Admissão de prisões secretas da CIA gera protestos

A admissão do presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, de que a CIA (agência secreta americana) mantém prisões secretas fora do país foi recebida com críticas por políticos de oposição a Bush, em países europeus – alguns dos quais serviriam de base


Membros do Parlamento Europeu fizeram apelos para que os seus respectivos governos abram o jogo sobre as supostas prisões secretas mantidas pela CIA, a agência secreta americana, em seus territórios.


 


A existência dessas instalações foi admitida publicamente pela primeira vez na quarta-feira pelo presidente americano, George W. Bush.


 


O Parlamento Europeu havia montado uma espécie de CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) para apurar as denúncias, que surgiram no ano passado, e uma das deputadas à frente da investigação disse que as declarações de Bush faziam os governos europeus – que haviam negado a existência de tais instalações – parecerem ridículos.


 


No seu relatório preliminar, a 'CPI européia' já havia concluído ser “altamente implausível” que os governos europeus não soubessem das atividades da CIA em seus territórios.


 


Até quarta-feira, o governo americano havia admitido prender suspeitos de terrorismo em países europeus, mas negava a existência dos centros de detenção clandestinos.


 


Onde?


 


Parlamentares europeus também estão pressionando para que Bush revele a localização das prisões, segundo a agência de notícias Associated Press.


 


“A localização desses campos de prisioneiros precisa ser pública”, afirmou, de acordo com a AP, Wolfgang Kreissl-Doerfler, um dos parlamentares que investigam as denúncias. “Nós precisamos saber se houve alguma cumplicidade em atos ilegais por governos de países da União Européia ou de Estados que aspiram fazer parte da UE.”


 


No seu pronunciamento, Bush não revelou onde as ficavam as prisões secretas. Ele se limitou a dizer apenas que 14 suspeitos de “terrorismo” mantidos em prisões secretas da CIA seriam transferidos para a prisão de Guantánamo (Cuba), para eventual julgamento.


 


A investigação européia tem se concentrado na suposta existência desses centros clandestinos no Leste Europeu, mas até agora não encontrou provas conclusivas.


 


A admissão de Bush também foi mal recebida por líderes islâmicos e organizações humanitárias.


 


Asma Jehangir, da Comissão de Direitos Humanos do Paquistão, disse que os Estados Unidos devem se desculpar pela existência do programa e que ele deve ser encerrado imediatamente.


 


“Eles têm de admitir que o que eles fizeram foi errado”, disse Jehangir, segundo a AP.


 


A organização de defesa dos direitos humanos Human Rights Watch (HRW) também condenou as declarações de Bush “defendendo o abuso de prisioneiros suspeitos de terrorismo”.


 


Em um comunicado divulgado à imprensa pouco depois do discurso, a entidade diz que o presidente usou “eufemismos” para tentar justificar métodos de interrogação que incluem tratamento extremamente abusivo dos direitos humanos.


 


Kenneth Roth, diretor-executivo da HRW, acusou a CIA de usar tortura contra os prisioneiros. “Apesar de o presidente negar veementemente, os Estados Unidos já usaram métodos como a simulação de afogamento, que só podem ser chamados de tortura”, afirmou.


 


Dentro dos Estados Unidos, políticos do Partido Democrata, que faz oposição a Bush, criticaram o presidente pelo que alguns qualificaram de jogada política.


 


“Relações públicas e manipulação não vão tornar os Estados Unidos mais seguros e não vão melhorar as condições no Iraque. Nós precisamos de um novo rumo em vez de insistir no caminho errado”, disse o senador Robert Menendez, de acordo com a agência France Presse.


 


A exceção no tom das reações foi o governo australiano, que apoiou publicamente os Estados Unidos.


 


“Muita coisa foi atingida por esse tipo de programa”, disse o ministro de Relações Exteriores, Alexander Downer.


 


Bush defendeu que o programa da CIA são uma fonte de informação vital para importantes prisões.


 


Fonte: BBC Brail