Evo acusa EUA de forçar confronto entre Bolívia e Paraguai
O presidente da Bolívia, Evo Morales, acusou nesta segunda-feira (11/9) o governo dos Estados Unidos de tentar forçar um confronto entre seu país e o Paraguai, para evitar o fortalecimento militar boliviano com a ajuda da Venezuela.
Publicado 12/09/2006 09:20
Em entrevista coletiva concedida a correspondentes estrangeiros horas antes de iniciar uma viagem por Guatemala, Cuba e Estados Unidos, Morales também disse que não tem uma reunião marcada com o presidente George W. Bush, mas que, se este a solicitar, está disposto a conversar com ele para falar sobre direitos humanos.
O governante boliviano defendeu seu plano de construir um porto fluvial e uma base militar no curso alto do rio Paraguai, na fronteira com o Brasil, com a cooperação do governo venezuelano.
“Cada país tem o direito de fortalecer suas instituições”, ressaltou Morales, que acrescentou que a preocupação do Paraguai com esse projeto é resultado de “uma campanha do Governo dos Estados Unidos”.
Sem confrontos
Morales garantiu que não acontecerá o mesmo de 70 anos atrás, quando “interesses externos transnacionais confrontaram os dois países” na denominada Guerra do Chaco, região onde a Bolívia possui atualmente suas maiores reservas de gás natural.
“Agora não haverá isso. Gostariam que nos confrontemos, querem levar-nos a uma guerra, mas isso não acontecerá”, reparou.
Por um convênio com seu colega Hugo Chávez, os militares venezuelanos apoiarão a instalação de três grandes bases, duas na fronteira com o Brasil e uma perto do limite com o Peru, para ajudar o desenvolvimento econômico nacional, segundo Morales.
O governante voltou a destacar o respaldo recebido do Exército em seus quase oito meses de governo e sua decisão de contribuir no fortalecimento militar, já que está convencido que os quartéis têm apoio popular.
“Vamos fortalecer as Forças Armadas. É minha tarefa porque elas são a alma para garantir a soberania, defender o território nacional e para guardar a unidade do povo boliviano”, afirmou o governante.
Na ONU e na Noal
A respeito de sua próxima viagem por três nações do continente, o chefe de Estado confirmou que irá a Nova York para participar da Assembléia Geral das Nações Unidas.
Ele afirmou que não recebeu “nenhum pedido do presidente Bush” para se reunir na sede da ONU, mas acrescentou que “se ele pedir, eu faria com gosto, para falar verdades sobre direitos humanos e problemas sociais e econômicos”.
O presidente boliviano insinuou que a ocasião poderia servir para informar Bush sobre as razões que teve, como líder dos produtores de coca da Bolívia, para encabeçar protestos contra a erradicação dessa planta nas últimas duas décadas.
“Às vezes as agressões só geram revolta. Essa é minha experiência. É preciso conversar sobre algumas vivências. Pode servir a todos”, acrescentou em relação às diferenças que mantêm Bolívia e Estados Unidos sobre as plantações da folha de coca.
O governante também confirmou que exporá, na Cúpula dos Não-Alinhados (Noal), em Havana, a reivindicação boliviana de uma saída ao Pacífico, embora tenha expressado confiança quanto à negociação bilateral com o Chile.
“A Bolívia nunca renunciará a seu retorno ao mar, embora tenho muita confiança na bilateralidade” estabelecida este ano com sua colega chilena, Michelle Bachelet.