Empresa que disse ter grampos no TSE é desmascarada pela PF
O inquérito da Polícia Federal (PF) que investigou a suspeita de grampo em telefones de três ministros do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) – Marco Aurélio Mello, que preside o TSE, Cesar Peluzo, vice-presidente, e Marcelo Ribeiro, que julga infrações
Publicado 26/09/2006 13:19
Varreduras feitas tanto na parte interna quanto externa do TSE e do Supremo Tribunal Federal (STF) – do qual também fazem parte Marco Aurélio e Peluzo – e também na empresa responsável pelo serviço de telefonia não constataram grampo, ao contrário do relatório da empresa privada que presta serviços para o TSE. O laudo da perícia feita pelo Instituto Nacional de Criminalística (INC) já foi anexado ao inquérito.
Indagado sobre o resultado da investigação da PF, Marco Aurélio Mello preferiu não criticar a polícia, mas foi irônico ao comentar o caso. “Supomos o faz-de-conta. Faz-de-conta que nunca houve grampo algum”, declarou.
Apesar de evitar confronto, o presidente do TSE disse acreditar que os grampos foram retirados após a divulgação do episódio. “A polícia não está mentindo, é natural que não tenham encontrado nada. A partir do momento que a coisa aflorou, aqueles que colocaram o grampo correram e tiraram. [Eles] não iam deixar [o grampo] lá, inclusive com a possibilidade de que fossem encontradas impressões digitais”, disse.
Marco Aurélio defendeu a atuação da empresa contratada pelo tribunal – que constatou vestígios de grampos. “Não somos técnicos, não atuamos em cima de suspeita e, sim, em cima de três laudos de uma empresa idônea. Eles [a PF] não podem atestar que nunca houve grampo, pois essa ação não deixa vestígios”, complementou.
O presidente do TSE disse que não pretende iniciar nenhuma investigação paralela à feita pela PF. “Não sou parte das investigações, o que eu tinha que fazer já fiz – oficiar o procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, e a presidente do STF, ministra Ellen Gracie. Cumpri a minha parte”.
Empresa é a mesma que atuou para Serra
Mas tem uma parte desta história que o ministro está escondendo. O que Mello não comenta é que foi a empresa de um ex-agente do SNI e amigo de José Serra que agora trabalha para o TSE anti-Lula é que disse que havia grampos. A empresa já foi alvo de uma investigação por superfaturamento.
Trata-se da empresa Fence Consultoria Empresarial Ltda., que trabalhou para o ministério da saúde em 2002, durante a permanência de José Serra (PSDB) à frente da pasta. Esta empresa, indicada pelo delegado federal e amigo de Serra, Marcelo Itagiba, foi investigada na época por acusação de prestar serviços superfaturados ao Ministério da Saúde na gestão de José Serra.
Enquanto serviços de “varredura” custavam cerca de R$ 5 mil ao mês, a preço de mercado, a Fence tinha um contrato de R$ 1,8 milhão por ano com o MS de José Serra. Na época, a revista “Istoé” publicou uma reportagem sobre o grampeamento dos telefones da então governadora do Maranhão, Roseana Sarney, que vinha bem nas pesquisas eleitorais e era o principal obstáculo à ambição de José Serra a ser o candidato oficial a sucessão de Fernando Henrique Cardoso.
Foram levantadas suspeitas, na época, por parte da imprensa, de que a Fence teria grampeado os telefones da governadora. A sua pretensão presidencial foi esmagada pelo escândalo Lunus, onde fortíssimas suspeitas de uso político da Polícia Federal pelo seu principal adversário na coligação governista foram levantadas. É surpreendente que o mesmo TSE, cuja “imparcialidade” no processo eleitoral em curso (64 x 17 para Geraldo Alckmin em relação à Lula nos processos eleitorais, até agora) estarrece a Nação, contrate, dentre tanta empresas de segurança do mercado brasileiro, uma empresa com tantas interrogações em sua relação com o tucanato como a Fence. Somado aos outros fatos estarrecedores que vêm ocorrendo, a idéia de conspiração anti-Lula na reta final da campanha eleitoral ganha cada vez mais força.
Da redação