de opinião, os empresários, não só os trabalhadores, todos cobram ações de governo para que a empresa continue voando. Porque ela é viável e importante. A Varig é uma paixão nacional. O povo brasileiro, em sua maioria, nunca usou um avião e, mesmo assim, vê a companhia como um patrimônio do Brasil.

Uma solução de mercado não irá recuperar a Varig. Ao contrário, a concorrência irá engolir a companhia, como está acontecendo. Em todo o mundo, as companhias aéreas foram socorridas por seus governos, devido a crise causada após os atentados terroristas e as epidemais. Aqui, afora essas dificuldades, há ainda as perdas acumuladas com a imposição das tarifas promovida nos governos Sarney e Collor. Se os governos e os estados tivessem pago o que devem à Varig, os mais de R$ 5 bilhões em ações que a companhia já venceu na Justiça, ela já teria reerguido-se. Sobre isso, entretanto, há apenas um silêncio institucional. O encontro de contas salvaria a Varig.

Somos cerca de onze mil trabalhadores, entre aeroviários e aeronautas, atuando na Varig. Não queremos apenas salários dignos. Queremos um setor aéreo sadio, gerador de emprego e renda, mas também de serviços acessíveis e de qualidade para a população. Defendemos a soberania do Brasil no setor, essas aeronaves brasileiras com a marca e o nome de nosso país nas principais rotas do mundo, como tem sido nesses 79 anos de Varig.

Selma Balbino