Ilimar Franco: 'PT deve eleger entre 85 e 90 deputados'

O comentarista político do jornal O Globo, Ilimar Franco, publicou há dez dias em seu blog uma 'previsão' sobre o desempenho dos partidos nas eleiões de 2006. O jornalista discorda das previsões

Aí vão: minhas previsões eleitorais


 


Ao contrário do que estão prevendo o Diap e a Arko-Advice não aposto num enfraquecimento parlamentar do PT em decorrência da crise política e do escândalo do mensalão. Minha avaliação pessoal é de que serão mais afetados por esses dois fatores os partidos médios (PTB, PL e PP). Avalio também que o PMDB será o maior partido na Câmara. A seguir explico minhas previsões:


 


1. Pela primeira vez os candidatos do PT à Câmara vão concorrer a uma eleição tendo ao seu lado a máquina do governo federal. Isso representa muito numa eleição proporcional. Em 1986 com o senador José Sarney (PMDB-AP) na presidência da República e o Plano Cruzado na algibeira, o PMDB obteve 47,8% dos votos para a Câmara. Em 1998 com o presidente Fernando Henrique Cardoso concorrendo à reeleição o PSDB obteve 17,5% dos votos para a Câmara. Por isso, não creio numa redução da bancada petista. O PT tem como meta eleger 86 deputados. Isso é mais do que os 81 atuais e menos que os 91 eleitos em 2002. Por isso, acho razoável supor que o PT vai eleger uma bancada entre 85 e 90 deputados. Os petistas vão sofrer em São Paulo e Minas Gerais, mas devem aumentar suas bancadas nos estados do Nordeste.


 


2. Vale a pena ler no site www.vermelho.org.br uma análise de Bernardo Joffily sobre a votação dos partidos desde às eleições de 1986 (http://www.vermelho.org.br/base.asp?texto=4898). Basicamente ele divide a atual política brasileira em três campos: a esquerda (PT, PSB e PCdoB), a direita (PSDB, PFL e PPS) e o centro (PMDB, PL, PTB, PP e PDT). O texto mostra que a esquerda evoluiu de 8,5% dos votos em 1986 para 25,9% dos votos em 2002; a direita saiu de 18,6% em 1986, foi para 36,1% em 1998 e caiu para 30,8% dos votos em 2002; e, o centro caiu de 70,4% em 1986 para 35,2% em 2002.


 


3. A publicação 'Carta Congresso' (www.cartacongresso.com.br) informa sobre essa questão: 'Os dados disponíveis apontam que a bancada de deputados do PT ficará entre 90 (o mesmo número de eleitos nas eleições de 2002) e 100 deputados. A bancada petista no Nordeste vai crescer nas eleições de outubro. Em 2002, o PT conquistou 12% das cadeiras no Nordeste, elegendo 17 de um total de 141 deputados. Nas regiões Norte e Centro-Oeste também haverá um ligeiro crescimento. Em 2002, o PT conquistou 15,8% das cadeiras no Norte, 10 de 63 deputados, e 19,5% no Centro-Oeste, 8 de 41 deputados. Os avanços nestas regiões vão compensar, com sobras, eventuais perdas nas regiões Sul e Sudeste. No Sul em 2002 o PT conquistou 24,6% das cadeiras, elegendo 19 de 77 deputados, e no Sudeste obteve 20,6% das cadeiras, 37 de 179 deputados. Os petistas vão perder vagas em Minas Gerais, onde elegeram 11 em 2002, em decorrência da coligação com o PMDB, e podem perder duas vagas em São Paulo e duas no Rio de Janeiro. No Sul podem ocorrer perdas no Paraná, duas, e em Santa Catarina, uma'.


 


4. O PMDB vai ampliar sua bancada na Câmara. O partido elegeu 75 deputados em 2002 e pode eleger agora entre 90 e 100 deputados. Mas o PMDB ficará ainda maior na Câmara, pois entre a eleição (outubro de 2006) e a posse (fevereiro de 2007), haverá um intensa migração e reorganização partidária envolvendo cerca de uma centena de deputados. O PMDB pode chegar a ter uma bancada de 120 deputados.


 


5. O PP, o PTB e o PL vão eleger menos deputados em outubro e depois ainda vão perder parcela de suas bancadas. Em 2002 esses três partidos elegeram 101 deputados. Essa performace não se repetirá. As perdas desses partidos vão beneficiar o PMDB com a migração partidária. Como o PMDB participará do governo federal, independente de quem for eleito, a tendência será seu fortalecimento no caso de prevalecer a tendência principal: a da reeleição do presidente Lula.


 


6. O PTB, que fez 4,6% dos votos para a Câmara em 2002, não deve atingir a cláusula de desempenho de 5%. Os trabalhistas estão na descendente, tinham feito 5,7% dos votos em 1998. O PL fez 4,3% dos votos em 2002 quando José Alencar, vice-presidente, era do partido. Também não vai chegar aos 5%. O PP também teve uma queda de sua votação de 1998 (11,3%) para 2002 (7,8%). Esse partido pode atingir os 5% de votos, mas depende da performace de Paulo Maluf, candidato a deputado em São Paulo.


 


7. O PSDB e o PFL também vão faturar o debaclê do PTB, do PL e do PP. O PFL elegeu 84 deputados em 2002 e o PSDB 75. Ambos devem manter, e até crescer um pouco) suas atuais bancadas. Mas nada indica que sustentarão estas bancadas se o presidente Lula for reeleito. Se isso ocorrer (a reeleição), a exemplo de 2002, entre a eleição e a posse os dois partidos perderão deputados. Nas eleições passadas entre a eleição e a posse o PFL perdeu oito e o PSDB sete. No caso de êxito do candidato Geraldo Alckmin os dois partidos vão crescer recebendo adesões de integrantes destes partidos médios e até de eleitos pelo PMDB.


 


8. Os partidos de esquerda, o PSB, o PDT, o PPS e o PCdoB, devem ter um crescimento moderado. O PSB que elegeu 28 em 2002 pode chegar a 35 deputados. Os socialistas que fizeram 5,3% dos votos para a Câmara em 2002 querem manter-se acima dos 5% e lançaram o ex-ministro Ciro Gomes para deputado no Ceará justamente para puxar votos. O PDT, que fez 17 em 2002, pode chegar a 22 deputados embalado pela candidatura à Presidência da República do senador Cristovam Buarque (DF). Mas nada indica que esse partido fará os 5% da cláusula de desempenho. A votação do partido para a Câmara é decadente: 10% em 1990, 7,1% em 1994, 5,7% em 1998 e 5,1% em 2002. O PCdoB, que elegeu 12 em 2002, pode chegar a 15 deputados mas não atingirá a cláusula. O PPS elegeu 21 deputados em 2002 e corre o risco de sair menor das urnas. Esse partido estava acabando e ressurgiu das cinzas com as candidaturas de Ciro Gomes à presidência da República em 1998 (1,3% dos votos para a Câmara) e em 2002 (3,1% dos votos). A situação é tão ruim para os ex-comunistas que seu presidente, o deputado Roberto Freire (PE), se refugiou numa candidatura de suplente do candidato do PMDB ao Senado, Jarbas Vasconcelos. Sem Ciro ninguém sabe o que vai acontecer.


 


9. É difícil avaliar PV e PSOL. Nenhum deles faz os 5% da cláusula de desempenho. O PV pode até repetir sua bancada de seis deputados. Mas o PSOL certamente não manterá sua bancada de sete deputados.


 


10. Nas eleições presidenciais vou dispensar explicações para meu palpite. As pesquisas de intenções de voto e as avaliações de cientistas políticos como Marcos Coimbra, da Vox Populi, e Ricardo Guedes, da Sensus, tornam excessiva novas ou outras tentativas de avaliação. Tudo indica que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva será reeleito. Tudo indica que isso vai ocorrer no primeiro turno. Como diz o ex-líder do governo Fernando Henrique Cardoso na Câmara, deputado Arnaldo Madeira (PSDB-SP): 'A verdade é que o mandato presidencial no Brasil é de 8 anos, com um referendo no meio. Um presidente só perde a eleição se seu primeiro mandato foi um desastre. O normal é ele receber um aval para continuar seu mandato por mais quatro anos'. Se o governo Lula fosse extremamente ruim, a ponto de comprometer sua reeleição, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso não diria que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva cacareja sobre os ovos alheios.


Fonte: Blog do Ilimar