O dia em que Hollywood despachou e humilhou Tom Cruise

Constrangimento para Tom Cruise, um dos atores mais bem pagos de Hollywood. A distribuidora de filmes Paramount Pictures deixou de ser a financiadora da produtora do astro, acabando com um relacionamento de 14 anos com a Cruise/Wagner Productions.

O anúncio veio a público nesta quarta-feira (23/8), por meio do Wall Street Journal. “(Tom Cruise) é uma boa pessoa, mas não achamos apropriado renovar seu contrato”, declarou Sumner Redstone, presidente da Viacom, responsável pela Paramount. A causa do rompimento seria o comportamento pouco agradável mostrado por Cruise na mídia nos últimos meses.


 


Segundo declarações de Redstone, os sucessivos vexames do ator – incluindo sua propaganda pela cientologia e as denúncias contra antidepressivos – teriam ocasionado a rescisão. A empresa de filmes estaria convencida de que o comportamento de Cruise influenciou também no mau desempenho de seu último filme, Missão Impossível 3.


 


“Sua conduta recente não é aceitável para a Paramount”, destacou Redstone, um dos homens mais poderosos da mídia americana. Pela produtora, Tom Cruise participou de filmes como a saga Missão Impossível, Top Gun, Guerra dos Mundos e Colateral.


 


Esquisitices
Cruise, de 44 anos, foi criticado por sua atitude no verão passado (inverno no Brasil), quando começou a pular em um sofá em pleno programa da apresentadora de televisão Oprah Winfrey. Tudo para confessar seu amor pela namorada e mãe de sua primeira filha biológica, a jovem Katie Holmes. O ator, divorciado duas vezes e discreto até recentemente sobre a sua vida privada, se tornou motivo de brincadeiras após a declaração


 


Além disso, sua imagem foi afetada pela defesa, a todo custo, da Igreja da Cientologia, seita da qual participa. E também pelas críticas em público à atriz Brooke Shields, que, segundo o ator, necessitaria de ajuda psicológica para superar a depressão pós-parto.


 


Paula Wagner, sócia do ator na produtora, disse que Cruise decidiu ter seu “próprio negócio independente” da Paramount. A produtora de ambos seria financiada por fundos não-revelados. Paula ainda afirmou que Cruise rendeu altas cifras para a Paramount nos últimos anos.


 


Segundo o jornal especializado Variety – que publicou informações sobre o assunto em seu site na internet -, Paula classificou os comentários de Redstone como “ofensivos” e “indignos”, por se referirem a um ator três vezes indicado ao Oscar. “Quaisquer observações que o sr. Redstone teria a fazer sobre Tom Cruise pessoalmente ou como ator não guardam relação com esta questão, que diz respeito a negócios.”


 


A guerra de palavras entre Redstone e Paula caracterizou o fim amargo de uma das mais lucrativas alianças de produção entre um grande estúdio de Hollywood e um dos chamados astros de primeira linha. Cinco filmes estrelados por Cruise e co-produzidos por sua empresa já renderam à Paramount em bilheterias mais de 2 bilhões de dólares em todo o mundo, nos últimos dez anos.


 


De acordo com Paula Wagner, os filmes de Cruise foram responsáveis por aproximadamente 15% de toda a receita de bilheteria da Paramount durante esse período. A produtora afirmou ainda que foram ela e Cruise que optaram por deixar a Paramount e fundar um novo empreendimento financiado através de um fundo de 100 milhões de dólares.


 


Crise antiga
A Cruise/Wagner se associou à Paramount em 1992. Da união saíram os filmes Guerra dos Mundos e Missão Impossível 3, que não superou as expectativas econômicas. Para produzir este último filme, Cruise firmou um contrato que fez dele o ator mais bem pago de Hollywood, recebendo 30% da bilheteria líquida de cada novo filme.


 


O ator é considerado um dos maiores astros de Hollywood, embora seus últimos lançamentos não tenham apresentado o rendimento que se esperava. Na última década, seus lançamentos costumavam superar os US$ 200 milhões na bilheteria mundial. Este ano, ele liderou a lista dos mais poderosos em Hollywood elaborada pela revista Forbes.


 


Mas uma enquete do jornal USA Today, elaborada em maio deste ano, mostrou que Cruise perdeu 35% de popularidade por causa de seu comportamento público. A queda foi percebida sobretudo em Missão Impossível 3. Após exigir um investimento de US$ 150 milhões, o longa-metragem faturou apenas US$ 133 milhões no mercado americano – o faturamento no restante do mundo foi de US$ 259 milhões.


 


O fim do acordo entre Paramount e a companhia de produção Wagner/Cruise era esperado nos círculos de Hollywood. Já existiam boatos de que Redstone tinha antecipado seus planos a respeito. No mês passado, o Los Angeles Times informou que presidente da Paramount, Brad Grey, estaria em conversações com a Cruise/Wagner para reduzir o valor que o estúdio paga anualmente à produtora, de mais de US$ 10 milhões para 2 milhões.


 


Paula Wagner contestou essas cifras e disse que o fracasso das negociações com a Paramount não se deveu a divergências em relação a dinheiro, mas à oportunidade que apareceu para a produtora partir numa direção nova.