Funcionários de prisões paulistas denunciam “quadro caótico”

“Toda vez que entramos para trabalhar, caminhamos para a morte. A secretaria não faz nada, os agentes continuam sendo desrespeitados pelos presos, e o sistema continua nas mãos deles.” A denúncia, em tom de desespero, &eacu

Com penitenciárias abarrotadas, os motins se tornaram freqüentes nos últimos anos, culminando, no começo do mês passado, com a maior crise de insegurança já vista em São Paulo. No começo de maio, 74 unidades prisionais foram tomadas pelos detentos e, durante mais de uma semana, as ruas da capital paulista não eram seguras nem mesmo para policiais e bombeiros. Houve centenas de mortos, dezenas de ônibus incendiados, delegacias foram atacadas e penitenciárias depredadas por facções criminosas. O crime imperou, e a cidade que “não pode parar” parou no dia em que um toque de recolher (verídico ou inverídico) foi passado de boca em boca.

Cícero resumiu o sentimento geral: “Quando o Estado se ausenta, é isso que acontece”. Fruto de um processo de sucateamento do aparelho do Estado, sustentado pela ideologia do “Estado mínimo”, a crise no sistema prisional paulista e a subseqüente rendição do governo do Estado à bandidagem continuam a ameaçar a segurança da população.

Nova escalada
No último final de semana os presos de oito unidades iniciaram novas rebeliões. No Centro de Detenção Provisória de São Bernardo do Campo, com capacidade para abrigar 496 pessoas, os 1.543 detentos queimaram colchões e danificaram as instalações elétricas e telefônica e mantiveram dois agentes penitenciários reféns.

Além de São Bernardo, a penitenciária de Parelheiros, na capital, as de Suzano e de Franco da Rocha, na região metropolitana, e a de São Carlos, no interior do Estado, também foram tomadas pelos presos. Nesta última, o motim só terminou às 9h30 de domingo com a liberação do agente penitenciário que era mantido refém.

Itirapina e Mirandópolis também foram destruídas pelos detentos no final de semana passado e, na sexta-feira, os presidiários da unidade de Araraquara tomaram de assalto até o setor administrativo. Em Itirapina, uma unidade com capacidade para 852 pessoas, mas que abriga 1.363 presos, um detento foi morto e três agentes penitenciários foram mantidos reféns. Em Araraquara, os bandidos fizeram dez reféns durante o motim. Entre eles o médico Ubirajara Caldas, que afirmou, depois de liberto, que os detentos ameaçavam todos com estiletes no pescoço.

Das dezenas de cadeias destruídas desde o começo do mês, apenas duas estão em condições de abrigar os presos e os funcionários — a de Sertãozinho e a de Jaboticabal, reformadas pelas prefeituras com a ajuda da força policial. “A secretaria (de Administração Penitenciária) obriga a gente a trabalhar, mas não oferece condições. Não há a menor segurança. Isso resume tudo: a situação continua caótica”, denunciou Cícero Sarnei.

Mais compromisso
“O nosso objetivo é conseguir do governo o compromisso para as melhorias mínimas de condições de trabalho: abertura de novas vagas no sistema, aumento do quadro funcional, que não tem acompanhado o crescimento da massa carcerária, e a separação dos presos por periculosidade. Essas são as nossas prioridades, as quais estamos cobrando do governo estadual e federal, do Poder Legislativo e do Judiciário. Caso isso não ocorra, não vamos debelar essas facções criminosas”, ressaltou o presidente do Sindasp.

Segundo ele, “o que aconteceu em São Paulo foi uma resposta à hipocrisia. O governo ia na imprensa, dizia que estava tudo bem, que estava tudo certo. Isso mostra a irresponsabilidade e a vulnerabilidade da gestão”.