Argentina condena torturador à prisão perpétua
Personalidades e entidades argentinas de defesa dos direitos humanos congratulavam-se nesta quarta-feira (20) com a condenação à prisão perpétua do comissário Miguel Etchecolatz, um dos símbolos da ditadura militar de 1976-1983. A sentença, tida como hist
Publicado 20/09/2006 17:08
Etchecolatz foi julgado culpado de seis homicídios, repetidas privações ilegais de liberdade e tortura, durante a época em que o país viveu sob terrorismo de Estado. O Tribunal Oral federal nº 1 de La Plata considerou que se trata de crimes de lesa-humanidade, perpetrados nos marcos da ação genocida da ditadura.
Mil processos contra repressores
O julgamento aplicou pela primeira vez na Argentina a qualificação de genocídio para esta classe de violações dos direitos humanos. Mais de 30 mil pessoas desapareceram durante os sete anos de ditadura militar. O processo de Etchecolatz é um dos mais de mil abertos na Argentina contra agentes da ditadura.
Para o secretário de Direitos Humanos da Nação, Eduardo Luis Duhalde, o castigo do ex-diretor de Investigações da Polícia de Buenos Aires está de acordo com a lei. “A sentença está de acordo com os crimes que foram provados e creio que foi um processo exemplar, onde houve muitas provas e a sentença corresponde”, disse Duhalde.
“No Brasil não se chegou tão longe”
O governador de Buenos Aires, Felipe Solá, comentou as manifestações de alegria dos argentinos com a condenação. Disse que “a sociedade não festeja uma vingança, mas a chegada da justiça e a busca da verdade”. Ao seu ver, em nenhum país do mundo se chegou tão longe na busca da verdade e “na aplicação da lei contra esses assassinos”.
“Não se chegou tão longe em Nurenberg, Alemanha [onde foram julgados os criminosos nazistas], nem no Uruguai, nem no Brasil, onde houve ferozes repressões nos anos 60 e 70”, opinou o governador.
O subsecretário de Direitos Humanos da Argentina, Rodolfo Mattarolo, pediu ao condenado que forneça informação sobre outros homicídios cometidos durante os anos de chumbo.
Quebra do “circuito de impunidade”
Alejandro Mosquera, coorddnador do Comitê Contra a Tortura e secretário da Comissão Provincial pela Memória, opinou que a inclusão da figura de genocídio na sentença foi acertada. Para ele, a Justiça “quebrou um circuito de impunidade” existente na Argentina.
A presidente da Associação das Mães da Praça de Mayo, Hebe de Bonafini, elogiou o resultado mas lamentou que ainda permaneçam livres milhares de estupradores, torturadores e assassinos integrantes da Marinha, Exército e Aeronáutica. Mabel “Tati” Almeida, das Mães da Praça de Mayo-Linha Fundadora, disse que a condenação de Etchecolatz deve se converter na “ponta de um novelo que chegue a todos os repressores” da ditadura.