Ceará: chapa de Cid Gomes ainda negocia candidato ao Senado

Do jornal O Povo (CE)

Sem anunciar candidato ao Senado, a candidatura de Cid Gomes (PSB) ao governo do Ceará foi oficializada ontem (25), tendo Lula e a administração de Sobral como principais trunfos do discur

A falta de acordo sobre o Senado quase acaba em confronto no voto. O PHS ameaçou, caso o PCdoB insistisse em lançar ontem a candidatura de Inácio Arruda ao Senado, apresentar o nome de Eunício Oliveira (PMDB) para disputar o cargo, o que forçaria o embate para ver quem tinha mais eleitores na convenção. O PCdoB, que havia confeccionado cédulas de votação que mencionava o nome de Inácio como candidato ao Senado, acabou recuando.

Sem resolver a principal pendência e com a chapa já decidida desde abril, a estrela maior da convenção acabou sendo Luiz Inácio Lula da Silva, presente em gigantescos banners na entrada da quadra do colégio Capital/Evolutivo, onde ocorreu a convenção, além de dezenas de faixas. Os símbolos em torno de Lula pairavam sobre a convenção, a começar pela nova música de campanha, que era executada nos intervalos entre todos os 16 discursos.

Coube a Ciro Gomes, irmão de Cid, o papel de abrir a convenção, batendo na candidatura do PSDB à Presidência, a quem chamou de "gente do passado". Espécie de versão atualizada da crítica às "forças do atraso" que marcaram a primeira eleição de Tasso Jereissati (PSDB) em 1986. Ex-ministro da Integração Nacional, ele fez questão de vincular os tucanos cearenses à candidatura de Geraldo Alckmin. "Nós vamos lutar contra a prepotência, contra o poder do dinheiro, contra as forças que, de fora para dentro, vindo daqueles que querem dar para trás o Brasil, os eleitores do ex-governador de São Paulo", disse o candidato a deputado federal.

Apesar de defender a manutenção dos princípios do mudancismo, o ex-ministro ressaltou a importância de abrir espaço para uma nova geração, numa alfinetada indireta no adversário Lúcio Alcântara. "Guiado pelos mesmos princípios, eu peço ao povo do Ceará a oportunidade para que uma nova geração de homens e mulheres que a nossa democracia produziu possam fazer uma rodada importante de mudanças que o nosso estado está precisando. Não seremos nós, os mais velhos, que vamos ter as energias para fazer".

O próprio Cid ressaltou o fato de ser o candidato de Lula no Ceará como o principal trunfo de sua candidatura. "As pessoas me perguntam se sou o candidato do presidente Lula, como quem diz que, se não for, pode botar a viola no saco, porque aqui não tem espaço para quem não for da caravana do presidente Lula", disse o candidato.

A Prefeitura de Sobral, comandada por Cid por oito anos, foi um dos pilares do discurso da oposição. A senadora Patrícia Saboya (PSB) e o candidato a vice, Francisco Pinheiro (PT), referiram-se à gestão de Cid como uma "revolução" na cidade. A prefeita de Fortaleza, Luizianne Lins (PT), disse que o candidato "deu um show de competência" na época em que era prefeito.

Outro eixo do discurso de Cid foi a renovação. Apesar de reconhecer os avanços do Ceará entre as décadas de 80 e 90, ele voltou à metáfora do carro que não sai da primeira marcha, e cobrou: "O Ceará precisa de sangue novo, mais coragem, mais ousadia".

Cid mencionou ainda a dificuldade de enfrentar a máquina estadual. "Nós teremos que enfrentar uma estrutura que comanda o poder e que tem a caneta na mão".

Raio-X

Candidato: Cid Gomes (PSB)
Vice: Francisco Pinheiro (PT)
Senado: ainda indefinido. Disputam o posto Inácio Arruda (PCdoB) e Eunício Oliveira (PMDB)
Coligação: PSB, PT, PCdoB, PP, PV, PHS, PMDB e PMN. Tem o apoio informal de Prona e PSL.

Ponto alto
É o candidato do presidente Lula no Ceará e conseguiu reunir uma ampla frente partidária. Terá o maior tempo no programa de rádio e televisão. No maior colégio eleitoral do Estado, em Fortaleza, tem apoio da prefeita Luizianne Lins (PT) 

Ponto baixo 
A coligação enfrenta uma divisão que já se arrasta há meses. A disputa interna corre o risco de deixar seqüelas. Terá ainda o desafio de se apresentar como candidato de oposição a um projeto de poder que apoiou por 19 anos

Bastidores

Adotando a linha "Cid paz e amor", o candidato afirmou: "Da minha boca não se vai ouvir nenhum xingamento, nenhuma agressão. Eu não quero para os outros aquilo que eu vejo que o presidente Lula hoje está sofrendo, na falta de propostas". Mas ressaltou duas vezes o fato de que os ataques não sairiam "da minha boca".

Com uma aliança pra lá de eclética, Cid disse que a coligação foi feita com critério. "Eu não quero ajuntar partido como quem ajunta um magote de bode pra fazer número e ir mostrar na feira".

Exaltando a nova geração da política, Ciro Gomes elogiou Luizianne Lins, "que pelo seu valor botou a velharia toda no bolso, inclusive eu", disse, em referência à falta de apoio à prefeita na eleição municipal de 2004.

Fonte:
jornal O Povo