Reportagem: Banco de Desenvolvimento do Mercosul

Por Raúl Dellatorre, do jornal argentino Página 12
O projeto técnico foi elaborado durante três meses por técnicos argentinos e venezuelanos. Se capitalizaria com parte das reservas dos países-membro do bloco. O Brasil já t

O projeto técnico foi elaborado durante três meses por técnicos argentinos e venezuelanos. Ele se capitalizaria com parte das reservas dos países-membro do bloco. O Brasil já teria concordado. Dispensaria o FMI, o Banco Mundial e o BID como instrumentos de financiamento inevitáveis. Com a chegada de Chávez ontem à noite (19/7), começou a vinda de presidentes para a Cúpula do Mercosul em Còrdoba.



A capa do documento diz ''Banco de Desenvolvimento do Mercosul''. O subtítulo completa: ''Proposta técnica''. O documento viaja nesta quinta-feira até Córdoba nas mãos de Felisa Miceli, sua autora, que o levará para a consideração de seus pares do bloco regional. Mais do que uma proposta técnica, pode resultar em uma ''bomba política''.



Utopia?



Há um ano, a idéia era considerada por seus críticos como ''um projeto utópico a mais do pitoresco presidente da Venezuela''. Mas, desde então, a idéia foi ganhando forma ao passo em que recebia o respaldo de diferentes governos. Lula deu o OK para que a Venezuela avanaçasse no desenvolvimento da idéia. A Argentina também aderiu e há pouco mais de três meses seus técnicos trabalham junto aos venezuelanos para dar forma a idéia. Durante o caminho, Brasil e Argentina cancelaram suas dívidas com o FMI. Agora surge o projeto que procura trazer independência aos países do bloco atados aos organismos internacionais.



É quase uma heresia para os centros financeiros ocidentais. Mas o Banco do Sul, rebatizado, e com a já referida pasta contendo a proposta de capitalização e seus objetivos em matéria de financiamento e fortalecimento da região, estará daqui a algumas horas nas mãos dos ministros da Fazenda e Economia da região.



Independência financeira



A proposta organizada nos despachos do Ministério da Economia recorre à idéia original de Hugo Chávez. Isto é, criar um banco regional que sirva como instrumento de financiamento do desenvolvimento dos países do Mercosul, livrando-se assim da dependência gerada pelo endividamento externo.



O esquema de capitalização se baseia em constituir um capital inicial com parte das receitas internacionais que hoje os países da região têm depositados em organismos internacionaos ou em bancos dos países desenvolvidos. ''Não custa nada para a Venezuela fazer um acordo para trazer essas reservas, ao invés de tê-las todas em bancos da Europa ou da América do Norte'', já havia dito Hugo Chávez no final de 2005, assegurando inclusive que seu país poderia comprometer inicialmente cerca de US$ 5 bilhões de suas reservas.



A primeira proposta formal de criação do banco foi lançada por Chávez em janeiro, num encontro de presidentes da região realizada em Brasília. Logo a proposta foi aceita e a partir de março, em Caracas, passou a ser trabalhada sob aspectos técnicos, a mando de Felisa Miceli e Nelson Merentes (seu colega venezuelano).



O trabalho realizado desde então será visto no documento apresentado a partir de hoje em Córdoba. A reação que a proposta de um banco regional causará aos papas dos centros financeiros mundiais não pode ser outra que não seja negativa, pois vai contra seus interesses e pretende promover ''o avanço econômico e social da região e dar-lhe competitividade financeira''.